O meu vizinho de baixo acha que os meus filhos fazem muito barulho. Provavelmente ele tem razão. Os meus filhos são, como dizê-lo?, um pouco enérgicos. Indomáveis, mesmo. Correm, saltam, gritam, um atrás do outro, um à frente do outro, empurrando-se um ao outro. Tentamos minimizar os estragos. Em casa só podem jogar com bolas de pano e andam sempre descalços. Tentamos impedir (embora nem sempre consigamos) que eles arrastem as cadeiras ou que batam com as raquetas no chão. Não os deixamos ligar os brinquedos barulhentos às sete da manhã nem permitimos que andem de bicicleta no corredor. Não somos assim tão desleixados. Verdade seja dita, também não estamos assim tanto tempo em casa. A coisa resume-se a duas horas de manhã e duas horas à noite, a partir das nove e picos entramos em modo silêncio. E ao fim-de-semana, desde que não chova, passamos o máximo de tempo na rua.
Mas eu percebo-o. Deve ser irritante ouvir aqueles pézinhos pequeninos a correrem de um lado para o outro em cima da nossa cabeça. Eu percebo-o mas, como não tenho dinheiro para comprar uma casa com quintal, não posso fazer nada.
Da última vez que o encontrámos no elevador, o meu vizinho de baixo disse-nos, com toda a sua arrogância, que acha que isto é um problema de educação. Provavelmente ele tem razão. Talvez se eu ligasse a televisão para eles verem desenhos animados logo de manhã eles não corressem tanto. Talvez se eu os habituasse a jogar computador antes de dormir a vida do meu vizinho fosse mais fácil. Mas essa não é a educação que eu lhes quero dar. Cá em casa brinca-se. Tanto quanto for possível. E brincar faz barulho, lamento. Os meus filhos têm seis e dois anos (nem isso) e, por isso, é normal que gritem, que corram, que lutem, que brinquem com os carrinhos, que joguem à bola. São crianças.
Se quer mesmo paz e silêncio, meu querido vizinho, acho melhor que compre uns tampões para os ouvidos. Ou então que tente encontrar outro sítio para morar.