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01
Ago19

Agostos

Os verões eram longos. Nunca mais acabavam. Depois das férias na praia, sempre em julho, ainda havia um agosto inteiro pela frente para nos aborrecermos pela casa, espraiadas no sofá a ler livros aos quadradinhos com sotaque brasileiro ou a ver filmes antigos e os programas do Júlio Isidro nos dois únicos canais de televisão que havia. Às vezes, conto isto aos meus filhos. Conseguem imaginar? Dois canais de tv, sem telemóvel, sem internet, sem consolas. Eles ficam de boca aberta. E fazias o quê?, perguntam. Nem eu sei. Quando éramos ainda crianças brincávamos com as bonecas ou no quintal, na adolescência acho que nos limitávamos a estar por ali. Líamos (a minha irmã mais do que eu, eu não lia muito para ser sincera). Jogávamos crapô. Havia as limpezas de verão nas quais tínhamos de colaborar limpando as estantes dos livros (um a um) ou lavando os mil bibelôts. E pouco mais, parece-me. Os verões eram longos e quentes. Um calor abrasador logo pela manhã. A casa na penumbra. Só nos atrevíamos a sair mais tarde. Às vezes havia uma ou outra amiga que também estava por lá em agosto e com quem me encontrava ao final do dia, depois do lanche, hoje em minha casa, amanhã na tua, só para nos entediarmos juntas. Para contarmos os dias que faltavam até setembro, até à feira, até à escola. Bebíamos leite gelado com suchard express. E comíamos gelados super maxi. Mas, pensando nisso, aquilo que me ocorre é que os meus verões tinham sabor a salada de tomate. Em todas as refeições comíamos salada feita com tomates maduros e muito vermelhos, que sabiam mesmo a tomate, ao contrário dos tomates de agora que não sabem a nada. Ao contrário de agora, em que os verões já não se parecem nada com verões.

publicado às 15:16

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Se por acaso forem para aqueles lados vão ver as fotos do meu pai e pode ser que também me vejam por lá a preto e branco.

publicado às 19:46

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A pretexto de uma açorda juntaram-se 14 colegas de curso e suas famílias num monte em Reguengos de Monsaraz. A pretexto de uma açorda, e aproveitando as férias da Páscoa, houve quem viesse dos Açores e houve quem viesse de Londres. Vieram amigos próximos, amigos distantes, gente que não se via há mais de 20 anos, gente de quem eu já não me lembrava. Era, à partida, o grupo mais improvável. Mas se há sítio bom para fazer amigos ou para retomar amizades antigas é à volta de uma mesa, com uma poejada com feijão e bacalhau, ovos com espargos, ovos com silarcas, favinhas, muitos queijos, pão maravilhoso e, claro, a prometida açorda de alho. Vinhos da terra. E até um gin produzido ali bem perto. Chegámos a ser 21 adultos à mesa, 16 crianças e dois cães. Conseguem imaginar? A Márcia e o Zé, nossos anfitriões, receberam-nos com uma generosidade e uma alegria enormes (a trabalheira que devem ter tido a preparar aquilo tudo). Visitámos a adega de Reguengos e a Herdade do Esporão, fomos passear a Monsaraz, houve quem molhasse os pés no Guadiana ao entardecer, houve quem se atrevesse numa moda alentejana. E conversámos e gargalhámos. Havia mesmo muita conversa para pôr em dia. E enquanto isso, os miúdos brincaram na terra, andaram de tractor, correram atrás das galinhas, ficaram bronzeados do ar do campo.

A pretexto de uma açorda, passámos um fim-de-semana mesmo bom. Longe de tudo. Sem pensar na vidinha. Só a aproveitar as coisas boas da vida. E esta felicidade de estarmos uns com os outros. 

Nem eu sabia, mas estava mesmo a precisar disto.

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publicado às 18:02

Pedro e a Hope. Os passarinhos. O silêncio. O sol. O alentejo. (saudades).

publicado às 11:46

Já li. E chego ao fim confirmando aquilo que senti às primeiras páginas. É como se eu agora fosse ali passar uns dias a Alfama e falasse com umas quantas pessoas, daquelas mais antigas e que quase nunca saíram do bairro, e que me falavam das avós varinas, das tias fadistas, dos padrinhos que marchavam no santo antónio. E depois, com isto tudo, fazia um retrato dos lisboetas.

