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Sou só eu. E é preciso dizer que não é fácil, pois não é, mas também não é nenhum drama.
Sou só eu para pensar em tudo - no almoço e no jantar, nas roupas, na escola, nas atividades, nas festas, nos trabalhos de casa, no acordar, no dormir, nos médicos, no que é preciso comprar, na casa por arrumar, nas contas para pagar, no que não pode falhar. Mas antes também já era eu que pensava em tudo, né? Sou só eu de manhã, para os acordar e preparar para a escola. Mas, vendo bem, já era assim. Sou só eu à noite para os ir buscar e dar banhos e jantar e ler histórias e adormecer. Mas antes também já era só eu.
O mais difícil é não ter plano B. Naqueles dias em que estava mesmo muito atrasada e havia alguém para os ir buscar. Naqueles dias em que se acabava o leite e havia alguém que podia dar um pulinho ao supermercado às tantas da noite. Naqueles dias em que tenho de trabalhar à noite e havia alguém para ficar em casa com os putos. Naqueles dias em que eu queria ir ver um espetáculo ou um concerto, em que tinha um jantar, um aniversário, uma festa e isso não era problema. Naqueles fins-de-semana, de três em três semanas, em que tenho de trabalhar e a vida continuava como se nada fosse. Sou só eu e isso exige uma maior organização. Um planeamento. Ter avós e tios de prevenção. Saber que, sendo mesmo necessário, há amigos que estão disponíveis para ajudar.
E depois adaptamo-nos, claro. Afinal, não sou só eu, somos três e por isso fazemos montes de coisas a três que antes eram feitas a um ou a dois. Ir ao supermercado, por exemplo. Andar para trás e para a frente para cumprir todas as atividades e estarmos presentes em todas as festas de aniversário. Ou não estarmos. Explicar-lhes que, sendo só uma, não consigo levá-los a sítios diferentes à mesma hora, como acontecia antes. Estamos juntos nisto. E os miúdos, há que reconhecê-lo, têm se portado à altura. Como se os laços que antes existiam estivessem agora mais apertados. E sentir isso é muito bom.
Há momentos em que ser sou eu dá uma angústia grande. Por exemplo, quando me ponho a pensar e se me acontece alguma coisa?. Ou quando me apetecia muito mas mesmo muito estar sozinha no meu canto e não posso. Ou quando não me apetecia nada mas mesmo nada estar sozinha com eles mas tem de ser. Ou se eles estão um bocadinho mais frágeis e eu vejo que estão tristes ou com saudades e não há nada que eu possa fazer para os ajudar a não ser dizer que os amo de todo o coração. São momentos. Ajuda muito saber que na verdade não sou só eu. Que não somos só nós. Que há outros que estão connosco nisto. E que há muita coisa boa a acontecer-nos. Que não perdemos a capacidade de rir. Que somos felizes. E somos, isso é que é realmente importante. O resto é só um problema de logística.