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Perdi a conta aos meses que demorei a ler a autobiografia de Bruce Springsteen. Acontece que deixei de andar de transportes públicos e era aí, nas viagens de metro ou enquanto esperava pelo autocarro, que eu mais lia. E, o que é pior, eu não deixei de andar de transportes para andar de carro, não, eu passei a andar a pé. Ora o livro do Bruce é um belo calhamaço, não é um daqueles livros que se carregue facilmente numa mochila um dia inteiro, por isso ficava sempre em casa. Para ler à noitzzzzzzzzz. Enfim. Só agora, nestes meses de "férias" (dos putos), quando a nossa rotina abrandou, é que consegui ter realmente tempo para ler sentada no sofá. E lá acabei as 570 páginas.
Maluquinha por biografias como sou, é claro que gostei. Sabia muito pouco da vida do Bruce Springsteen, como aliás sei muito pouco da sua música. Nunca foi um dos meus músicos preferidos, é um daqueles que tenho vindo a descobrir nos últimos anos e que me foi conquistando mais até pelas suas atitudes, pelas suas palavras, pela sua energia, e daí para a música. Neste livro, ele conta com muitos pormenores toda a sua infância, as memórias da família, as primeiras experiências na música. E depois vai intercalando a vida pessoal com a música e os discos. A casa no campo, os filhos, aprender a andar a cavalo, a alegria de estar em cima do palco, o dia em que entrou no estúdio dos Rolling Stones para cantar ao lado de Mick Jagger. E fala muito da depressão - de como a doença o tem afectado ao longo da vida, algo que eu nem sequer imaginava. É muito bom quando se lê uma uma autobiografia e se sente que a pessoa está a ser honesta, não é preciso que nos conte tudo, tudo da sua vida, basta que seja honesta e que se perceba que aquela é a sua voz (e não de um ghostwriter qualquer).
Ainda assim, duas notas:
1) um bocadinho de edição não faria mal nenhum neste livro (não sei se é defeito profissional, mas acho sempre que a maioria dos livros só teria a ganhar se houvesse alguém que cortasse todas as repetições e tornasse tudo mais conciso);
2) ainda não foi desta que consegui ler um livro traduzido como deve ser. É inacreditável a quantidade de más traduções que existem por aí, a quantidade de frases mal construídas, de coisas sem sentido que se lêem em livros de todas as editoras (até mesmo das boas editoras). Complica-me muito com os nervos e tenho a certeza que este é o principal motivo porque leio pouquíssimos livros traduzidos. Uma pessoa está a ler um Paul Auster ou um Hemingway e não dá para acreditar que eles tenham escrito assim. Às vezes basta uma palavra errada no meio de uma frase para ter vontade de pôr o livro de lado. Como, por exemplo, aqui, a palavra "letras":
Eu sei que parece uma coisa de nada mas isto repetido ao longo de um livro pode mesmo afastar um leitor. E seria uma pena, porque aqui ele está a falar de uma música lindíssima e que, já agora, fala desta América racista que não pára de nos surpreender:
"American Skin"