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18
Dez23

Fazer natal

Seria melhor se não fosse necessário. Seria melhor se vivessemos numa sociedade mais justa e onde a pobreza, a fome, a falta de habitação, a solidão não fossem problemas, onde todos pudessem ter uma vida digna. Essa é uma luta que temos de travar, que podemos travar de diferentes formas - por exemplo, escolhendo em quem votar. Até lá, fazemos o que podemos. A solidariedade passa também por darmos algum do nosso tempo, do nosso trabalho, da nossa atenção, da nossa disponibilidade para ouvir e para abraçar, para trazermos alguns sorrisos ao rostos das pessoas que menos têm. Para fazermos uma festa de natal, com música, comida, calor e muita emoção (eu emocionei-me várias vezes), como devem ser as festas de natal.

Este ano, finalmente, os astros alinharam-se e consegui participar na festa de natal para as pessoas em situação de sem-abrigo, organizada pela Comunidade Vida e Paz. Podem ver AQUI como foi.

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publicado às 11:50

27
Dez21

Natal - Lado B

Para quem, como eu, gosta tanto do natal, esta época festiva pode tornar-se um bocadinho deprimente. Porque é uma época em que geralmente estamos mais introspectivos, olhamos mais para dentro, focamo-nos mais nas tais coisas essenciais, e em que também, inevitavelmente, nos confrontamos com o passar do tempo, com mais um ano que está prestes a terminar. E, mesmo sem querermos, damos por nós a fazer balanços, a pensar no que perdemos e ganhámos nestes meses. A balança desequilibra-se bastante, tenho que admiti-lo. Será de mim ou parece que a partir de uma determinada altura, como cantam os Xutos, "a vida é sempre a perder"? Houve coisas boas, que houve, mas na hora de fazer as contas debatemo-nos sobretudo com todos os nossos pequenos e grandes falhanços, com as perdas, com as doenças e as ausências, com as dores variadas, do corpo e da alma, com os erros e as distâncias, com os planos incumpridos e os sonhos adiados. Com a solidão.

No dia de natal saí de casa às dez da noite, apanhei o metro e fui à ZDB ouvir o Legendary Tigerman. Há anos que queria fazer isto mas havia sempre qualquer coisa que me impedia (havia aquele ai agora vais sair sozinha no dia de natal, isso é mesmo coisa de pessoa falhada, então ficava em casa, igualmente sozinha e deprimida mas ao menos ninguém via). Fui. Não conhecia ninguém, não falei com ninguém. Estive ali a desfrutar da música e a deixar-me ir. E foi bom. Teria sido melhor se estivesse acompanhada? Imagino que sim. Mas é o que temos.

Sozinha por sozinha mais vale fazermos o que queremos. 

Além disso, esta música é simplesmente linda:

Life ain't enough  for you, de Legendary Tigerman

publicado às 11:37

26
Dez19

Do verbo amar

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No outro dia estava a tentar explicar isto ao meu filho: não adianta gostar de alguém se essa pessoa não se sentir gostada. É importante mostrar aos outros o que sentimos. Em palavras, em gestos, em comportamentos. O amor que sentimos só é verdadeiro amor quando chega à outra pessoa. Nem que seja em forma de abraço. Ou de sorriso.

E, pensando bem, também é isso o natal. Um pretexto para dizermos aos outros que gostamos deles. Para nos lembrarmos como isso é importante. Uma prenda é uma maneira de dizer: gosto de ti. Ou: acho que isto te pode fazer feliz. Não tem de se gastar muito dinheiro. Uma prenda é um acto de amor. E é tanto mais especial quanto mais é pensada para aquela pessoa específica. O livro que ela queria ler. O desenho que fizemos. O postal que escrevemos. O abraço que ele precisava. A visita que nunca temos tempo de fazer. O jantar que passamos a vida a adiar. Aquele telefonema. Aquela palavra.

publicado às 17:16

22
Dez18

Nearness

Ontem à noite, no CCB, a Gisela João cantou isto. À sua maneira, como fez com o Silent Night ou com o Nature Boy, como se fossem fados acompanhados por uma orquestra e por um trio de jazz. E eu até me emocionei em alguns momentos. Porque é tão bonito. E porque é isto o importante da vida. 

