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Tudo começa com o casting. O mesmo texto dito por actores diferentes, com emoções diferentes, transforma-se num outro texto. Esse é um dos (super) poderes dos actores. Mas há mais. O de viverem vidas que não são a sua. E mortes também. E de nos mostrarem sentimentos que de outra forma desconheceríamos. O de improvisar. O de fazer o mesmo, todas as noites, sempre igual e sempre diferente. O de rir quando é para rir. E de chorar quando é para chorar. O de mudar de personagem como quem muda de camisa, de manhã, à tarde e à noite, uma pessoa diferente a cada hora, com um outro passado, uma maneira de andar, uma voz, uma intenção. Os actores são atletas emocionais, diz-se a certa altura. E, tal como os outros atletas, têm de treinar uma e outra vez, para se apresentarem em forma no momento da competição. Dando a ilusão que é fácil numa ginástica de que, tantas vezes, nos esquecemos (se eles forem bons, diria, se eles forem mesmo bons, não nos mostram o seu verdadeiro eu, não nos deixam perceber o que por ali vai, as dores que sentem no corpo e na alma, as suas dores tão bem escondidas que às vezes até eles próprios as esquecem).
Os actores têm ainda mais um poder que eu - pessoa que só obrigada se coloca perante uma audiência e, ainda assim, com suores frios, dores de barriga e voz tremida - admiro imenso, que é essa capacidade de darem o corpo às balas, de se exporem perante o público, seja uma sala esgotada ou uma plateia vazia, sem medo do ridículo, sabendo que estarão permanentemente a ser julgados. E ainda bem que o fazem porque só assim podem tocar os que estão sentados no escuro, mesmo à sua frente.
É de tudo isto que fala Actores, o espectáculo absolutamente fantástico que Marco Martins criou (e encena e realiza e interpreta) com os actores Nuno Lopes, Bruno Nogueira, Miguel Guilherme, Rita Cabaço, Luísa Cruz e Carolina Amaral.
Não é para termos pena deles. É para os admirarmos (ainda mais).
Um espectáculo com tudo no sítio - os excertos escolhidos dos espectáculos em que estes actores participaram, os enquadramentos da câmara, os momentos de riso e os momentos mais sérios, a voz do encenador que interrompe (mesmo) quando acha que é necessário repetir, as histórias que são ou não verdadeiras e tanto faz, as interpretações dos actores que fazem de actores. E, quando achávamos que já nada nos poderia surpreender, aquele final.
Esta música. E nós, deleitados, a vê-los.
"Everybody's gotta live
And everybody's gunna die
Everybody's gotta live
I think you know the reason why"
Love, Everybody's Gotta Live