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Queria ter colocado esta imagem no post de ontem mas depois entusiasmei-me com a escrita e acabei por me esquecer. De qualquer forma, vamos sempre a tempo de nos derretermos com as ilustrações da Mari Andrew:
A Lina senta-se ao meu lado ou à minha frente ou pelo menos perto de mim há... quanto tempo?... eu vou dizer há uma meia dúzia de anos, mas sem grandes certezas. Conversamos quase todos os dias e temos vindo a descobrir que temos muito em comum para além do lugar onde trabalhamos. Nas preocupações que temos com os miúdos. Naquilo que pensamos do jornalismo. Na luta contra a discriminação das mulheres. Partilhamos muitos pontos de vista. Mas nem sempre concordamos. Por exemplo, temos gostos muito diferentes no que toca à roupa que usamos. E a homens. E há ainda aquela questão dos pullovers (private joke). E há o Trump.
E desta vez, amiga, por muito que goste de ti, já deves ter reparado que não vou concordar contigo. Eu percebo o que queres dizer. Achas que estamos a dar-lhe demasiada atenção e a amplificar gestos e palavras desprezíveis. Eu percebo e concordo contigo se estivermos a falar de um desses bloguistas ou gurus ou outra gente armada ao pingarelho que aparece de repente na televisão e nas revistas a botar postas de pescadas. São opiniões que não interessam. E dar-lhes tempo de antena só vai dar-lhes mais poder e enriquecer as suas contas bancárias. É preciso ignorar mesmo.
Mas Trump é o presidente dos Estados Unidos da América e, quer queiramos, quer não, este homem foi eleito pelos americanos, é apoiado por muita gente e tem, de facto, muito poder. Tem poder para estragar a vida aos americanos e tem poder para estragar a nossa vida, de tantas maneiras, directas e indirectas, que é assustador. Por isso, sinto que temos que estar vigilantes. E que devemos denunciar as suas mentiras. E que não podemos calar-nos perante frases e tomadas de posição que vão contra aquilo em que acreditamos. Não, não devemos perder tempo com o seu penteado, a sua mulher, os seus passos de dança e todo o folclore em volta da figura. Mas temos que prestar atenção ao que de facto interessa, que são as suas decisões e actos políticos. Se em dois dias já aconteceu tanta coisa - foram apagadas as referências ao aquecimento global no site da Casa, foi decretado o fim do Obamacare, foi eliminada a versão em espanhol do site da Casa Branca (que tinha sido criada por Obama), foi decretada uma guerra aos jornalistas que não alinhem na versão oficial da verdade de Trump e aprendemos o que são "factos alternativos" - temo que coisas muito piores virão a acontecer à medida que o senhor tomar efectivamente o poder nas suas mãos.
Claro que não adiantará de nada aquilo que eu digo ou escrevo aqui ou no meu facebook, mas, como costumo dizer, uma voz é como um voto, sozinha é impotente mas se formos muitos há de ter algum efeito. Nem que seja só alertar meia dúzia de pessoas à minha volta. Isto quer dizer que, amiga, ou mudas de lugar ou vais levar com Trump mais vezes do que gostarias :) (smile)
E ainda:
- um texto para nos fazer pensar sobre os motivos que levaram tantas pessoas a votar em Trump. temos de pensar sobre isto, tentar perceber para tentar encontrar uma saída.
- foi lindo ver as marchas das mulheres no sábado. a iniciativa superou em muito as minhas expectatitvas (e as expectativas da própria organização). mesmo que não sirva para mais nada, já serviu para que os opositores a Trump nos vários cantos dos EUA e nos vários cantos do mundo saibam que não estão sozinhos. vejam algumas imagens AQUI.
- uma exposição em Nova Iorque com fotografias de outros protestos. parece que não tem nada a ver, mas tem.
De vez em quando, faço umas visitas ao Quarto das Brincadeiras, que é um sítio que tem todos os dias sugestões de actividades para os mais pequenos, procurando sempre que sejam diferentes e acessíveis. Além disso (e isto é muito importante), aqui não se escreve de cor ou confiando em press releases. Ou já experimentámos como mães ou andámos a fazer perguntas como jornalistas, ou ambas as coisas.