"I need no soft lights to enchant me
If you will only grant me
The right to hold you ever so tight
And to feel in the night
The nearness of you"

The nearness of you, aqui por Ella Fitzgerald & Louis Armstrong

 

Não vale a pena guardar por escrito as coisas más que nos acontecem. Não vale mesmo. Não quero guardar as discussões, as injustiças, as idiotices, as pessoas que me magoam, o tempo mal gasto, os tropeções, as tristezas, as lágrimas, a solidão. De tudo isso não quero guardar se não uma vaga memória. Um sinal, apenas, para me recordar dos erros que não quero repetir. Quero guardar, isso sim, os abraços apertados, as gargalhadas partilhadas com quem importa, aquele dia em que fomos todos ver o Bohemian Rhapsody e saímos de lá a cantar We will rock you como se todos os dias fossem felizes (e depois tive que explicar aos putos o que é a Sida), quero guardar os nossos fins de tarde na praia, as férias (as férias, as férias), o sol quente na pele, a felicidade no rosto deles, os momentos que passamos com os nossos amigos, as palavras bonitas, a cara dos miúdos, de boca aberta de espanto a verem a magia Impossível do Luís de Matos, as borboletas na barriga quando damos um beijo e nada mais interessa. Por estes dias quero que seja assim. Que a vida desabe à nossa volta, não quero saber. Vou fechar os olhos, ouvir a Ella ou a Gisela, e só vou pensar em coisas boas.

Feliz natal.

publicado às 09:45

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1. Guardar uns dias de férias para esta altura do ano.

2. Aproveitar esse tempo precioso para estar com a família. Por exemplo, convidar os primos para virem passar uns dias connosco.

3. Viver por uns dias sem olhar para o relógio e sem estar sempre preocupada com as regras. Temos tão poucas oportunidades para estarmos assim juntos que o melhor é desfrutar, não é?

Claro que é preciso entrar no espírito da coisa. Ter um apartamento cheio de crianças significa que vou partilhar a cama com a minha sobrinha, que vai haver um colchão no quarto dos rapazes, que vai haver roupas e sapatos espalhados pelos quartos e não há maneira de ter tudo sempre arrumado. Também significa que não vou conseguir estar sozinha por mais de dois minutos, nem ver filmes e se calhar nem mesmo ter algum tempo no computador. Significa ir ao supermercado muitas vezes porque é preciso garantir pequenos-almoços, almoços, lanches, jantares e mais petiscos para todos e eles já são crescidos e comem muito e além disso ainda é capaz de aparecer o vizinho e nós gostamos de o ter por cá. Significa cozinhar para esta malta toda ou então levá-los a comer fora e termos de chegar a um consenso sobre o sítio onde vamos (dificílimo) e depois pagar a conta (ui). Significa aceitar que este tempo é para eles. Não é para marcar jantares com amigos nem para comprar presentes. É para eles. Para eles brincarem no terraço mesmo quando está um frio de morte. Para eles jogarem playstation mais horas do que seria aconselhável. Para os deixar ter alguma autonomia, porque é fixe quando estão todos juntos e tomam conta uns dos outros. Para eles conversarem e dizerem as suas parvoíces e aprofundarem cumplicidades que, acredito, ficarão para a vida. Significa também ter de gerir alguns conflitos, dar um grito quando é necessário (yeap, não sou assim tão boazinha) e impor a ordem (por exemplo, mandando desligar os aparelhos quando já é hora de desligar).

Mas acima de tudo significa sermos (e estarmos em) família. E isso é o natal.

