Enfiada em casa nos últimos dois meses, voltei a perceber porque é que pago um balúrdio para ter televisão por cabo (alguém já tentou passar um dia inteiro a ver os imensos e sempre iguais talk-shows que povoam os três canais portugueses?) e porque é que, apesar da quantidade de canais disponíveis, me sinto roubada pela tvcabo (é verdade, são muitos os canais mas são poucos aqueles que a gente realmente vê e mesmo esses têm uma programação pouco variada, repleta de repetições de repetições de repetições, sejam filmes ou programas sobre animais selvagens. As séries que dão à noite repetem na tarde seguinte, noutro dia de manha e no fim-de-semana e ainda podemos intercalar com episódios das temporadas anteriores e, depois, quando acabar, volta tudo ao princípio - é impressão minha ou a primeira temporada da anatomia de grey já deu praí umas quatro vezes?). Posto isto, também já estou fartinha de séries sobre crimes e investigações com cotonetes e provas de adn. Assim de repente, e pensando só nos canais AXN e Fox, estou a lembrar-me das três séries CSI, a patologista, the closer, mentes criminosas, sem rasto, a dos ossos, a que vê os mortos e tenho a sensação que ainda me devem faltar umas quantas. Não há pachorra. Entre assassinios e desaparecimentos, serial killers e raptores, encontrei uma raridade: everwood.
Everwood é uma série familiar sem grande história a não ser as histórias daquela gente numa terra perdida do Colorado, gente que se apaixona e desapaixona, pais, filhos, irmãos e avós, amigos e inimigos. Em everwood está quase sempre frio e cai neve mas às vezes também é outono e pressente-se um calorzinho, e o tempo vai passando e os miúdos vão crescendo e as paisagens são bonitas e aquilo é tudo muito doce, muito caseiro, muito a vida como ela é mas melhor. Quase como uma telenovela, everwood devolveu-me o prazer de ver uma série sobre pessoas normais, sem tentar ser engraçada (como as imbirrantes donas de casa), sem grandes pretensões. Fez-me lembrar os tempos em que eu via os trintões ou o começar de novo (outra assim, nos últimos tempos, só mesmo os irmãos e irmãs) - são séries com gente bonita mas não demasiado bonita, mas sobretudo com boa gente, em everwood não há maus e mesmo quando alguém comete um erro há sempre um momento em que é perdoado, há sempre uma segunda oportunidade, e quando os casais discutem raramente se insultam, as pessoas até se zangam mas vai-se a ver tudo acaba bem porque o mais importante é a família e a amizade. Mesmo sabendo que a série já é antiga e que até já deve ter dado noutros canais, nos últimos dois meses, por volta das cinco da tarde, everwood deu-me a dose diária de pieguice e romantismo, fez-me chorar e acreditar outra vez em contos de fadas. Sim, sou lamechas e pirosa. Posso ler o expresso e interessar-me pela política internacional e, ao mesmo tempo, ler revistas cor-de-rosa e gostar de folhetins, ou não? Se os intelectuais gostam de bola porque não posso eu gostar de everwood? Deixem lá uma miúda derramar umas lágrimas e acreditar que o ephram e a amy vão ser felizes para sempre. (e agora que a série acabou vou ver o quê? as novelas da tvi?)