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05
Fev15

Ir a pé

Hoje vi este vídeo e pensei: é mesmo isto. Eu, pessoa que anda de transportes públicos e que nem sabe como fará se um dia não puder ir de metro para o trabalho, pessoa que odeia quando por algum motivo tem que andar de carro logo pela manhã e parar em filas de trânsito e procurar lugar para estacionar e demorar o triplo do tempo que demoraria se não tivesse carro, eu sempre escolhi escolas que ficam perto de casa e que me permitem fazer todos os percursos a pé. Mesmo quando os miúdos eram bem pequeninos. Já mudámos de escola, já mudámos de casa, sempre no mesmo bairro, e continuamos a andar a pé, seja às 8 da manhã ou às 7 da noite, até quando está a chover e temos que abrir os chapéus e ficamos um bocadinho molhados. Faz parte. Antes de mais, andar a pé facilita-me a vida e põe-me bem disposta. Enquanto caminhamos esquecemos aquele stress matinal do despacha-te, acaba o leite, lava os dentes, despacha-te. E também é bom para descomprimir do stress do trabalho ao final do dia. E depois há aquele lado de nos sentirmos parte do bairro, apesar de o nosso não ser um daqueles bairros típicos que são como pequenas aldeias. Ainda assim. As porteiras da nossa rua conhecem os miúdos e metem-se com eles. As crianças divertem-se a brincar e a correr pelos passeios, sabem onde devem atravessar, sobem aos muros, escondem-se em recantos, desaparecem-me da vista, mas conhecem bem os limites até onde podem ir. Temos amigos na loja dos jornais. Já nos conhecem na farmácia. Na barbearia. Na mercearia. Na piscina que também fica mesmo ali. Na churrasqueira onde desenrascamos um jantar de vez em quando. Na cervejaria onde vamos comer caracóis nos dias de calor. Sentamo-nos sempre na mesma mesa no café do senhor João. Quando os dias começam a ficar mais longos paramos no parque infantil onde está sempre algum amigo. E ainda há mais uma coisa. Acho que andar a pé ajuda os miúdos a terem consciência do mundo à sua volta e a apropriarem-se dele, naturalmente. Estamos a treinar e não faltará muito para que o António comece a ir para a escola sozinho. Nesse dia o despertador poderá tocar uns 20 minutos mais tarde (não parece muito mas faz toda a diferença) e as nossas manhãs serão infinitamente mais calmas. Mal posso esperar.

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publicado às 19:29

Em junho do ano passado, sentámo-nos no chão de uma sala de ensaios, pernas cruzadas, a conversar. Ela com aquele sotaque engraçado a falar-me de como decidiu ser bailarina, da mãe a dizer-lhe "o teu corpo não foi feito para dançar", da Julieta e do Cisne, das horas passadas no estúdio, repetição, repetição, do filho e das lesões, da despedida do palco que ia acontecer daí a dias, com a Giselle. Lembro-me que se emocionou. Agora, a Barbora Hruskova está de volta ao palco. Não vai dançar como antes. Não vai dar o máximo nos saltos e piruetas. Vai dançar apenas aquilo que o seu corpo de 42 anos lhe permite e vai falar com o público, contando-lhes como é ser bailarina profissional e como é deixar de ser bailarina. Como é sentir dores e sentir prazer nessas dores.

O espectáculo A perna esquerda de Tchaikowski, com encenação de Tiago Rodrigues e a participação do pianista Mário Laginha, é de uma beleza rara. E vai ficar no Teatro Camoes, em Lisboa, até 15 de fevereiro.

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Foto de Nuno Pinto Fernandes/ Global Imagens

publicado às 09:20

05
Fev15

Pão e circo

Andas a entreter-nos com filmes, músicas e essas cenas só para não falares da tua vida, queixa-se uma amiga que costuma ler o blogue. É verdade. Fui apanhada. Não me tem apetecido muito falar da minha vida. Mas isso não é necessariamente mau. Fiquem descansadas, pessoas que passam por aqui. A vida vive-se.

publicado às 00:06


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