Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
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Há dez anos, os blogs não eram como agora. Pelo menos que me lembre. Ainda não havia gente que vivia disto, nem posts patrocinados nem agências de comunicação a mandar mails que começam com "cara blogger", os bloggers não era convidados para eventos nem recebiam sapatos pelo correio nem tinham férias pagas. Há dez anos, os blogs eram espaços para escrever e para debater ideias, havia ainda muitos blogs colectivos e havia realmente discussões políticas que passavam por aqui. Os que sonhavam ser escritores publicavam em blogs os seus primeiros contos, os que sonhavam ser opinadores estreavam-se nas crónicas, os que sonhavam ser políticos tiravam o maior partido deste fórum público. Havia alguns blogs mais pessoais, que falavam do quotidiano.
Este começou assim. Em julho. O primeiro texto foi publicado no dia 18 mas andou a ser escrito durante semanas se bem me lembro, não era uma coisa qualquer. O que é que eu esperava disto? Não muito, quer-me parecer. Tal como agora. 2007 foi um desses anos em que sentimos a vida a mudar. Apeteceu-me ter um blog para escrever sem regras, sem editores, sem agenda - sempre soube que não tenho grande veia literária, deus me livre de escrever ficção, mas talvez me descobrisse uma cronista de mão cheia. Não aconteceu. Rapidamente o blog se tornou um diário, um espaço de desabafos, de apontamentos sem a mínima importância, outros que só são importantes para mim. O meu sítio.
No início só disse a meia dúzia de amigos para virem ler isto. Depois uns foram dizendo a outros, começaram a aparecer por aqui amigos mais distantes, a família, os conhecidos e até os desconhecidos, de vez em quando há um texto que é mais partilhado e vem muita gente cá espreitar. Nesses dias fico um bocadinho aflita, é como se de repente uma cambada de estranhos me entrasse pelo porta dentro e eu a pensar que não limpei bem a casa e o que é que eles vão ficar a achar de mim. Hoje já não tenho problemas em que saibam que a Gata sou eu mas achei que seria mais divertido continuar a não assinar. Quem ler com atenção facilmente percebe. Quem sabe sabe, quem não sabe paciência. E também não é como se tivesse assim muitos leitores.
Houve alturas em que, vendo outros blogs a ganharem notoriedade, pensei que poderia esforçar-me para também ser uma blogger como deve ser, mas logo percebi que não tenho feitio para tal. Que não me iria dar prazer e, sinceramente, para fazer coisas de que não gosto já tenho o resto da vida. Só escrevo quando me apetece e sobre o que me apetece. Quando isto for um esforço, será algo completamente diferente.
E por aqui estou há dez anos. Confortavelmente. No meu cantinho. Mesmo que ninguém leia, mesmo que ninguém goste, este sítio tornou-se uma parte da minha vida. Não só porque gosto realmente de escrever aqui - pode não parecer, mas perco mesmo muito tempo a pensar no que vou escrever e na maneira como quero escrever, a escolher as fotos, os links, as frases, posso passar horas nisto até acertar no post tal como o quero publicar (e passo horas a fazer posts que depois acabam por não ser publicados) - mas também porque também gosto muito de vir aqui ler os posts mais antigos. Eu sei que isto é capaz de ser um pouco narcísico, mas este blog é como os meus álbuns de fotografias, uma maneira de eu fixar momentos, pensamentos, sensações, de não me esquecer de algumas coisas e de me organizar por dentro. Escrevo sobre a minha vida, os meus filhos, os livros que leio, os filmes que vejo, aquilo que me preocupa, as coisas boas da vida, algumas coisas menos boas. Escrever para os outros é muito diferente de escrever num caderno, ajuda-me a elaborar melhor as minhas ideias, obriga-me a fundamentar opiniões, a focar-me naquilo que interessa. Também por isso é tão importante escolher bem o que publico. Olhando para trás, há textos que eu hoje escreveria de maneira diferente mas são poucos aqueles que me arrependo de ter escrito ou que sinto como desnecessários. Dentro da futilidade que é ter um diário público, tento encontrar aqui o equilíbrio (o meu equilíbrio) entre o que guardo e o que mostro.
Assim vamos. Enquanto valer a pena.