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Moonlight, de Barry Jenkins, que ganhou o Óscar de Melhor Filme, é um belíssimo filme sobre o azar de morar no bairro errado da vida, sobre os putos estúpidos do liceu, sobre bullying e sobre os efeitos da droga na vida das pessoas. Impressionou-me pela beleza (a cena em que o miúdo aprende a nadar é linda, linda) e pela serenidade com que conta uma história tão dura: a de Chiron, um miúdo que cresce num bairro social de Miami, rodeado de droga, vítima da intolerância e da violência dos colegas, à procura de si mesmo e a desobrir-se homossexual. É a história de um miúdo que se sente diferente e que aprende desde muito cedo que é melhor ficar calado para se manter longe de confusões (e mesmo assim...) e que não pode confiar em ninguém. Mas é também uma história de amor. 

O argumentista Tarell Alvin McCraney partiu da sua própria experiência para escrever esta história (embora, ao contrário do protagonista, ele não se tenha tornado dealer). Os três actores que interpretam o papel de Chiron nas várias fases da sua vida são óptimos, todos. A contenção, os silêncios, aqueles olhares. É, de facto, um filme que me tocou sem nunca recorrer ao sentimentalismo fácil. 

Gostei que Moonlight tivesse ganho o Óscar porque era o meu favorito, embora ache que teria ficado igualmente bem entregue se fosse para Manchester by the Sea ou La La Land. Este era o meu pódio. São filmes muito diferentes mas cada um deles, à sua maneira, é um bom filme  - e é possível gostar-se de Moonlight e de La La Land, cá estou eu para prová-lo, não embarco nada nesses discursos anti ou pró. Um não exclui o outro, pelo contrário, ainda bem que existem filmes assim, que nos falam de maneira diferente, que nos levam para sítios diferentes.

Manchester By the Sea, de Kenneth Lonnergan, atravessa-nos com a sua tristeza. O filme acaba e continuamos a sentir aquele peso da culpa sobre nós. Tal e qual como o protagonista, Lee Chandler (o actor oscarizado Casey Affleck), que fica paralisado pela culpa, incapaz de se relacionar emocionalmente com outras pessoas, com raiva de si mesmo e com medo de voltar a falhar e a magoar os outros. É um daqueles murros no estômago em forma de cinema de que gosto tanto.

De La La Land, de Damien Chazelle, gostei logo desde a primeira e fabulosa cena do engarrafamento de trânsito (filmada sem cortes, de maneira incrível). Está ali logo tudo explicado que é para a malta não ficar à espera de realismo nenhum. E gostei de tudo. Das roupas coloridas, de se ouvir o Take On Me, do poster da Ingrid Bergman no quarto de Mia, das discussões sobre jazz, do sapateado, das mil e uma referências aos musicais que vimos nas sessões de cinema na televisão aos domingos à tarde. Da fantasia, que tanta falta nos faz. Daquele momento mágico em que as mãos se tocam no cinema (quem nunca sentiu aquele arrepio na barriga num momento assim?). Da viagem pela história do cinema com uma só canção. E de os finais poderem ser felizes mesmo quando não são "finais à filme". É um filme que só na aparência é feliz e despreocupado (não sou grande fã da Emma Stone, mas ela até está bem).

Logo a seguir nas minhas preferências vinha Hell or High Water, de David Mackenzie, um filme de que se falou pouco ultimamente mas de que gostei mesmo muito. Foi uma completa surpresa. Um mergulho no faróeste, onde os cowboys do século XXI usam as armas à cintura, tal e qual como nos westerns, e não hesitam em sacá-las, onde há poços de petróleo e rangers à antiga (grande, grande Jeff Bridges), dinners deprimentes e bancos (usurários, odiados) que estão ali mesmo, no meio de nenhures, a pedirem para serem assaltados. A terra onde (sabemo-lo desde novembro) nem sempre os bons ganham: isto é a América. profunda. pobre. de gatilho rápido. Ao som de Nick Cave.

Noutro campeonato, claramente abaixo, gostei muito do Lion, de Garth Davis, e chorei que nem uma madalena arrependida com a história do miúdo que se perde da família na Índia dos anos 80 e acaba por ser entregue para adopção a uma família australiana (e achei o Dev Patel óptimo, em vários sentidos). Vedações, de Denzel Washington, baseia-se na excelente peça de teatro de August Wilson e tem interpretações extraordinárias de Denzel Washington e Viola Davis (qual atriz secundária, qual quê, para mim era Óscar de Melhor Atriz e pronto). É um filme de pessoas e palavras, como ela disse. Bom, sem dúvida, mas, ainda assim, é uma peça de teatro filmada. E, tal como Elementos Secretos, não achei que fosse material para Óscar. Este, sobre três mulheres negras que trabalharam na NASA em 1961, numa América segregacionista, é baseado em histórias reais e fala de assuntos muito sérios (e tão actuais) como o racismo ou a discriminação das mulheres, mas, sinceramente, não me pareceu mais do que um filmezinho simpático.

Com O Herói de Hacksaw Ridge, de Mel Gibson, tive uma relação complicada. Gostei da história (também real) do soldado Doss, objetor de consciência, que foi para a Segunda Guerra Mundial recusando-se a pegar numa arma. Mas há qualquer coisa de pornográfico no modo como Gibson filma as batalhas, com sangue a espirrar e estropiados por todo o lado, e uma musiquinha épica sempre como pano de fundo. Para mim foi too much, mesmo reconhecendo que o filme tem qualidades. E, por último, O Primeiro Encontro, de Dennis Villeneuve, que, definitivamente, não é o meu pedaço de bolo. De uma maneira geral não gosto de ficção científica nem de filmes com seres sobrenaturais e este Arrival não me fez mudar de opinião. Vi-o há pouco mais de duas semanas e, agora que penso nisso, não ficou cá nada.

E, pronto, foi isto que eu andei a fazer no último mês. Este ano, pela primeira vez, consegui ver todos os nomeados para Melhor Filme e ainda mais uns nomeados noutras categorias. Nada mau. Nada mau mesmo. Para quem não tem tempo nenhum para ir ao cinema (ou para o que quer que seja) foi uma autêntica proeza. Foi isso, em grande parte, que me impediu de vir aqui escrever mais frequentemente, mas não se pode ter tudo, já se sabe. Sobretudo, foi pena não ter conseguido escrever antes da entrega dos prémios, como era minha intenção. Talvez para o ano. Agora que me habituei a isto até me posso tornar uma maluquinha dos Óscares. 

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publicado às 21:40


1 comentário

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beatriz s 02.03.2017

Sou uma maluquinha dos óscares há alguns anos :) Gostei muito de ler o que escreveu, e embora discorde de algumas coisas, partilho o seu sentimento de paixão por ambos os filmes Moonlight e La la land!

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