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"A mãe engoliu em seco mas nem por isso a voz lhe saiu melhor, foi uma prenda do meu marido. Cara senhora, diz o velho pacientemente, eu compro ao peso, não pago os feitios das peças nem o valor estimativo. A mãe torce as mãos, perdemos tudo, tenho dois filhos, este e uma rapariga que acaba este ano o liceu, o senhor deve saber a dor que é não podermos cuidar dos nossos, só nos deixaram trazar cinco contos por pessoa, já cá estamos há muitos meses, o dinheiro está a acabar, o senhor sabe que ninguém pode viver sem dinheiro e não consigo arranjar trabalho, ou não há ou não mo dão, o meu marido trabalhou a vida inteira, não tivemos culpa. O velho interrompe a mãe, cara senhora, sou só o homem com uma balança, só sei pesar o que a balança pesa, peço desculpa."
Esta semana, por causa de coisas de trabalho, voltei a 'O Retorno', de Dulce Maria Cardoso. Trabalhar assim é um prazer.