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28
Fev22

A minha mãe

A minha mãe. Também conhecida cá em casa como avó Mariana. E por quase toda a gente como a professora Nita. A minha mãe queria que eu escrevesse sobre ela e eu nunca fui capaz. Acho que ainda não sou. Só me ocorrem banalidades. Herdei dela as gargalhadas sonoras e as coxas largas. Talvez também o pragmatismo com que encarava os problemas. A mais bonita história de amor é a dos meus pais. Quando eu nasci a minha mãe já só tinha um braço. No entanto, nunca foi uma pessoa deficiente. Trabalhou sempre e fez tudo o que lhe foi possível e até mesmo o que parecia impossível, como bordar a ponto-de-cruz miudinho toalhas de mesa de jantar e fraldas e babetes para os bebés. Ensinou-me a fazer bolos e, o que é mais importante, a gostar de fazer bolos. Dizia-me que eu devia tratar melhor de mim e comprar roupas bonitas e arranjar o cabelo. Gostava de ler os meus textos e sei que tinha um orgulho enorme em mim, mesmo sem haver grandes motivos para tal. Tinha os seus momentos depressivos, tomava comprimidos para dormir e para acordar e para levar melhor esta vida e, apesar das muitas complicações de saúde de que já sofria, só se foi realmente abaixo neste último ano porque soube, desde o primeiro momento, que não iria conseguir. 

A minha mãe morreu na manhã do dia 22 de fevereiro. 

Ainda estou (ainda estamos) a tentar assimilar como é isto de continuarmos cá sem ela. É uma tristeza diferente das outras tristezas. Umas vezes mais presente, outras vezes mais disfarçada, mas uma tristeza que tem estado sempre por aqui nestes dias. 

Ficam as memórias boas. E dessas, felizmente, temos muitas. 

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Esta é a última fotografia que tenho da minha mãe. Tirada no meu último aniversário. Quando ainda acreditávamos.

publicado às 09:23

Dar abraços a uma amiga, conversar, rir, falar de coisas sérias e outras nem por isso, comer bolo de morangos com chantilly sem pensar em calorias, ir ver o filme A Pior Pessoa do Mundo e ficar a pensar na vida e nisto das relações, das pessoas que encontramos por aí e o que elas significam para nós.

Este é o meu tipo preferido de gala.

publicado às 10:25

Kamila Valieva tem 15 anos.

15 anos.

Acho que às vezes nos esquecemos disto.

Kamila Valieva começou a patinar com três anos. Aos seis anos, a família mudou-se de Kazan para Moscovo para que ela pudesse treinar com mais condições. Aos 13 anos participou na sua primeira competição internacional e já começou a fazer história com os seus arriscados saltos e piruetas. 

Kamila Valieva tem 15 anos e é acusada de doping (ela? ela ou quem deveria tomar conta dela?), tem os responsáveis políticos e desportivos do seu país a pedirem-lhe resultados, tem todos os dias a sua fotografia nos jornais do mundo inteiro e não pelas melhores razões, tem toda a gente com os olhos postos nos seus exercícios, tem os jornalistas a queixarem-se de que ela não sorri e que não fala com eles (como se atreve?).

Kamila caiu. Não ganhou uma medalha. Chorou.

Kamila Valieva tem 15 anos e é a melhor patinadora da actualidade. Mas é também só uma miúda.

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publicado às 14:38

Conheci a Valentyna numa daquelas semanas em que só se falava do Rendeiro. As luzes de natal a piscarem, na televisão toda a gente a discutir a fuga do banqueiro e nós sentámo-nos a beber um carioca de limão e ela contou-me como foi difícil decidir deixar o seu país, um dia era professora de biologia na Ucrânia e poucos dias depois era a única mulher loira numa aldeia portuguesa e trabalhava numa fábrica, mas andava maravilhada com as arvores cheias de laranjas mesmo ali à porta de casa. "Comi tantas laranjas que me ficou a doer a barriga", disse, entre gargalhadas. Rimo-nos e emocionámo-nos e no fim despedimo-nos com um abraço apertado e ela deu-me um rebuçado. Há jornalistas que vibram com as notícias em primeira mão, os exclusivos, as cachas, as manchetes. Para mim um dia bom é aquele em que tenho oportunidade de conhecer pessoas boas, de conversar com elas e de ficar a conhecer as suas histórias. Pessoas como a Valentyna, a Zinaída, o Iuri ou a Irma. 

Falei com eles para mais uma edição do Projeto Invisível, a revista sonora da Culturgest. E foi mais uma vez incrível.

Ouçam AQUI a conversa "For Real" feita a propósito do espectáculo Amores de Leste, dos Hotel Europa.

Se quiserem, também podem ouvir o número anterior da revista.

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publicado às 19:37

Coisas que vi neste últimos tempos e que recomendo:

- o documentário Quatro horas no Capitólio (HBO) mostra o que aconteceu a 6 de janeiro de 2021, quando os apoiantes de Trump invadiram o Capitólio, em Washington, no momento em que os congressistas confirmavam a vitória a Joe Biden. Apesar de sabermos como tudo terminou, não deixa de ser angustiante ver como uma turba de gente entrou no edifício, o que diziam, o que queriam fazer, quais as suas ideias. É um documento impressionante.

- o documentário Arthur Miller: Escritor (HBO), realizado pela filha do dramaturgo, Rebecca Miller, é uma viagem à intimidade do autor de Morte de um Caixeiro Viajante para ficarmos a conhecer um pouco melhor este homem que muitos conhecem apenas como o último marido de Marilyn Monroe. Mas que, na verdade, acabou a viver no campo e a fazer mesas e cadeiras na sua carpintaria, casado e muito feliz com Inge Morath, a primeira mulher fotógrafa da agência Magnum.

- o documentário Nureyev (Netflix) permitiu-me saber mais sobre o grande dançarino russo, que eu conhecia tão mal. Um génio com mau feitio mas bom coração, que fugiu para o Ocidente em plena Gurra Fria, dançou com Margot Fonteyn quando já todos vaticinavam o fim da sua carreira, quis fazer algo completamene diferente e trabalhou com Martha Graham em Nova Iorque e morreu com sida quando dirigia a Ópera de Paris. Não esperava mas acabou por ser bastante tocante. 

- o documentário The Great Hunger (Arte TV), que eu descobri por acaso num qualquer comentário no Twitter, acabou por ser uma grande lição de história sobre um tema de que também não sabia muito. A grande fome, causada por uma praga que destruiu a produção de batata, base da alimentação da classe mais pobre da Irlanda, e o modo como a coroa britânica lidou com o assunto, haveria de influenciar a grande vaga emigratória - sobretudo para os Estados Unidos - e também os ímpetos independentistas dos irlandeses. Na sequência, aproveitar para ver um outro documentário sobre a Revolução Irlandesa - de que eu só tinha ouvido falar em filmes (como Michael Collins) e séries (como Rebellion, na Netflix). 

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publicado às 20:14

Eels, "That look you give that guy"

 

Tenho saudades de ter disponibilidade (não é tempo, tempo eu tenho, é mesmo disponibilidade) para ouvir música e sobretudo tenho muitas saudades de me sentar ao lado de pessoas como o JMT, o JP Oliveira, o Moço e o Galopim, que me davam a conhecer músicas novas para eu gostar. Isto sozinha é muito mais complicado. 

publicado às 11:17


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