Ouço-o a cantar em "inglês" numa ladainha de palavras inventadas que soam quase, quase como as verdadeiras cantadas pela Tina Turner, e aquilo sou eu. Sou eu mas com uma agravante. É que ele ainda não tem cinco anos e do inglês só sabe os números até dez, hello, good-bye e pouco mais. Mas eu, eu já devia ter uns doze anos, eu tinha até mais do que isso, já estudava inglês à séria e ainda continuava a cantar as músicas à minha maneira. É que quando era miúda não havia internet (quando eu era crescida também não havia internet, mas não é isso que importa agora) e para nós sabermos a letra de uma música ou ela saía na revista Bravo ou então era preciso que alguém tivesse o disco e copiasse a letra para uma amiga que depois emprestava a outra para copiar, que naquele tempo também não havia fotocópias. Ou então era ouvir com muita atenção e muitas vezes a ver se se entendia alguma coisa. As músicas da minha adolescência eram uma algarviada incompreensível com uns i love you pelo meio. Sabíamos o refrão e mais umas palavras mas era quase impossível perceber tudo e, por isso, a solução era inventar. Eu inventava muito. Eu inventava tanto que, outro dia, num táxi onde tocava a M80, fiquei boquiaberta a ouvir os Marillion cantar "Lavender" e quando cheguei a casa corri para o google só para tirar as teimas. Pois que nunca, nem nos meus sonhos mais ousados, eu com onze anos iria imaginar uma frase como "When I heard the sprinklers whisper/ Shimmer in the haze of summer lawns".