Alentejo Prometido é um livro de memórias, de Henrique Raposo e dos seus familiares. É um mergulho do autor no seu passado, nas origens humildes da família, a desenterrar as histórias que as famílias geralmente tentam calar e, nesse sentido, é até um pequeno acto de coragem. É uma visão muito pessoal do Alentejo e é como tal que deve ser visto.

O primeiro erro do autor é, portanto, querer a partir da sua experiência fazer um retrato dos alentejanos. Exemplo: o autor acha que os alentejanos têm orgulho no seu analfabetismo e di-lo baseando-se no facto de a sua avó nunca ter percebido a obsessão do pequeno Henrique por livros e de achar que tanta leitura não o levaria a lado nenhum. Tenho pena por ele. Sinceramente. Foi uma criança incompreendida. Mas se fosse eu a escrever a tese seria diferente. A minha avó, que não completou a segunda classe, sempre nos incentivou a estudar e sempre nos disse que se queríamos ser alguém deveríamos estudar. A minha avó, que mal sabia escrever, lia todos os dias os meus artigos, que falavam de coisas que ela não fazia a mínima ideia o que eram, e sei que sentia um enorme orgulho na suas netas que vieram estudar para Lisboa e tirararam cursos superiores.

Outro exemplo: Raposo elogia o grande empenho da sua prima como voluntária no clube local e todo o trabalho gratuito que ela faz sem qualquer reconhecimento da comunidade para concluir que os alentejanos são desconfiados e não estabelecem laços comunitários. Sim, é difícil ter laços de vizinhança quando se mora num monte isolado, seja no Alentejo ou no Texas, mas nas aldeias e vilas é diferente. Eu ainda sou do tempo em que as portas estavam fechadas apenas no trinco para que qualquer pessoa pudesse entrar, ainda sou do tempo em que toda a gente se conhece e toda a gente se cumprimenta (eu era aquela pessoa que, quando vim para Lisboa, dizia bom dia ao motorista do autocarro e nunca levava resposta, até perceber que mais ninguém o fazia, por isso quando me dizem que os alentejanos são antipáticos fico um bocadinho surpreendida), sou deste tempo em que as pessoas se ajudam e ajudam os que mais precisam, sem alarido, sem ser preciso grandes operações mediáticas de solidariedade. E quanto a envolvimento na comunidade tenho o exemplo do meu pai que sempre se envolveu em tudo e mais alguma coisa, na escola ou nos bombeiros, no clube ou na câmara, que tanto fez (e faz) de graça e com boa-vontade e nunca foi criticado ou mal-visto por isso, antes pelo contrário. Ao contrário da prima "Marta", o meu pai é uma pessoa respeitada e acarinhada na nossa terra, com quem as pessoas sabem que podem contar, na junta de freguesia ou na biblioteca, para ensinar os putos a jogar à bola ou para fazer exposições de fotografia.

Também devo ser uma pessoa de sorte pois, apesar de ser um pouco mais velha do que Henrique, nunca ouvi contar histórias de homens ou rapazes que encostaram mulheres ou raparigas a um sobreiro, a um muro ou a outro lado qualquer e abusaram delas como se não fosse nada. Nem sequer em noites de festa. Essa ideia dos alentejanos violadores e das mulheres que são violadas "e pronto" deve ser uma tradição lá daquela aldeia.

