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A primeira coisa que me impressionou em A Sala de Professores, o filme de Ilker Çatak, foi a escola. Uma escola alemã com tão boas condições. Sem janelas partidas, sem portas estragadas. Um ginásio bonitinho. Uma sala de aulas agradável. Sem pavilhões pré-fabricados nem amianto. Uma escola verdadeira em Hamburgo. Com muitas bicicletas. Uma escola que disponibiliza produtos higiénicos para as raparigas (num contraste absoluto com as nossas escolas onde muitas vezes nem papel há nas casas de banho). Depois, é inevitável simpatizarmos com aquela professora (interpretação de Leonie Benesch), tão novinha mas tão disponível, com tanta vontade de agir bem e de fazer o melhor pelos seus alunos. E, depois, quase sem darmos por isso, por causa de uns roubos que acontecem na escola e da investigação para tentar descobrir quem será o responsável, aquilo transforma-se quase num thriller e só queremos que acabe depressa porque parece que a cada cena as coisas tendem a correr pior. Sabem aquela expressão "de boas intenções está o inferno cheio"? Acho que se aplica bem aqui. No filme não há moralismos. Só acções e suas consequências.
Mas, apesar da tensão toda, já agora aproveitávamos e reflectíamos um pouco sobre as escolas que temos e como gostaríamos que fossem, em especial no que toca às relações de poder que existem e aos preconceitos que estão por trás de alguns comportamentos. Além desta necessidade urgente, que toda a gente sente hoje em dia, de fazer julgamentos.
A categoria de Melhor Filme Internacional é sempre uma das mais interessantes nos Óscares e este ano não é excepção. Não vi o filme espanhol, A Sociedade da Neve, de J.A. Bayona - sim, está na Netflix, mas não consegui encontrar o mood certo para mergulhar neste filme, talvez mais tarde, logo se vê - mas todos os outros são óptimos e até tenho dificuldade em dizer de qual gostei mais. Além deste A Sala de Professores, também gostei muito de Eu, Capitão, Dias Perfeitos e Zona de Interesse.
Calhou estar a ler Um Cão no Meio do Caminho, de Isabela Figueiredo, na mesma altura em que vi o filme All of Us Strangers, de Andrew Haigh. São obras sobre a perda daqueles que amamos e sobre orfandade. Em ambas, os protagonistas acabam por enterrar a dor numa vida solitária, à margem, incapazes de se dar aos outros, porventura incapazes de amar. Como se a ferida aberta pela perda dos pais numa idade muito precoce (na infância, na adolescência) contaminasse tudo o resto que vem a seguir - e o que vem a seguir é uma vida inteira.
É engraçado pensar que talvez se estas duas obras não tivessem coincidido no mesmo momento da minha vida eu não tivesse dado tanta importância a este aspecto. Até porque não há muito mais semelhanças entre elas.
Em All of Us Strangers, Adam (interpretado por Andrew Scott) é um jovem gay que cresceu nos anos 80 sentindo-se incompreendido e mal amado, sem nunca conseguir ser completamente honesto com os pais, que entretanto morrem num acidente, e, por isso, sem nunca ter a aceitação que desejaria, ainda que os tempos mudem e a sociedade pareça estar mais tolerante - ou talvez não, como comprovará Harry (Paul Mescal). Não quero revelar demais. Só dizer-vos que é tudo muito bonito. Até a tristeza de Adam, o medo com que resiste a entregar-se, o modo como ele imagina o amor e como os seus corpos se vão entrelaçando cada vez mais e deixando cair as defesas. Amar, seja qual for o tipo de amor, é colocar-se numa situação de enorme fragilidade e estar disponível para sofrer mais uma perda. É preciso estar disposto a correr o risco.
Mas é um risco necessário - ou, então, corremos um outro risco, o de passar pela vida sem nos ligarmos verdadeiramente a ninguém e sem sentirmos essa felicidade da partilha. Como se lê na contra-capa de Um Cão no Meio do Caminho: "Precisamos de alguém com quem falar. Não interessa de quê. Precisamos de uma voz humana".
