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07
Mar13

Em modo crise

Tornei-me uma dessas pessoas que compram livros em hipermercados aproveitando os talões de desconto.

publicado às 20:29

Os dias estão mesmo a ficar mais compridos.
Sair do trabalho com luz ajuda-me a esquecer o recibo de ordenado.

publicado às 20:41

A sensação que dá é que o "estado" está desesperado. Precisa de arranjar dinheiro, muito dinheiro a qualquer custo, e por isso desata a ir-nos ao bolso de qualquer maneira. Aumenta o iva de tudo, aumenta as taxas moderadoras, aumenta a taxa social, aumenta o irs, aumenta as propinas, aumenta a luz, o gás, a água, as rendas, a gasolina, os transportes, aumenta tudo, sem dar nada em troca, e depois pergunta-se: ainda há por aí alguma coisinha que seja grátis? Então que se passe a pagar. Hoje foram outra vez as estradas. Daqui a nada não há caminho esburacado que não custe os olhos da cara. Desempregadas ou a ganhar menos, as pessoas começam a cortar no supérfluo - como as idas ao cinema ou um carro novo - começam a cortar no menos supérfluo - como na educação, na saúde ou nos transportes. E também nas tais estradas. Para não gastar, a solução é ficar em casa, quietinho, sem ligar a televisão nem o aquecedor. E comendo pouco. Bife só de vez em quando. A economia não avança, afundamo-nos cada vez mais. E o estado ainda mais desesperado.
Eu até sou uma pessoa optimista, que sou, e esforço-me por pensar que isto é tudo uma fase e que as coisas vão melhorar e que os meus filhos hão de crescer num país decente e conseguir ter uma vida boa. Esforço-me, pois. Mas está difícil.

publicado às 23:03

05
Out12

Austeridade

Se calhar, era altura de aprender a fazer uma tabela em excel.

publicado às 23:33

13
Set12

Até quando?

 

Gabriel O Pensador

publicado às 23:36

21
Abr11

Regabofe

É a bancarrota, a falência, o FMI, diz que vão cortar mais nos salários e nas pensões, que o estado social vai ao ar, que não vai haver subsídios de natal e ainda não sabemos se as nossas poupanças estão a salvo, diz que muitas empresas vão fechar, vai haver despedimentos, o desemprego irá aumentar, mais pobreza, mais gente na miséria. Diz que sim. E nós assobiamos para o lado e continuamos na nossa vidinha como se nada fosse.

"A tolerância de ponto concedida esta tarde aos trabalhadores do Estado terá um custo de cerca de 20 milhões de euros, enquanto os feriados e pontes deverão custar entre 680 e 850 milhões de euros. Aqueles valores resultam de estimativas de professores universitários, avançadas na edição de hoje do Jornal de Notícias, onde a decisão do Governo é vista por representantes dos patrões da indústria como um criticável exemplo de absentismo dado aos patrões da troika Comissão-BCE-FMI."(no Público)

Não bastavam quatro dias de férias, não? Já nem falo pelo dinheiro mas só para fazer boa figura para os senhores troikos, só para eles não perceberem que estamos mesmo sem vontadinha nenhuma de fazer sacrifícios.