Henrique Raposo comete ainda mais um erro que é o de atribuir ao Alentejo especificidades que, na verdade, ele não tem. O retrato que faz não é do Alentejo mas do país, ou pelo menos do país rural, quer seja de há 50 anos quer seja agora. As mulheres alentejanas não iam aos cafés, as tabernas eram sítios onde só os homens entravam? Correcto. E em Trás-os-Montes seria muito diferente? A pobreza da casa dos avós, sem casa-de-banho e um rebanho de crianças a dormirem na mesma cama, seria assim tão diferente da pobreza das casas de campo nas Beiras ou no Minho? A importância recente das discotecas escuras para libertar os namoros dos olhares alcoviteiros não terá sido um fenómeno transversal, pelo menos fora das grandes cidades? E acredito que, embora mais cedo, também em Lisboa - ainda outro dia, um taxista me contava como ia tantas vezes ao cinema quando começou a namorar, há 40 anos, por ser o único sítio escuro, onde se podia ter alguma intimidade, "está a compreender, menina?". Foi preciso ir a um casamento no Alentejo para o autor ver um par que casa e baptiza o filho no mesmo dia? E para descobrir que muitos homens em vez de assistirem à cerimónia ficam cá fora a fumar cigarros e a falar de futebol? E para ver jovens entediadas a mexerem no telemóvel durante a missa? Quer-me parecer que não tem ido a muitos casamentos na capital ultimamente. Henrique Raposo supreende-se ainda pelo facto do cemitério da aldeia reproduzir as diferenças sociais que existem no mundo dos vivos, com campas rasas de um lado e jazigos de outro, o que me faz concluir que com certeza também não tem ido a muitos funerais no resto do país. 

Um último exemplo que me parece relevante: Raposo relaciona o modo como as raparigas que trabalhavam em casa "dos senhores" eram abusadas com a migração em direção à região de Lisboa, nos anos 50 e 60, para trabalhar nas fábricas, e diz que essa migração não representava tanto uma ascensão material e social como uma ascensão moral - pois significava a libertação da mulher do jugo dos patrões. Diz que sim, que esses abusos aconteciam, embora fosse interessante perceber se só aconteciam no Alentejo ou nas outras zonas rurais. Por outro lado, parece-me que o que faz a diferença nesta "nova dignidade pessoal" das mulheres não é tanto a mudança do Alentejo para Lisboa mas, sobretudo, a mudança de criada de servir (como se dizia) para empregada fabril. Isso sim. As muitas raparigas que vieram, não só do Alentejo como de todo o país, para servir em Lisboa continuaram a ser usadas pelos patrões e pelos filhos dos patrões - como tão bem se conta neste livro.

Todo o Alentejo Prometido me parece tão cheio de generalizações descabidas que, para falar a verdade, as partes que menos me chocaram são as que falam do suicídio. Claro que o suicídio no Alentejo não é endémico nem é tão natural "como o vento a passar entre os sobreiros". E Henrique Raposo só perde em ser assim tão leviano ao falar de um assunto tão sério. Mas, sim, é verdade que há mais suicídios no Alentejo. E, sim, é verdade que, de uma certa forma, as pessoas aprenderam a lidar com isso como um facto incontornável - embora não seja verdade que as pessoas não sofram com a morte e não a lamentem. E, sim, todos nós crescemos a ouvir pessoas dizerem que preferem matar-se a ficar a sofrer. Provavelmente, nem damos muita atenção a isso e o mais certo é que depois essas pessoas não se matem (fiz um esforço e só me lembro de um caso, há muito tempo, era eu criança, de um primo da minha mãe que se matou, com um tiro de uma caçadeira, porque estava doente e sabia que não se iria curar - um caso típico como os que são contados no livro). Mas, sim, admito que isto que nós achamos natural, que é uma pessoa tomar conta do seu destino, possa chocar alguém que chega de fora. Sobre este assunto, a jornalista Maria Henrique Espada, com quem eu brinquei muito nos quintais da nossa infância, escreveu uma crónica que é muito certeira.

Quanto ao resto, são opiniões.

Henrique Raposo acha que dizer palavrões é um sinal de confiança e que o facto de os alentejanos não dizerem muitos palavrões mostra que são muito desconfiados. Eu (tipicamente alentejana) acho que dizer palavrões em todas as frases é apenas ser mal-educado.

Henrique Raposo considera que uma das falhas graves dos alentejanos é a sua falta de fé, e que o facto de não irem muito à igreja nem mesmo para a missa do galo, de não acarinharem os padres nem celebrarem publicamente a fé é não só motivo para a falta de esperança e de alegria dos alentejanos, como para o pouco espírito comunitário, para a tal desconfiança e para uma certa amoralidade. A mim (tipicamente alentejana) enerva-me a beatice, os valha-me deus, as ladaínhas, o beijo no pé da estátua. Estou como Rui Cardoso Martins, citado neste texto (que é um belo texto), que diz: "É verdade que o Alentejo é um lugar pouco religioso, o que para mim é um elogio." A amoralidade de que fala o autor é apenas falta de cinismo - há muito tempo que sabemos que as rapazes e raparigas têm relações antes de casarem, há muito tempo que aceitámos os "ajuntamentos" e que normalizámos as separações, antes mesmo de o divórcio ser legal. Estávamos à frente do nosso tempo. Graças a deus.