Quem ganhou? O jornalismo e o comentariado políticos estão reduzidos a isto: quem ganhou o debate? quem ganha nas sondagens (bem ou mal feitas)? quem ganha nas redes? Veja ao minuto, agora, instantaneamente. Não vale a pena pensar muito, nós dizemos-lhe já. E quem ganha nem sequer é quem diz mais verdades ou quem tem propostas mais exequíveis, é quem conseguiu gritar mais alto, calar o adversário, ser mais fanfarrão, dizer a frase mais orelhuda. Quem ganha é quem consegue mais aplausos no Twitter, esse mundinho à parte, onde os jornalistas e comentadores vivem e se degladiam, mas que representa muito pouco do que é o país real.
É verdade que já não tinha grandes expectativas sobre o jornalismo que fazemos no nosso dia-a-dia, mas nunca julguei que pudéssemos descer tão baixo como está a acontecer nesta campanha eleitoral. Isto não quer dizer que não haja trabalhos bons, que também os há, atenção. Mas ficam geralmente ofuscados por este festival de comentários e avaliações à la minuta. E é uma pena. Sinto mesmo que não estamos a prestar um bom serviço à democracia - nem aos nossos leitores/ouvintes/espectadores. Mas sinto-me impotente. Limito-me a tentar não contribuir para este barulho.
Infelizmente isto não acontece só em Portugal, felizmente já há muita gente a pensar sobre isto e até já há algumas pessoas a tentar fazer diferente. Através do Jay Rosen , autor do PressThink (só o nome já é bom, juntar imprensa e pensamento é sempre um bom princípio), encontrei este texto, que me parece resumir bem algumas das preocupações que - como descobri recentemente - não são só minhas:
"(...) Horse race political journalism is the shallow end of the craft. It’s easy to do, carries no burden in terms of input or consequence and can spawn a day or so of equally lazy follow ups. It is usually based on polling. A poll of inconsequential quality is used to measure the possible outcome of a looming political contest – usually on the fundamental metrics of voting intention and leadership approval/disapproval. (...) It is always worth remembering and repeating that opinion polling is no more than what it is – the sampling of opinion at a moment in time on a single issue or confined basket of issues. (...) Other factors counting against horse race polling are that it contributes to the prevalent and increasing distrust in politicians – if all the news is focused on the competitive nature of contests and doesn’t delve into the issues voters actually talk about, people will believe politicians don’t care about things like health and education. (...) Pages of stories on horse race aspects of elections and little if any examination of what is at stake in any contest means the voters are ill-informed and slip into not caring. It’s a self perpetuating and self fulfilling problem at once. The ill informed nature of so much political reporting – fed by the horse race obsession – creates an electorate which really doesn’t care because they do not believe anything has any meaning or any election outcome has any consequence. (...) The fundamental criticism of horse race political journalism is the tendency to give emphasis to colour and movement, to drama and shock, over anything or substance or consequence. Substance takes a back seat. (...)".
Andei a evitar Pobres Criaturas, de Yorgos Lanthimos. Há sempre um filme assim, daqueles que toda a gente gosta e que eu, só pelo que vou vendo aqui e ali, já sei que não será o meu pedaço de bolo. Confirmou-se. O ponto de partida até é interessante: o filme pergunta-nos o que é a liberdade, a liberdade plena, e se alguma vez conseguimos ser verdadeiramente livres; e faz-nos ter consciência de como a sociedade nos forma, enforma e deforma de mil maneiras - sobretudo se formos mulheres.
Bella Baxter é uma criança num corpo de mulher. E, no início do filme, é completamente livre. À medida que cresce, que vai aprendendo coisas, descobre o mundo e toma consciência de si e dos outros, a sua liberdade fica diminuída. Mas ela luta contra isso com unhas e dentes. É, segundo algumas opiniões, um modelo feminista. Afinal, estamos todas, nós, mulheres, nessa batalha por conseguirmos sermos quem somos sem ligar ao que nos rodeia e sabemos bem como é um objectivo difícil de alcançar.
A interpretação de Emma Stone é, de facto, bastante boa.
O momento em que se ouve Carminho a cantar o fado O Quarto é realmente bonito - e é a primeira vez em que Bella parece sentir alguma emoção.
