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(correr do trabalho para o teatro) Sair do teatro reconfortada, com aquela sensação de que tinha participado num momento especial. Encontrar ali mesmo, por acaso, uma amiga querida, partilhar uma tosta de atum e beber um copo de vinho na Bica enquanto converso e rio com a Clara como fazíamos há 14 anos e ainda tínhamos tantas ilusões. Descer a rua para ir ter com o meu abraço. Dançar ao som dos Cure e dos Smiths e dos outros. Sorrir até me doerem as bochechas. Dormir pouco. Acordar cansada e pensar que a vida é boa. (sair de casa a correr para trabalhar)
"Quando em meu mudo e doce pensamento
chamo à lembrança as coisas que passaram
choro o que em vão busquei e me sustento
gastando o tempo em penas que ficaram.
E afogo os olhos (pouco afins ao pranto)
por amigos que a morte em treva esconde
e choro a dor de amar cerrada há tanto
e a visão que se foi e não responde.
E então me enlutam lutos já passados,
me falam desventura e desventura,
lamentos tristemente lamentados.
Pago o que já paguei e com usura.
Mas basta em ti pensar, amigo, e assim
têm cura as perdas e as tristezas fim."
William Shakespeare, tradução de Vasco Graça Moura.
"Assim que dez pessoas sabem um poema de cor, não há nada que a CIA ou o KGB ou a Gestapo possam fazer. Esse poema vai sobreviver", terá dito George Steiner. Este é o soneto "30", citado por Boris Pasternak, decorado pela avó Cândida, aprendido ontem à noite por dez pessoas em By Heart, de Tiago Rodrigues, no Teatro Maria Matos. Trouxe o poema na cabeça e num papelinho cor-de-rosa metido na mala. O espetáculo é uma pequena maravilha.