E ainda: tivemos uma sorte danada. Quase todas as semanas a minha empresa sorteia bilhetes para o sporting, quase todas as semanas concorro e nestes anos todos nunca ganhei. Mas ganhei esta semana. E, assim, os mais velhos foram ao futebol sozinhos, com direito a camarote e a festival de golos. "Brutal", disseram eles. No final destes cinco dias, o meu sobrinho lindo dizia-me que tinha gostado tanto que esta estadia poderia ser a minha prenda de natal para ele (é verdade, nem todos os miúdos têm uma relação obsessiva com as prendas e não dão valor ao que recebem).

 

* o título deste post é obviamente irónico. eu não dou dicas a ninguém, limito-me a partilhar cenas de que me apetece falar. além disso, não tenho qualquer empatia com essa ideia de que é preciso aprender a "sobreviver" ao natal, como se esta fosse uma época horrível. eu gosto do natal (tenho uma tag natal neste blogue). não stressem e aproveitem a felicidade nas coisas pequenas e tudo correrá bem - essa é a minha única dica.

publicado às 19:27

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Não fizemos a árvore de natal logo no dia 1, porque eu estava a trabalhar e os miúdos estiveram em casa dos avós, mas, no domingo à noite, tivemos o nosso momento "entrar no espírito de natal" com direito a gorros vermelhos na cabeça e cantorias ao som da Mariah Carey e tudo e tudo. Que venha dezembro, rapidamente e em força, para nos fazer esquecer este novembro horrível que vivemos. Ainda há testes esta semana e trabalhos para terminar no fim-de-semana, ainda não comprei uma única prenda nem tenho grandes ideias sobre o que vou comprar, tenho um orçamento muito muito muito limitado, ah, e ainda tenho de trabalhar, claro, mas, sinceramente, na minha cabeça já estou no Alentejo, a aquecer-me na lareira e a comer pastéis de grão.

publicado às 09:55

Eu nunca tinha estado tanto tempo sem os miúdos e também nunca tinha passado uma noite de natal sem eles, por isso, quando esta viagem começou a ser planeada, confesso que fiquei um pouco apreensiva. Não por eles, mas por mim. Mas, depois, decidi tratar este assunto como faço com tudo o resto: olhei para isto o mais racionalmente possível. Perguntei-me: é importante para eles?, vai ser bom para eles? E a resposta não dava margem para dúvidas. Este não era o momento de me pôr com egoísmos parvos.

Os miúdos foram, então, passar o natal com o pai, que já não viam desde o natal passado. Só que, este ano, em vez de ser o pai a vir ter com eles, foram eles ao Brasil. Apanharam o avião no dia 15 de dezembro e voltam amanhã. As fotografias, os vídeos e as palavras que me chegam de lá mostram-me uma felicidade imensa. Miúdos descalços ou de chinelos, a mergulhar no mar, a banharem-se em rios, a brincar em piscinas, a brincar à chuva. Contentes da vida com os tios, os primos, os amigos que eles nem sabiam que tinham, bronzeados, sorridentes.Tem sido uma experiência fantástica para eles e tenho a certeza que esta é uma viagem que os vai marcar para sempre - por ter sido tão boa e por ter sido a primeira.

E, entretanto, por cá, como tenho eu estado? Surpreendentemente bem, devo dizer-vos. 

Comecei logo por me recusar a ter pena de mim própria. Apesar de não estar habituada a passar tanto tempo sozinha e de nem sempre ser fácil encontrar a felicidade no silêncio da minha casa vazia, decidi que não me ia pôr com lamúrias (ia queixar-me do quê? os putos de férias no Brasil, todos alegres, eu com uma vida boa, família por perto, amigos a mandarem mensagens, ia queixar-me do quê mesmo?). O que eu penso é: isto é o que temos, isto é o que vamos ter durante quase três semanas e não há nada que eu possa fazer para mudá-lo, portanto, mais vale aproveitar o melhor possível e procurar o lado bom desta situação. E há um lado bom. Ora vejam. Acordar sem despertador. Manhãs tranquilas, sem correrias. Adaptar o horário de trabalho a esta vida sem filhos. Não ter que correr de um lado para o outro ao final do dia e passar horas ao frio a ver treinos de futebol. Aproveitar para fazer trabalhos que noutra altura não poderia fazer. Ir ao Porto. Cozinhar só quando me apetece. Comer sopa com verdes. Não ver programas infantis na televisão. Ver filmes. Ir ao teatro. Ir caminhar de manhã. Ficar quietinha numa esplanada ou num café tranquilo. Estar com amigos - ir almoçar com amigos, ir tomar café com amigos, ir jantar com amigos, ir beber um copo com amigos - esta foi sem dúvida a parte melhor, como passo o ano inteiro sem ter tempo para ninguém, quis aproveitar para estar com algumas pessoas de quem já tinha muitas saudades. Aprender, aos poucos, a desfrutar do tempo sozinha e da minha casa vazia e silenciosa.

