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Os jornais portugueses estão a morrer porque não fazem jornalismo. Ou fazem-no pouco. Ou fazem-no mal. Claro que há o problema do negócio e das vendas e da internet. Claro que o papel irá desaparecer, mais cedo ou mais tarde, porque há cada vez menos pessoas a comprar jornais em papel. Mas os jornais podem existir sem papel. Teríamos que pensar seriamente sobre isto mas se houvesse jornalismo como deve ser seria possível. Os jornais estão em crise porque não souberam gerir as mudanças nem adaptar-se e acharam que ia ser tudo como era no início dos anos 90. Os jornais estão como estão porque as empresas estão em falência mas os administradores continuam a achar que é mais importante gastar dinheiro em almoços e carros e outras mordomias de uns quantos do que pagar mais do que 800 euros a jornalistas qualificados. E quando têm que cortar nas despesas não cortam nos cartões de crédito, cortam nos jornalistas. Para que é que eles servem mesmo? Os jornais estão a desaparecer porque, chegadas a uma situação de desespero, as pessoas que mandam nos jornais estão mais preocupadas com os cliques do que com confirmar uma notícia antes de a copiar de algum site, mais ou menos fiável, e esquecem completamente todas as regras básicas do jornalismo e às vezes até as regras básicas do bom senso. Acima de tudo, os jornais estão a morrer porque houve quem se esquecesse que a função dos jornais é fazer jornalismo. Não é fazer umas coisas giras. Não é dar dicas. Não é estar na moda. Não é reproduzir as patacoadas das redes sociais. Para isso tudo já existem outros sites e blogues e contas de instagram. E, vá lá, os jornais até poderiam fazer isso tudo, se fosse bem feito. Mas deveriam sobretudo fazer outras coisas. Deveriam ser outra coisa.  

Isto é o que eu acredito.

E, pelos vistos, é aquilo em que acredita também A.G. Sulzberger, o novo publisher do The New York Times. Este é o seu compromisso. Espero bem que não sejam só palavras ocas:

"Much will change in the years ahead, and I believe those changes will lead to a report that is richer and more vibrant than anything we could have dreamed up in ink and paper. What won’t change: We will continue to give reporters the resources to dig into a single story for months at a time. We will continue to support reporters in every corner of the world as they bear witness to unfolding events, sometimes at great personal risk. We will continue to infuse our journalism with expertise by having lawyers cover law, doctors cover health and veterans cover war. We will continue to search for the most compelling ways to tell stories, from prose to virtual reality to whatever comes next. We will continue to put the fairness and accuracy of everything we publish above all else — and in the inevitable moments we fall short, we will continue to own up to our mistakes, and we’ll strive to do better."

Que venha 2018 e vamos ver o que é que isto dá. Aqui e do outro lado do Atlântico.

publicado às 01:40


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