Henrique Raposo considera que Alvalade do Sado é "uma terra interessante" por ser menos típica, porque, por ter estação dos comboios e um empreendimento fabril, sempre foi poiso de forasteiros e por isso é uma terra mais moderna e mais igual às outras terras modernas do resto do país. Nem sei bem como comentar esta ideia do que é uma "terra interessante". Mas Henrique Raposo também elogia os grandes avanços introduzidos pela televisão, pela internet, pelas auto-estradas e pelo desenvolvimento de uma maneira geral que estão a acabar com o linguajar tradicional, com o pão tradicional, com a arquitetura tradicional e com tudo o resto que era tradicional. As crianças de Santiago do Cacém (as crianças todas, de todo o país) são hoje iguaizinhas às crianças de Lisboa e isso é motivo de alegria para o autor. Eu (tipicamente alentejana que mora em Lisboa) tenho saudades do pão, das açordas, das linguíças, tenho saudades das expressões tipicamente alentejanas e daquela pronúncia que perdi, sem querer.

E, sim, eu sei como é crescer numa terra pequena do Alentejo (não há de ser muito diferente de uma terra pequena noutro sítio qualquer), sei como é sentir a pressão familiar e social, ser alvo de olhares e coscuvilhices, e, sim, não é agradável, não senhor (felizmente, não sou voluptuosa nem espampanante como parecem ser todas as mulheres da família do autor, por isso nunca senti os tais olhares maliciosos dos homens alentejanos que aqui são descritos como se fossem tão mais intensos e castradores do que os olhares maliciosos dos trolhas das cidades). Mas vim para Lisboa estudar e não só me adaptei num instante como nunca fui gozada nem me senti mais provinciana do que os meus colegas que vinham dos Açores ou de Braga - devo mesmo ser uma pessoa de sorte, ao contrário dos primos de Henrique Raposo. 

E ainda uma curiosidade: o autor fala do não deixar os corpos sozinhos na casa mortuária durante a noite (e tira daí algumas conclusões sobre a irreligiosidade do povo alentejano) como algo que ainda acontece e que é uma tradição da região. Mas a verdade é que já há muito que não se "acompanham" os mortos à noite na minha terra. Por outro lado, ainda há pouco tempo estive a ler O Apocalipse dos Trabalhadores, de valter hugo mãe, cuja ação se passa na atualidade (a primeira edição é de 2008) na zona de Bragança e que tem entre as personagens principais uma carpideira profissional - que é paga pelos padres para não deixar os mortos sozinhos durante a noite. Nunca conheci carpideiras no Alentejo e sempre achei que eram figuras de outro tempo, quase literárias. Mas, lá está, esta é a minha experiência, não posso garantir que seja igual em toda região.

Como disse, são opiniões. Ele tem as dele, eu tenho as minhas. E, acima de tudo, há algo que me separa de Henrique Raposo: é que eu gosto muito do Alentejo, amo-o profundamente com todos os seus defeitos (e nisso não serei muito diferente das outras pessoas amam as suas terras, imagino). O meu olhar sobre o Alentejo é toldado por esta paixão, o olhar de Henrique Raposo é toldado pelo ressentimento por todo o sofrimento que os seus antepassados viveram e até, parece-me, por um certo desprezo por tudo aquilo. O percurso do autor tem sido, até aqui, de afastamento consciente de todos os sinais de alentejanismo que ainda pudessem restar nos seus poros, algo que o próprio assume neste livro.