Nem tudo foi maravilhoso. A noite de natal foi diferente. Tinha muito medo de ficar deprimida mas isso não aconteceu. Por um lado, esforcei-me por aproveitar ao máximo aquele tempo com o resto da minha família e, além disso, eu não era a única a ter saudades dos miúdos, os avós, os tios e os primos também sentiram a sua falta, então acho que, mesmo sem termos conversado sobre isso, todos adoptamos naturalmente essa atitude de nos animarmos uns aos outros. E resultou. 

E, sim, ao mesmo tempo que fico feliz pelos meus filhos também sinto algum ciúme por saber que eles se estão a divertir tanto e a ter tantas experiências fantáticas sem mim, e sei que quando eles chegarem vão odiar o frio e ter de voltar para a escola e para a rotina, e vou ser eu que vou ter que fazer o papel de má e lembrar-lhes que as férias já acabaram - mas faz parte, não há alternativa, portanto (lá está) nem vale a pena angustiar-me muito, tentarei dar o meu melhor e esperarei que as coisas voltem a entrar nos eixos.

O mais importante a tirar destas "férias de filhos" é: apesar de a minha vida com os miúdos ser geralmente muito intensa, e até um pouco louca, porque passo o ano inteiro sozinha com eles, é bom perceber que os esforços que vou fazendo para manter uma vida minha, para ter um trabalho que me dá prazer, para alimentar os meus interesses, têm resultado. É bom perceber que não fico completamente perdida quando eles não estão. Fico só um bocadinho. Eu não sabia isto. É claro que tenho saudades dos meus filhos lindos mas sei que não tarda nada eles estão aí de novo, por isso tentei aproveitar estes dias como uma oportunidade única também para mim. E foi bom.

O que me leva à segunda conclusão: grande parte dos nossos problemas não são verdadeiros problemas, são coisas que se resolvem na nossa cabeça, só temos que olhar para eles como eles são e sem dramatizarmos. Relativizar sempre. Ver para além do nosso aqui e agora. Não me canso de o dizer. Ser feliz dá algum trabalho. É preciso querer. São precisas obviamente outras coisas (saúde, dinheiro, sorte, isso tudo...) mas também é preciso querer.

publicado às 15:51

Véspera de Natal, por Adoniran Barbosa 

"Eu me lembro muito bem
Foi numa véspera de natal
Cheguei em casa
Encontrei minha nega zangada, a criançada chorando,
Mesa vazia, não tinha nada.

Saí, fui comprar bala mistura,
Comprei também um pãozinho de mel
E cumprindo a minha jura,
Me fantasiei de papai noel

Falei com minha nega de lado
Eu vou subir no telhado
E descer na chaminé
Enquanto isso você
Pega a criançada e ensaia o dingo-bel

Ai meu deus que sacrifício
O orifício da chaminé era pequeno
Pra me tirar de lá
Foi preciso chamar
Os bombeiros"

publicado às 00:43

21
Dez16

December hope

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publicado às 09:22

Patti Smith no concerto dos U2 em Paris, depois dos atentados. "People have the power". Porque é preciso acreditar na bondade dos homens. Não há outra maneira.

publicado às 11:44


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