Hoje, por exemplo, apresento-vos A Princesa e a Ervilha.
Tem estado um bocadinho de frio, é verdade, mas, guess what?, estamos no inverno. A mim preocupa-me mais eu ter estado no natal a passear no alentejo sem precisar de um casaco ou até o facto de praticamente não ter chovido nesta estação (diz que lá para quinta-feira talvez chova mas nunca se sabe). Se puderem, agasalhem-se como deve ser, com botas, camisolas, casacos, cachecóis, luvas, gorros, tudo a que têm direito, e depois vão para a rua e aproveitem o sol. Isto, claro, se não estiverem a trabalhar este fim-de-semana, como eu.
Três sugestões:
1. A Noite da Iguana é a última peça do ciclo que os Artistas Unidos dedicam a Tennessee Williams. Eu sou suspeita porque gosto muito do Tennessee Williams mas acho que este texto é mesmo bom. O espetáculo é encenado por Jorge Silva Melo e tem ali alguns pormenores que me desagradam (o ruído provocado pela galeria de personagens secundárias reduzidas a caricaturas é bastante perturbador em alguns momentos) mas depois ganha-nos nas cenas mais íntimas interpretadas por um trio de luxo: Nuno Lopes, Maria João Luís e Joana Bárcia (reparem na Joana, como ela encontra o tom certo para a sua Hannah).
Esta fotografia é de Leonardo Negrão/ Global Imagens. E a Iguana está no Teatro São Luiz, em Lisboa, até 5 de fevereiro.
2. Quando o Paulo Barata, um querido ex-colega, me falou há já uns tempos da sua paixão pelos letreiros antigos e da colecção que estava a construir com a sua mulher, Rita Múrias, eu nunca imaginei que eles conseguissem mesmo fazer uma exposição como esta, Cidade Gráfica, que pode ser visitada até 18 de março no Convento da Trindade, no Chiado. A exposição foi montada em parceria com o Mude - Museu do Design e faz-nos recuar no tempo e passear por uma Lisboa que já não existe, cheia de néons e letreiros luminosos a indicarem-nos alfaiates, telefones públicos e outras raridades (até jornais...). Uma pequena delícia. A entrada é livre, aproveitem.
3. É uma marcha das mulheres mas é também uma marcha de quem quiser ir lá marchar e mostrar a sua preocupação em relação a um período que se adivinha negro para os direitos humanos. Nos EUA mas não só. Pelo que andei a ler da organização portuguesa, será uma marcha contra tudo o que achamos que está mal, desde a precariedade salarial ao neo-fascismo, para lembrar alguns políticos que o aquecimento global não é uma invenção e que os refugiados são um problema de todos. Imagino que será uma salganhada mas ainda assim não posso deixar de simpatizar com uma causa que tem como slogan #don'tbetrump ou #nãosejastrump. E já que não podemos fazer mais nada ao menos vamos para a rua gritar. As manifestações acontecem sábado, em muitos locais do mundo. Em Lisboa, a concentração é em frente da Embaixada dos Estados Unidos da América às 15.00.
A propósito: uma música nova para aquecer, para dançar e para protestar, tudo ao mesmo tempo:
Arcade Fire, I Give You Power
O Miguel Seabra é uma das minhas pessoas preferidas no teatro. Conheci-o em 1998, no momento em que ele voltava aos palcos depois de um AVC, para fazer Ñaque, ou sobre piolhos e actores. Eu não sabia isso. Eu não sabia muitas coisas naquela altura. De então para cá, tenho visto, sempre que possível, os espectáculos do seu Teatro Meridional (já falei deles AQUI, AQUI, AQUI e AQUI) que este ano comemora os 25 anos. Aproveitei esse pretexto para falar um pouco com ele. Estivemos duas horas a conversar e ficou tanto por dizer, tanto. E depois ficou tanto por escrever, tanto. Um dia vou conseguir escrever um texto que diga tudo o que eu acho que deve ser dito sobre o Miguel e sobre o seu teatro de beleza rara. Por enquanto, tenho este texto. E as peças que aí estão para serem vistas.
