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Diz que a Angelina Jolie e o Brad Pitt estão em vias de se separar. Diz. Este fim-de-semana a actriz deu uma entrevista em que se queixava de que os filhos atrapalham a sua intimidade com o marido, que é como quem diz que as crianças atrapalham as quecas. Tentamos tomar um banho relaxante mas eles estão sempre a aparecer e entram na banheira connosco, contou ela. Pois, não deve ser fácil, como te compreendo, rapariga. Eu leio as notícias e sinto-me assim um bocado aliviada, ufa, afinal eles são humanos como nós. É que quando vejo as fotografias nas revistas parece-me sempre que esta família é tirada de um conto de fadas, estão a ver?, ali estão dois dos mais belos exemplares da nossa espécie, sorridentes e apaixonados, com a sua catrefada de filhos benetton a tiracolo, e sempre felizes e a dizerem como é bom ter seis (seis, meu deus!) filhos, e que apesar dos empregados e tal fazem questão de ser eles a tomar conta das crias. E a gente pensa como é que eles conseguem ser sempre fotografados com este ar maravilhoso, mesmo que andem de socas e camisolas largas, sempre com ar de quem dormiu tudo e está de bem com a vida? Mas estas crianças não choram nem fazem xixi nas calças como as outras? Os gémeos de nome esquisito não acordam a meio da noite para beber o leite? Os putos nunca atiram com os cornflakes para o chão? Não fazem birras? Não levam umas palmadas de vez em quando? Eu não tenho nada contra as famílias numerosas mas sabendo o que sei sobre as famílias mais pequenas, como a minha, fico sempre espantada com esta gente que vem para os jornais dizer que tem sete ou dez filhos e que ainda está disposta a ter mais, que a família é linda e o mais importante é o amor. Ponho-me a pensar: serão humanos? ou sou eu que sou uma mãe completamente inapta? De modos que ao ler as fofocas sobre a (escassez de) intimidade da Angelina Jolie e do Brad Pitt eu até dou um suspiro cá dentro, ufa, afinal eles não são assim tão extraordinários. São mais jeitosos, está bem, mas também se deixam mastigar pela vida como todo nós.

publicado às 09:51

23
Abr09

Beato

Eu prefiro não acreditar a acreditar que há um deus, uma senhora, uns santos ou outra entidade qualquer que se marimba nas desgraças do mundo, que se está nas tintas para as guerras, para os tsunamis, para as crianças com fome, para os refugiados e para a faixa de gaza, que não mexe um dedo para tratar destes flagelos mas que, em troca de umas orações, de umas promessas, de umas velas acesas, de umas caminhadas ou de uns joelhos esfolados no chão de fátima, não se importa de perder o seu tempo a curar dores nas costas e a arranjar empregos para as pessoas deste país triste. É que não consigo sequer perceber como é que alguém há de querer acreditar num deus assim. Um deus, uma senhora, uns santos ou outra entidade qualquer que faz com que corra tudo bem na nossa vidinha, que cuida para que um neto nasça perfeitinho, para que se resolva aquela dívida, para que o negócio avance, para que a doença tenha uma cura, para que o casamento não acabe. Que gasta os seus milagres com as nossas desgraçazinhas apenas porque rezamos o terço e vamos uns quilómetros a pé. Não tem mais nada que fazer este santo? Eu cá prefiro acreditar que se existe um deus ele há de ser melhor do que isso. O meu deus não faz milagres, e ainda bem.

publicado às 10:04

20
Abr09

Tempo

- Olá, bom dia! - disse o principezinho.
- Olá, bom dia! - disse o vendedor.
Era um vendedor de comprimidos para tirar a sede. Toma-se um por semana e deixa-se de ter necessidade de beber.
- Porque é que andas a vender isso? - perguntou o principezinho.
- Porque é uma grande economia de tempo - respondeu o vendedor - Os cálculos foram feitos por peritos. Poupam-se cinquenta e três minutos por semana.
- E o que é que se faz com esses cinquenta e três minutos?
- Faz-se o que se quiser...
Eu, pensou o principezinho, eu cá se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, punha-me era a andar muito de mansinho à procura de uma fonte...


(Antoine de Saint-Exupéry)

publicado às 10:30


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