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Ando um pouco assoberbada de trabalho e de vida (o que é bom) e não consegui escrever sobre duas séries que vi há já uns tempos, tão diferentes e, ao mesmo tempo, ambas a fazerem-me pensar muito nisto que é ser mulher em 2020 e troca o passo, no que é envelhecer, no que queremos fazer e aproveitar nesta vida que é, vai-se a ver, tão curta. O outono dá-me para andar mais reflectiva, não se admirem.
Continuo nas histórias de mulheres, como se vê.
Não tenho tempo para elaborar muito, mas ficam, ainda assim, as sugestões.
I may destroy you (na HBO), da fabulosa Michaela Coel, fala sobre violação e trauma, sobre consentimento e sobre o machismo que perdura, mesmo quando achamos que já não. A acção passa-se em Londres, entre um grupo de pessoas de vintes e trintas, alguns hipsters, outros nem por isso. Gente criativa, que faz yoga e frequenta workshops de pintura mas na verdade tem pouco dinheiro. Gente que anda à procura de si mesma. Em luta pelo seu espaço. A querer fazer-se ouvir.
On the Verge (na Netflix), de Julie Delpy (sim, a atriz do Antes do Amanhecer e etc.), apresenta-nos um grupo de amiga quarentonas, com filhos e relações, umas mais felizes, outras mais destruídas. Classe mais alta que média, que vive junto à praia, nos Estados Unidos, mas com os problemas típicos das mulheres que parece que tiveram tudo e no entanto sentem a vida a fugir-lhes por entre os dedos. A crise da meia-idade em tom de comédia, com a ajuda de Elisabeth Shue e a breve aparição de Patrick Duffy (e saber quem é o Patrick Duffy sem precisar de ir ao Google é sinal de que se tem a idade certa para ver esta série).