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24
Nov10

Da greve

Aqueles que acham que os jornalistas não deveriam poder fazer greve devem ser os mesmos que acham que os jornalistas não deveriam ter cor política. E, já agora, digo eu, também não deveriam ter religião nem clube nem sequer opinião sobre coisa nenhuma (ou só a política nos é interdita?). Não podia discordar mais. Os jornalistas são, ou pelo menos deveriam ser, pessoas informadas, cultas, inteligentes, ou seja, têm tudo para poder ter uma opinião esclarecida. E devem tê-la. E devem manifestá-la nos locais e momentos certos.
Falam-me da imparcialidade. Da objectividade. Como se fosse um bicho papão. A objectividade, meus caros, não é mais do que um instrumento - uma técnica que se usa para fazer notícias e que passa por coisas como ouvir as várias partes, não ser tendencioso, confirmar os factos, confirmar as bocas ditas em off, questionar os comunicados, pesquisar, fazer perguntas, duvidar, procurar provas, não copiar press releases, ter sentido crítico, partir para um trabalho sem preconceitos, ter curiosidade. A objectividade que eu uso para fazer notícias garante-me que estas não irão reflectir a minha opinião mas serão antes o resultado de um trabalho bem feito. E só isso. Se o jornalista fizer bem o seu trabalho, o facto de fazer ou não greve não tem nada a ver com aquilo que ele escreve no jornal sobre a greve ou sobre o governo ou sobre outra coisa qualquer. Uma coisa é o meu trabalho, outra é aquilo que eu sou e penso. E raios me partam se eu não sou muito mais do que aquilo que escrevo todos os dias em notícias de dois mil caracteres.

E não, não estou a defender a greve. Estou só a defender o direito à greve.

publicado às 22:23


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