Dito isto, não tenho paciência. Nem para cientistas dispostos a encontrar a essência do humano (por muito que adore o Willem Dafoe), nem para filosofias da treta sobre homens e mulheres (por muito que um desses homens seja o Mark Ruffalo), nem para cidades e tempos imaginários, nem para mundos visualmente maravilhosos mas absolutamente artificiais, nem sequer para as infindáveis cenas de sexo - vai sempre tudo dar ao sexo, não é? a verdadeira liberdade é a liberdade de fornicar com quem se quer e como se quer? a prostituição - e a submissão ao desejo dos homens - é um caminho para o auto-conhecimento? vamos ignorar o facto de a madame (que diz umas frases tão "profundas" que até foram escolhidas para o trailer) explorar as raparigas que passam dificuldades? E o facto de o filme terminar com uma vingança maldosa de Bella sobre o homem que a tratou mal (à la Barbie) também não me parece lá grande coisa feminista.
Valham-nos os pastéis de nata, mas com moderação. Nada a ver com etiqueta, é só mesmo para evitar as dores de barriga.
Interrompo esta série de publicações sobre filmes oscarizáveis para vos falar de Baan, o filme de Leonor Teles. Confesso que não ia com muitas expectativas, mas acabou por ser uma agradável surpresa. A protagonista, Carolina Miragaia [uma revelação], encarna toda a inocência, as incertezas e as angústias mas também as esperanças de uma jovem adulta, em Lisboa, no seu dia-a-dia entre trabalho, casa, amigos, e que, tal como outras pessoas da sua geração, está em busca de um sítio - e um sítio também pode ser uma pessoa ou pode ser só um sentimento - a que possa chamar casa. Também há uma história de amor e uma ligação a Bangkok ("baan" quer dizer casa em tailandês). E não sendo perfeito é muito bonito.
Baan está no cinema. Vão que não se vão arrepender.
Como bónus, saímos do cinema a trautear esta música:
Owner of a Lonely Heart, dos Yes (1983)
Um professor pouco popular (falhado seria uma expressão mais correcta), um jovem complicado e a responsável da cantina são os únicos que permanecem num colégio interno na Nova Inglaterra, EUA, durante as férias de natal e, por isso, são forçados a conviver durante duas semanas. Podia ser um filme de natal, e até é em alguns momentos. Mas é sobretudo um olhar sobre as diferentes solidões e a necessidade que tomos temos de amar e ser amados, mesmo quando insistimos em usar carapaças e fingir que estamos bem sozinhos. É um dos meus filmes preferidos da temporada: The Holdovers - Os Excluídos, de Alexander Payne. É um filme aparentemente tão simples, acontecem poucas coisas, vive muito das personagens - e das excelentes interpretações do grande Paul Giamatti, de Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa - e de como elas se vão revelando em gestos e diálogos mais melancólicos ou cómicos ou sentimentais. The Holdovers navega sempre ali entre o bitter-sweet, ora puxando à lágrima, ora fazendo-nos rir. A acção passa-se nos anos 70 e todo o filme respira o ambiente, a música e o cinema dos anos 70, o que também é algo de que gostei muito. E no final aprendemos que a vida tem mesmo de seguir em frente, é melhor ganhar coragem, ultrapassar os nossos falhanços e sair de baixo da tal carapaça. Ou como diria o professor Paul Hunham: atravessar o Rubicão.
Um homem cai do telhado de casa e morre. Pode ter sido um acidente. Pode ter sido suicídio. Pode ter sido homicídio. Os olhos voltam-se para a mulher que após uma investigação é acusada do crime.
Este é o ponto de partida de Anatomia de uma Queda, de Justine Triet. O título é claramente inspirado na Anatomia de um Crime, de Preminger. Mas não só. Em ambos, o alegado comportamento imoral da mulher é invocado para demonstrar a sua culpabilidade. Afinal, uma mulher que flirta com outras mulheres e que é capaz de trair o marido não pode ser inocente, pois não?
