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Assassinos da Lua das Flores é um belo filme. A mim interessou-me particularmente a história dos índios Osage, de que nunca tinha ouvido falar. A história, baseada em factos reais, é incrível e diz muito sobre a construção da América. Os Osage foram expulsos das suas terras e instalados numa reserva no Oklahoma, um território rochoso e inóspito que, mais tarde, se iria revelar rico em petróleo. Os Osage tornaram-se por isso, subitamente, bastante ricos, puderam construir casas, comprar carros, americanizar-se. Mas também se tornaram alvo de inveja. Uma vez que os direitos às terras não podiam ser vendidos nem comprados, apenas herdados, as mulheres Osage tornaram-se particularmente cobiçadas pelos homens americanos. Muitos casaram com mulheres indígenas que, depois, morriam de forma misteriosa. O filme conta a história verdadeira de uma série de mortes ocorridas na comunidade no início dos anos 20, evento que ficou conhecido na época como "reino do terror". Este foi o primeiro caso de homicídio do então recentemente criado Federal Bureau of Investigation (FBI).
Assassinos da Lua das Flores também é uma história de amor, retorcida mas uma história de amor que poderia ter acabado bem se o Ernest Burkhart tivesse um bocadinho mais de carácter. Ele é apaixonado por Molly mas também é um fraco. Não gostei nada do Leonardo Di Caprio, o que para mim não é surpresa. Demasiados trejeitos, demasiado esforço. Já a actriz Lily Gladstone está fantástica (acabou de ganhar um Globo de Ouro). Molly é uma mulher determinada e tranquila. Aquele olhar dela diz tanto. A serenidade da sua voz.
E, por fim, é uma história do preconceito, que ainda hoje existe. Os americanos tiveram imensa dificuldade em aceitar que os indígenas eram mais ricos do que eles. Podiam até ser seus empregados mas não lhes reconheciam qualquer valor. Os homens até podiam casar com as mulheres Osage mas poucos gostavam realmente delas. De Niro (a fazer de De Niro) ilustra bem esse olhar, ora paternalista ora de desprezo, sobre os indígenas.
São três horas e 40 minutos de filme que talvez pudessem ser só duas horas e meia, é verdade, mas ainda assim gostei muito. Martin Scorsese, que nos brinda com a sua presença na cena final, sabe bem o que está a fazer. Não vi o filme no cinema mas tenho pena porque acho mesmo que merece um grande ecrã. Ou então sou eu que não resisto a um bom filme de época.
Sobre o título: Na tradição indígena os meses são nomeados de acordo com as luas cheias. Em maio, as pequenas flores azuis que floresceram em abril tomando conta da paisagem do Oklahoma acabam por murchar e dar lugar a plantas maiores. Os Osage chamam a este período "the time of the flower-killing moon".