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Abrir frascos.
Sempre que fico algum tempo só com um filho penso nisto. Como seria diferente a minha vida se só tivesse um filho. Seria mais calma, mais silenciosa. Sem gritos, nem lutas, nem jogos de bola no corredor, nem putos a discutirem por coisas parvas, sem um a meter-se com o outro, sem aquelas implicações que me moem a cabeça, um a desafiar o outro e vai sair asneira na certa. O meu filho único iria ver muito mais televisão e seria certamente mais calmo e concentrado e muito mas mesmo muito mais bem comportado. Teríamos mais tempo para conversar. E para ficarmos calados. Para irmos às festas e às actividades. Eu poderia dar-lhe toda a atenção do mundo. Isso tudo. E no entanto, se alguma certeza eu tenho sobre isto de educar filhos é que dois são melhores do que um (e mais um ou dois então seriam ainda melhores), que não há nada que se compare a isto de ter um irmão, um igual, um companheiro. Que não há nada que se compare a isto, de ver a amizade e cumplicidade entre eles, mesmo quando lutam e gritam e implicam e me tiram do sério.
Amanhã vamos estar os três outra vez juntos. Só os três. Todos os três.
Vi pouco. Cheguei já a meio da tarde de ontem e tinha que trabalhar por isso só hoje me pus a deambular pela cidade. E foi só isso. Não entrei em palácios nem em museus nem em igrejas nem nada. Entrei em livrarias e em cafés, porque gosto, e não consegui resistir a entrar nesta loja:
Tenho um cabelo branco.
Acabei de o descobrir. Estava aqui no computador, muito entretida a pôr a correspondência em dia, sentada à secretária de um quarto de hotel em Wiesbaden, com um espelho mesmo à minha frente, e eis que levanto os olhos do teclado e lá está ele, o meu cabelo branco. Há quanto tempo andaria a esconder-se de mim, atrás dos outros cabelos? Mas agora ali está. O meu primeiro cabelo branco. Enorme, brilhante, perfeitamente visível com a luz vinda da janela do lado esquerdo. É só um, por enquanto, podia arrancá-lo, não é? Mas será que faria alguma diferença?
O Miguel escolheu esta música para os filhos. Dos Beatles, 'Yellow Submarine'.
A vida é demasiado fugaz. Há que aproveitá-la bem. Fugir da mediocridade e da maldade. Dizer não a quem não nos merece. Correr riscos. Dizer amo-te sempre que amamos. Não nos podemos dar ao luxo de não tentarmos ser felizes. Ou de virar as costas às oportunidades que surgem para sermos um bocadinho mais felizes. A vida é demasiado fugaz. E é a única que temos. Temos que vivê-la por inteiro para chegarmos ao fim com a certeza de que demos o nosso melhor.
Hoje perdemos um dos melhores de nós.