Em tribunal, acusação e defesa vão dissecar a vida e a relação de Sandra (interpretação de Sandra Hüller) e de Samuel (Samuel Maleski) em busca de motivos e de desculpas. Há um filho, Daniel, quase cego devido a um acidente. Há culpa e ressentimento. Há inveja entre os dois, que são escritores. Egos feridos. Uma acusação de plágio. Há ciúmes. E problemas financeiros. Há discussões. Exposta assim, perante a juiza, a situação de Sandra não é muito bonita. Mas, convenhamos, que casamento sobreviveria a tamanho escrutínio? Se fôssemos dissecar tudo o que dizemos na intimidade, retirando-lhe o contexto e as nuances que fazem as relações entre as pessoas, de certeza que pareceríamos todos suspeitos. De perto, todas as famílias são infelizes, não é? Os casais discutem, isso não quer dizer que se matem. Um casamento pode fazer sentido mesmo quando já não há paixão. E, no entanto, quando se tenta explicar isso num tribunal parece bastante inverosímil. É esse mergulho na intimidade - na deles, mas podia ser na nossa - que torna o filme tão cativante.
Culpada ou inocente? A dúvida atravessa todo o filme e não sou eu que vos vou dar a resposta.
Caso não tenham reparado, Sandra Hüller, actriz de Zona de Interesse, é a mesma que protagoniza Anatomia de uma Queda. Vi os dois filmes sem me aperceber deste facto, o que diz muito sobre as excelentes interpretações dela - ou sobre a minha cabeça distraída.
Ainda sobre o meu alheamento: na cena inicial do filme, Sandra está a dar uma entrevista a uma jornalista, na sala de casa, quando o marido põe a tocar uma música, no primeiro andar, num volume exageradamente alto. A música é tão incomodativa que a entrevista tem de ser interrompida. Trata-se de uma versão instrumental do tema "P.I.M.P.", do rapper 50 cent, interpretada pelo grupo funk alemão Bacao Rhythm & Steel Band. Aparentemente é uma canção muito conhecida e com um significado misógino, o que tem a sua importância no filme. Como eu não conheço nada de rap nem de 50 Cent esta mensagem passou-me completamente ao lado - mas acho que não prejudicou o meu entendimento da história.
Outro fait divers interessante: o argumento foi escrito por Justine Triet em parceria com o marido, o também argumentista Arthur Harari, que caíram no erro de dizer que se inspiraram em parte na sua própria vida. Agora todos lhes perguntam se o seu casamento está em crise.
Depois de construírem o campo de concentração de Auschwitz, perto de Cracóvia, na Polónia, em 1941 os alemães expulsaram os habitantes da região e estabeleceram uma área de segurança de cerca de 40 quilómetros quadrados em redor do campo - essa era a "zona de interesse".
O filme Zona de Interesse, de Jonathan Glazer, mostra a vida de Rudolf Höss, o oficial nazi responsável por Auschwitz, que morava com a sua família numa pequena moradia paredes-meias com o campo de concentração. De um lado do muro, mais de um milhão de judeus (e não só) foram mortos, gaseados, baleados, queimados. Do outro lado do muro, vivia uma família feliz.
O filme centra-se no dia-a-dia da família de Rudolf (o actor Christian Friedel) e Hedwig (Sandra Hüller). As pequenas coisas de todos nós. As refeições, as botas sujas, as brincadeiras das crianças, o bebé que não pára de chorar, os planos para as férias, os aniversários, a horta onde plantam os legumes. A vida decorre normalmente. "Todos os desejos que a minha esposa ou os meus filhos expressavam eram-lhes concedidos", escreveu Rudolf Höss na sua autobiografia. "O jardim da minha esposa era um paraíso de flores." Os filhos do casal brincavam na piscina do quintal ou nadavam no rio. As crianças recebiam amigos e gargalhavam, enquanto no escritório o patriarca Höss discutia os métodos mais eficazes para aumentar a capacidade dos fornos crematórios.
A câmara de Glazer nunca entra no campo de concentração (nem precisa, todos conhecemos as imagens e elas não saem da nossa cabeça ao longo de todo o filme). Mas Auschwitz está sempre presente. A família apanha sol no jardim e ao longe vê-se o fumo negro que sai das chaminés - permanentemente. Os ruídos que chegam do campo também são constantes mas mais presentes no silêncio da noite: vagões nos carris, cães que ladram, gritos de polícias zangados, tiros disparados, gritos de angústia, o funcionamento dos fornos. Do campo vêm também vestidos, casacos de pele e outras peças de roupa que pertenceram aos prisioneiros. Vêm os pequenos homens que cuidam do jardim, de cabeça baixa. Vêm as cinzas para alimentar a terra. As prisioneiras são boas empregadas e até boas amantes, pelo menos até que alguém se irrite com elas e as condene à morte.
