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Passamos muito tempo a queixar-nos. Esta não foi exactamente a vida escolhemos. O jornalismo (já?) não é tal e qual como o sonhámos. Os jornais funcionam mal. Os jornais são efectivamente maus. E, na maior parte das vezes, chegamos ao fim do dia com aquela sensação de que poderíamos ou deveríamos ter feito muito melhor, de que acabamos por escrever textos irrelevantes ou apenas banais. Que não tivemos tempo suficiente nem espaço bastante para fazer o que queríamos. Ou que não nos deixaram fazer o que queríamos. A frustração é grande. E temos de facto motivos para nos queixarmos.

 

E, no entanto, sou uma privilegiada. Se quiser ser justa tenho que admiti-lo. Sou uma privilegiada. Faço aquilo que gosto. Olho para o mundo e escrevo sobre ele. Nos dias bons, nada se compara a isto. Mais. No meu trabalho eu faço coisas tão incríveis como ler jornais e ler livros, ver filmes, ouvir músicas, assistir a espetáculos, ir a concertos, falar com pessoas, falar com pessoas interessantes. Conseguem imaginar? Há muito trabalho chato, que há, fazem-se muitos textos de treta e perde-se muito tempo com coisas sem importância, é verdade, e às vezes quase perdemos a cabeça com a incompetência que nos rodeia, mas, de vez em quando, há dias, há momentos, que compensam tudo. O meu trabalho obriga-me a crescer, a descobrir o mundo, a dar atenção a coisas a que nunca teria chegado sozinha. Pode ser a Pina Bausch ou a Miley Cyrus, a sério. Sair da zona de conforto. Absorver. Reflectir. Ver de outra forma. O prazer de me sentar numa sala escura a meio da tarde e ver, em primeira mão, um daqueles espetáculos que nos reviram por dentro. Ou de visitar uma exposição guiada pelas explicações pormenorizadas do seu criador. Ou de acompanhar a rodagem de um filme, que está a nascer ali mesmo, à minha frente. Os nervos antes de uma entrevista com um daqueles artistas que adoro. Ou as longas conversas com algumas daquelas pessoas que fazem mesmo a diferença. Há jornalistas que ganham o dia com uma "cacha". Para mim é isto. A alegria de aprender e de me surpreender. De chegar ao fim de um trabalho um bocadinho mais rica do que quando comecei.

 

Falta o resto, que é muito, mas enquanto puder continuar a fazer o que faço acho que ainda vale a pena.

publicado às 11:55


5 comentários

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macacagravaporcima 08.10.2013

na mouche minha cara, na mouche
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Sofia Rodrigues 08.10.2013

É isso tudo. Somos pagos (ainda que miseravelmente) para olhar para o mundo e reflectir sobre ele. Todos os dias :)
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CN 08.10.2013

(-_-)

CN
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sílvia borges silva 27.10.2013

é que é isto mesmo todos os dias! (e que blogue fixe, maria joão!)
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vanita 17.05.2016

Li isto e apetece-me chorar...

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