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Nunca tinha ouvido falar desta Fran Lebowitz até ela me aparecer com cara de poucos amigos num destaque da Netflix. Fui ao Google e fiquei mais descansada, afinal ela não é assim tão importante e é verdade que eu sou meia desligada do mundo mas desta vez a minha falha não era gritante. Aos 70 anos, Fran Lebowitz é conhecida sobretudo pelas crónicas que escreveu quando tinha 20 e poucos anos. E depois por ser uma pessoa que diz tudo o que pensa e di-lo com muita piada. Aquilo que gosta mais de fazer é ler. A segunda coisa de que gosta é conversar. Com um enorme sentido crítico e muito humor, Fran tornou-se uma comentadora do quotidiano. Nos últimos anos, viveu disso mesmo: pagam-lhe para participar em conversas públicas e dar a sua opinião sobre todos os assuntos (menos política). Além de ser uma intelectual, Fran Lebowitz é aquilo a que costumamos chamar "uma figura". Não tem telemóvel nem computador, vive sozinha com os seus 10 mil livros e sem internet. Gosta de comer fora, de conviver com os seus amigos e de ir a festas. Mas odeia todos os contactos sociais fora do seu círculo. Fran não faz qualquer esforço para ser simpática ou para ser gostada e essa antipatia faz parte do seu charme. Odeia desporto, odeia turistas, odeia viajar, evitar sair de Manhattan (a não ser em trabalho) e nunca vai de férias. A sua curiosidade ou preocupação em relação ao mundo resume-se a isto: afecta-me ou não me afecta? É por isso que o seu principal assunto é Nova Iorque.
Vi, de uma vez só, a minissérie Pretend It's a City, na qual Fran Lebowitz conversa com o amigo Martin Scorsese sobre a sua vida e a cidade. É só isto. Mas isto muito bem feito, muito bem realizado, muito bem editado, com música escolhida a dedo. Isto com muita graça. Ela a gozar com o mundo e consigo mesma mas a dizer umas verdades pelo meio. São episódios curtos, não dá para ficarmos aborrecidos. E, surpreendentemente, podemos acabar por gostar um bocadinho desta mulher rabugenta.
No final, deixa este conselho aos jovens e não só (escrito há 40 anos mas bastante actual):