A mãe de Hedwig, que vem de visita e se deslumbra com a casa bonita e a boa vida da filha, acaba por não suportar passar os dias ao lado de uma máquina de extermínio. É a única personagem em que pressentimos algum desconforto com a situação.
Já na sala de cinema o desconforto era óbvio. Penso que é inevitável perguntarmo-nos o que teríamos nós feito se fôssemos alemães naquela altura. Teríamos entrado no sistema, normalizando as mortes, ignorando a violência, olhando para o lado e prosseguido com a nossa vidinha como se não fosse nada connosco?
Porém, não tenho a certeza se todos os que vêem o filme e saem escandalizados conseguem fazer a transição para o presente e pensar nos muitos horrores - pequenos e grandes - que acontecem à nossa volta e questionar o nosso papel nisto tudo. O conformismo. Também nós, todos os dias, insistimos em não ver a tristeza e as injustiças que ficam do outro lado do muro do nosso privilégio. Olhamos para o lado ao passar pelos sem-abrigo nas ruas de Lisboa. Passamos para o canal seguinte se nos deparamos com imagens de uma guerra, seja em Gaza ou num outro sítio qualquer. Não é connosco, não podemos fazer nada, justificamo-nos. Além disso, não é a mesma coisa, aquilo era o Holocausto, dirão. Mas, no fundo, não é assim tão diferente, pois não? Somos cúmplices. Porque é mais simples. Porque nos facilita a vida. Porque também queremos ter o nosso casaco de peles ou os nossos ténis de marca, mesmo que saibamos que foram fabricados por trabalhadores quase escravos em condições miseráveis.
Em 2002, tive oportunidade de visitar os dois campos de concentração de Auschwitz. Toda a gente deveria poder ir lá. Contar as chaminés. Percorrer os passos dos prisioneiros. Entrar nas antecâmaras dos fornos. Pressentir o horror. Parar em frente dos montes de malas, de sapatos, de tranças de cabelo, de óculos deixados pelos prisioneiros. Enfrentar os seus rostos. Reflectir nisto tudo, no que somos, no que andamos aqui a fazer.
Sobre o filme, que é bastante mais complexo do que isto que eu aqui escrevi, há vários textos e críticas boas e más, como convém aos objectos que não são lineares.
Aconselho:
O texto “Peço ao meu marido para espalhar as tuas cinzas no rio!” – a História e A Zona de Interesse de Irene Flunser Pimentel;
O texto de Jorge Mourinha, que falou com o realizador Jonathan Glazer.
A crítica de Bernardo Vaz de Castro no À Pala de Walsh.
Rudolf e Hedwig Höss e os seus cinco filhos
Na Lisboa dos anos 80, fotografada por Luís Pavão e agora mostrada na exposição "Lisboa Frágil", no Museu da Cidade, há tabernas com balcões peganhentos; rebanhos de ovelhas a passearem por Alvalade; matinés dançantes onde as senhoras se sentavam em fileira, nas cadeiras encostadas à parede, controlando os passos atrevidos dos jovens; colectividades onde se jogava à laranjinha, às cartas, às damas. Parece que foi noutro tempo. E foi mesmo. Os anos 80 foram no século passado, foram há 40 anos, como é possível, é tão estranho pensar que os anos 80, os anos da minha infância, de que me lembro tão bem, estão, afinal, tão distantes de nós, a vida era tão diferente do que é hoje, sem telemóveis, sem internet, sem selfies, sem reels, sem polémicas da treta no twitter nem dancinhas no tik-tok. A vida era toda real, carne, sangue e suor. Para o bem e para o mal. Esta exposição é uma viagem a um mundo que já só existe nas nossas memórias. E, caramba, se me senti velha a percorrer estas fantásticas fotografias. Ainda assim, ou talvez por isso, vale muito a pena.
Lost in Translation, de Sofia Coppola, com Bill Murray e Scarlett Johansson