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A primeira coisa que me intrigou foi o título: May December. Vi o filme todo e continuei sem perceber. Tive de pesquisar para saber que "may december" é uma expressão que se refere a uma relação amorosa em que a diferença de idades é muito grande, "may" refere-se ao mais novo, "december" ao mais velho.
May December é um filme de Todd Haynes e acho que isso dá-nos logo algumas pistas. Sabemos à partida que será um filme que nos vai colocar em lugares desconfortáveis. Em zonas cinzentas. Onde as coisas não são exactamente como parecem. Por exemplo, aqui começamos por entrar numa festa de aniversário no jardim, com bolos e churrasco, temos uma família simpática, um casal amoroso, uma comunidade agradável, muitos sorrisos. Mas talvez não haja assim tantos motivos para sorrir. Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton) conheceram-se quando ela tinha 36 anos e ele apenas 13. A paixão acabou com o primeiro casamento dela, afastou-a dos filhos e levou-a à prisão, onde acabaria por dar à luz. Joe não teve oportunidade de ter uma juventude plena, quando os seus amigos estavam a divertir-se em festas ele já estava a trocar fraldas. Mas a relação sobreviveu. Tiveram uma filha e depois um casal de gémeos. 24 anos depois, a sua história vai chegar ao cinema. Elizabeth (Natalie Portman) é a actriz que vai interpretar Gracie. Está a preparar-se para o papel e visita o casal. Eles recebem-na e dispõem-se a colaborar. Isso leva-os a desenterrar memórias e sentimentos antigos, a colocar questões que porventura nunca tinham sido feitas em voz alta. Todas as pessoas "comuns" têm segredos e mentiras. Elizabeth entrevista várias pessoas na cidade, faz perguntas sobre o que aconteceu. Cada pessoa tem a sua visão, criou a sua narrativa sobre o acontecimento, Gracie e Joe também. As aparências iludem (e iludem e iludem, até ser quase impossível perceber onde está a realidade). Elizabeth passa muito tempo com Gracie, observando-lhe os gestos, a maneira de falar, o modo como se veste. A cada cena Elizabeth está mais parecida com Gracie, como se pudesse apreendê-la na totalidade, reviver a sua história, e ela bem tenta. Mas a vida real é mais complicada do que isso.
Mais complicada ainda se pensarmos que o próprio filme de Haynes é baseado numa história real. Esta é uma informação que não é essencial mas que acrescenta mais uma camada a um filme que já tem várias camadas.