Dito isto, o livro Alentejo Prometido pode até, de uma certa forma, ser interessante como exemplo da opinião de um forasteiro - o que será que eles pensam de nós? - e o livro está bem escrito, há que dizê-lo. Mas aquele não é o meu Alentejo. E, embora não me ofenda (pelo amor de deus, é só um livrinho de 107 páginas de um rapaz que gosta de dizer coisas), entristece-me. Eu, como boa alentejana que sou, gostava que toda a gente gostasse da minha terra e sentisse a alegria que eu sinto quando vou no meu carro e vejo a planície a aproximar-se, aquela imensidão, aquele cheiro, aquele desolamento, aquela sensação única de estar em casa.

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A foto foi roubada do Facebook do meu pai que, em junho de 2013, escolheu esta frase para a acompanhar: "Seja qual for o número de céus que desabem, temos de viver." (D. H. Lawrence).

Para saberem das polémicas à volta do livro, leiam este texto.

O título foi inspirado, com uma vénia, numa crónica do grande Ferreira Fernandes.

publicado às 13:10

27
Nov15

O meu céu

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O meu alentejo. Fui lá num instantinho, a trabalhar, e fiquei com vontade de mais.

publicado às 17:48

02
Out15

Eu voto (2)

Quando nos levantávamos o pai já não estava em casa, já estava a cumprir o seu dever cívico tomando conta de uma mesa de voto. Nas ruas havia desde cedo um movimento incomum para um domingo. Como a nossa casa ficava a caminho da escola, era um burburinho o dia todo, gente para lá e para cá, e nós passávamos o dia à janela a dizer olá e a fazer conversa. Havia pessoas que quase não saíam de casa mas que nesse dia faziam questão de ir, de braço dado com alguém ou com uma bengala, devarinho mas lá iam. Velhotes de chapéu. Gente composta, como a minha avó que se vestia como para um passeio, mesmo só tendo que atravessar uma rua. Punha uma saia nova e um colar e perfume para ir votar, porque uma pessoa não vai votar de qualquer maneira, não é? As pessoas sentiam-se verdadeiramente felizes por poderem participar, sentiam que o seu voto era importante pois tinham na memória, ainda muito frescos, os tempos antigos, da ditadura, do medo, da pobreza, os tempos em que ninguém queria saber a sua opinião, os tempos em que não podiam sequer ter opinião. Talvez por isso naquela altura, ali nos anos 80 da minha infância, a política não era dos políticos, uma coisa lá deles, era algo muito presente no dia a dia. Toda a gente tinha um partido e fazia campanha, perdiam tempo a colar cartazes e a distribuir folhetos e usavam-se autocolantes ao peito, com orgulho. Discutia-se política no café. Cortavam-se relações por causa de algumas discussões mais acaloradas. E no dia das eleições sentia-se um aperto na barriga até àquele momento em que o pai chegava a casa com os resultados apontados num papelinho a dizer quem tinha ganho na nossa terra, e depois apareciam os primeiros resultados oficiais na televisão, e, se a coisa corria bem, muito raramente, lá íamos para a sede do partido para festejar com bandeiras e apitos pelas ruas da vila.

publicado às 10:34

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publicado às 23:37

26
Abr15

Relatos

Lembro-me das tardes de domingo na barragem da Rocha. Primavera. Eu e a minha irmã a apanhar flores amarelas e brancas e a brincar às casinhas nos bancos de pedra. Nós e a vovó Ana a brincar à apanhada, às voltas num pilar que lá havia, a relva a crescer por entre as placas de cimento que faziam um caracol no chão. Lembro-me dos cães que ladravam no barracão que era um café. De ter medo. De fazer xixi agachada, atrás das árvores. Lembro-me do Dinho, no carro branco, a ouvir os relatos da bola. Talvez também lesse o jornal. Ou não. Não sei se me lembro disto tudo ou se inventei algumas memórias.

Lembrei-me disto porque estou a ouvir o benfica-porto na rádio (e, tirando os anúncios constantes, parece que os relatos continuam mais ou menos na mesma).

publicado às 17:29

19
Abr15

Favas frescas

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Melhor do que cozinhar para os amigos só mesmo cozinhar com os amigos. A Cecília trouxe as favas - acho que os putos nunca tinham visto favas frescas -, o chouriço e a morcela. Trouxe o sabor a alentejo e a conversa boa. E o nosso almoço de domingo não podia ter sido melhor.

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publicado às 21:52


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