Fotografia de Gonçalo Villaverde/ Global Imagens
O Pedro fez um "projecto" sobre a sua viagem ao Brasil. Levou para mostrar aos colegas a bolsa da TAP que trouxe ao pescoço na sua viagem-aventura de 11 horas sem adultos-amigos por perto, um búzio onde se ouvia o mar de Garopaba, fotografias de muitos mergulhos e histórias de um natal com calor e de uma passagem de ano na praia. De tudo o que aconteceu na viagem o que mais interessou os amigos, o que eles foram contar aos pais nessa noite em casa, o que todos, grandes e pequenos, me perguntaram nos dias seguintes, com ar preocupado foi: "É verdade que o Pedro foi mordido por um cão?"
É verdade, ali está a foto, em baixo, à esquerda, a comprová-lo.
Não sei porquê, achei que esta pequena história tinha tudo a ver com o congresso dos jornalistas.
No seu último discurso como presidente americano, Barack Obama enunciou os perigos que ameaçam a democracia - do racismo à falta de educação, à desinformação ou até à burocracia - e os desafios que o país enfrenta - seja a questão ambiental ou a recuperação económica. Deixou uma palavra contra os fanatismos e contra a intolerância. E lembrou os americanos (lembrou-nos a todos) que a democracia é feita por todos os cidadãos. E todos somos responsáveis por ela. O presidente está lá para servir o país e não o contrário. Não é preciso concordar com tudo o que ele diz para admirar este homem. Ouçam-no que vale muito a pena.
Algumas das melhores fotos de Pete Souza, o fotógrafo oficial da Casa Branca, estão AQUI.
E AQUI está o último discurso, igualmente brilhante, de Michelle Obama.
Vamos ter muitas saudades destes dois, pois vamos.
Estávamos na praia, no sábado à tarde, quando soube da morte de Mário Soares. Tentei explicar aos meus putos quem tinha sido este homem. A mãe fez a campanha dele quando se candidatou a presidente da república, disse-lhes. O que é fazer campanha?, perguntou o António. Ups. Isto está pior do que eu pensava. Senti-me a pior mãe do mundo. Em que momento é que nos afastámos assim da política? Em que momento é que a política passou a ser uma coisa "deles" em vez de ser coisa nossa? Pensar um pouco nisso. Tentar mudar isso. Este será o meu tributo a Mário Soares.
Uma noite, depois do horário normal de trabalho, peguei nos meus filhos e fomos para o fim do mundo de Alcochete. Jantámos umas bifanas num café manhoso, depois eles ficaram muito atentos a ouvir as entrevistas que fiz às jogadoras do sporting e, por fim, um frio de morte e eles divertidíssimos a correr por ali enquanto eu assistia ao treino. Chegámos a casa já tarde e no dia seguinte havia escola. Eles não protestaram. Nunca protestam. Não exijo deles este tipo de coisas muitas vezes mas de vez em quando tem de mesmo ser. Nesta aventura que tem sido estarmos os três sozinhos todos os dias temos aprendido muito sobre o que é viver em família, o que é viver numa família onde só há um adulto e não temos plano B. E os meus filhos, há que dizê-lo, são fantásticos.
O resultado saiu no jornal no sábado mas ainda pode ser lido AQUI. Foi uma ideia minha e deu-me um gozo enorme. Para uma reportagem feita nas horas vagas e na horas extraordinárias, até nem está mal, mas a minha opinião é obviamente suspeita.
O ano novo começou hoje, no aeroporto, quando os miúdos correram para os meus braços com aqueles sorrisos maravilhosos. Nunca como passas à meia noite, nem subo a cadeiras nem uso cuecas azuis e há muito que deixei de estrear roupa nova neste dia. Nos últimos três anos também não tenho podido abraçá-los quando se soltam os foguetes e se abrem as garrafas de espumante. Seja. O ano novo começou hoje e já está a ser fantástico.
Dream, baby, dream. Bruce Springsteen.
Ele diz sonhar, eu digo acreditar, ainda, mais uma vez, as vezes que forem necessárias.