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29
Abr16

Ubertaxi

Nunca usei a Uber. 

Nunca usei a Uber mas sou doutorada em taxis. E já apanhei de tudo. Carros a cair de podres. Carros sujos, que cheiram mal, sem ar condicionado, com o ar condicionado no máximo. Vidros que não abrem, vidros que não fecham. Os bancos da frente chegados para trás e quase não nos conseguimos mexer - nem ver o taxímetro.Taxistas com as unhas pretas. Que cheiram mal. Que falam ao telefone enquanto estão a conduzir e com clientes no taxi. Que saem do carro para cumprimentar colegas nos outros carros. Que saem do carro para discutir com outros condutores. Taxistas mal educados. Que começam a bufar quando nos vêem a entrar com um bebé no ovinho e perguntamos pelo cinto. Cintos que não funcionam. Cintos que nem sequer lá estão. Taxistas que protestam porque a corrida é curta, ou porque está trânsito, ou porque já trabalharam muitas horas. Taxistas que dizem palavrões. Que vão o caminho todo a remoer porque queriam era ter apanhado a outra chamada que ia para Paço de Arcos. Que insultam os imigrantes. Que sabem onde eu trabalho e aproveitam para dizer que os jornalistas são todos uns aldrabões. Taxistas que fumam nos carros. Taxistas que ouvem a Rádio Amália em altos berros. Ou que nos obrigam a ouvir o terço da Renascença. Taxistas que nunca sabem o caminho. Taxistas que se armam em espertos e acham que sabem sempre tudo. Os que se fingem de parvos a ver se nos enganam. Os que dão voltas a mais. Os que tentam mesmo enganar-nos às claras. Taxistas que não têm troco (e ainda sou do tempo em que havia uns taxistas que achavam que não tinham que ter troco sequer de dez euros e diziam: tem que ir ali ao café trocar, e eu ia). Taxistas que cobram taxas que não existem. Que fazem má cara por terem de abrir o porta-malas. Que não querem passar factura. Que dão uns papéis aos estrangeiros a dizer que são facturas mas não são. Que se enganam nas contas. Que demoram mais tempo a dar o troco a ver se a gente diz que não é preciso incomodar-se.Taxistas que andam a pisar ovos. E outros que julgam que estão a conduzir um carro de corrida. Taxistas que passam sinais vermelhos. Uma pessoa entra num taxi e nunca sabe o que vai apanhar. É tipo roleta russa mas ao contrário. De vez em quando, esporadicamente, sentimo-nos bem tratados e corre tudo lindamente. Na maior parte das vezes sentimo-nos reféns. Entrámos ali e agora não temos maneira de sair, é aguentar caladinhos se não ainda somos insultados. Se não gostamos da maneira como somos atentidos num café ou numa loja podemos não voltar lá. Com um taxi não existe essa opção. Só depois de entrarmos e fecharmos a porta é que olhamos para a cara do taxista e não queremos acreditar, oh, não, é este outra vez. E aguentamos, outra vez, caladinhos a ver se conseguimos chegar ao nosso destino sãos e salvos.

Sei que estou a ser injusta, há com certeza muitos taxistas bons, muita gente honesta nesta profissão, como em todas. Mas infelizmente existem todos os outros, que são muitos e são os que ficam na nossa memória. Se não tivesse que ser, por motivos profissionais ou porque às vezes me dá mesmo, mesmo jeito, não andaria de taxi.

Nunca usei a Uber mas já estive mais longe de o fazer.

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publicado às 09:22


1 comentário

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MSilva 29.04.2016

concordo em absoluto com o texto.
faltou só referir que os taxistas acham que podem usar o mundo como a sua casa de banho privada, aproveitando todas as paredes, todas as árvores, todos os recantos e vãos de escada para fazer o q só deveriam fazer na privacidade das suas casas. ou de um café, vá. mas não, é à vista de toda a gente. sem pudor. abjecto.

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