publicado às 10:53

16
Dez09

Coisas a mais

Quando eu era miúda raramente iamos almoçar fora. Tinha que ser uma ocasião especial. E como se comia bem em casa. O peixe era fresco, as ervilhas descascadas por nós, o doce de tomate feito pela minha avó, o feijão tinha que ficar de molho durante a noite, as tranças de alhos penduravam-se na despensa e a fruta era a da época, morangos no início do verão, laranjas no inverno e um melão que se guardava, suspenso para não apodrecer, de modo a estar no ponto no dia de Natal. As férias passavam-se cá dentro, durante muito tempo a fazer campismo e, depois, no apartamento da vovó Ana. Nunca fomos ao estrangeiro. Não havia férias na neve nem viagens ao Brasil. A primeira vez que andei de avião foi numa visita de estudo do liceu. Não havia centros comerciais a cada esquina nem lojas de pronto-a-vestir decentes. Mandávamos fazer roupa na costureira por altura dos aniversários e da Páscoa. As camisolas de lã eram tricotadas pelas avós. As blusas eram remendadas nos cotovelos. Cosíamos os buracos das meias. Mandávamos os sapatos ao sapateiro para pôr meias-solas e arranjar os saltos. Recebia roupa nova no Natal e herdava quase tudo da minha irmã. Herdava até os livros da escola que apagava, linha a linha, para depois poder resolver outra vez os exercícios. Não porque houvesse realmente necessidade disto mas porque havia um estilo de vida - uma ética - segundo o qual não devia haver desperdícios e se deveria poupar, reciclar, aproveitar. Gastar até ao fim. Tínhamos uma única televisão com dois canais. Um único telefone fixo. E quando surgiram os computadores lembro-me que durante muito tempo o Aníbal foi o único miúdo da terra a ter uma daquelas maravilhas (as tardes que passámos em casa dele a jogar pacman!). Vivíamos numa casa arrendada. Não tinhamos aspirador central nem música ambiente nem imaginávamos o que seria uma Bimby.
Éramos felizes? Éramos.
E sim, eu gosto do progresso e de ter televisão por cabo, eu já não sei se consigo viver sem telemóvel e não, não acho que antigamente é que era bom, nada disso, que bom que as pessoas agora têm dinheiro para gastar e podem passear e comer hamburgueres quando lhes apetece. Mas a mim parece-me que isto tudo aconteceu muito rapidamente. Sofregamente. Como se fôssemos novos-ricos. Deslumbrados com a possibilidade de poder passar um dia inteiro no Colombo e pagar tudo com cartões de crédito. De repente já não conseguimos passar sem a televisão de plasma xpto e somos [sou] alvo de chacota se ainda usamos a roupa da colecção anterior ou se não usamos as marcas que estão na moda. Desde quando é que se tornou natural comprar malas de 300 euros? Desde quando é que um i-pod é um bem essencial? A nossa vida, a vida da maioria das pessoas, pelo menos, baseia-se em coisas, coisas e mais coisas. Casas e relógios e automóveis. Coisas que se têm, que se compram, que se substituem.
Coisas a mais. E assusta-me pensar no preço que estamos e vamos pagar por isto. Em termos ambientais. Na formação das nossas crianças, habituadas a ter tudo, do bom, do melhor, agora, já. Nas crianças que trabalham na índia e noutros países para que nós possamos viver assim. Num mundo onde as pessoas são aquilo que têm - e quem tem nada é nada?

publicado às 13:09

16
Jan09

O dia seguinte

- Estamos safos, disse o Soldado, e os seus olhos brilharam de alívio, Estamos vivos.
- Vivos? O Outro mal conseguiu esboçar um sorriso. Levantou-se e começou a apalpar o corpo em busca de feridas. Doiam-lhe os ossos, sentia os músculos tensos, a barriga apertada, uma náusea profunda. E agora? Reagir, pensou, tinha que reagir. Olhou em volta. A agitação começara mal o sol nascera. Era tempo de limpar as trincheiras. Contar mortos e feridos, enterrar os corpos, reunir os destroços. Preparar as armas para o próximo combate. As ordens vindas de cima diziam que é preciso estar a postos. Não se pode parar, diziam.
- A guerra acabou, disse o Soldado, safámo-nos. O Outro não lhe respondeu. Que ilusão. Se alguma lição se poderia tirar do dia de ontem é que nunca ninguém está safo. Na verdade, parecia-lhe que do outro lado da estrada os disparos já tinham recomeçado.
- Ouviste?
- Vamos, rastejemos para o abrigo, rasteja, Soldado, rasteja, é a única coisa que podemos fazer.

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publicado às 10:08


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