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Estávamos mesmo a precisar disto. Desde 10 de março que estávamos a precisar disto. De sentirmos que somos muitos, que estamos aqui e estamos juntos nesta luta. De dizermos: não esquecemos. De dizermos: não passarão. Não tem a ver com ser de esquerda ou ser de direita, tem a ver com defender a democracia, a liberdade, os direitos de todos. O que aconteceu ontem foi bonito e emocionante. Uma Avenida cheia como nunca tinha visto. Milhares de pessoas, quantas seriam?, tão diferentes. Tão coloridas. Tão felizes. Tão determinadas. Cantámos e abraçámo-nos e gritámos juntas: fascismo nunca mais.
A luta continua.
Sei que não é suficiente, mas, para já, contribuo como posso, ou seja, escrevendo:
Trabalhei muito, muitos dias seguidos, muitas horas para além da hora. E depois passei muitas horas de pé na noite de 24 e no dia 25. A celebrar. Hoje sinto-me como se tivesse sido atropelada por um camião. Mas valeu a pena. Afinal, não é todos os dias que podemos celebrar os 50 anos da nossa democracia, não é?
É verdade que não tenho ido ao cinema, mas enquanto estou no sofá continuo a ocupar grande parte do meu tempo livre a ver filmes, sobretudo no Filmin. Explorando o catálogo, tem dado para rever filmes antigos (como Os Amigos de Alex, de Lawrence Kasdan, ou As Duas Faces do Espelho, de Barbra Streisand), colmatar falhas (por exemplo, dos filmes do Kiarostami) e encontrar coisas que nem sabia que existiam (como A Festa, de Sally Potter, com o bónus de ouvir um bocadinho dos Verdes Anos de Carlos Paredes). Tenho uma lista enorme de filmes "guardados" para ver mais tarde.
Dos que vi ultimamente, deixo três destaques. Três filmes sobre a infância e a adolescência e a difícil tarefa de crescer:
20.000 espécies de abelhas, realizado por Estibaliz Urresola, é um filme espanhol que se passa maioritariamente em Llodio, uma pequena cidade do País Basco, durante umas férias chuvosas. É a história de uma família em desagregação e de uma criança de oito anos em busca da sua identidade de género. O desconforto com o nome, com a roupa, com os olhares dos outros. Uma mãe que tenta ser compreensiva mesmo não sabendo como agir. Um filme de uma enorme ternura e muito actual.
The Quiet Girl, de Colm Bairéad, filme irlandês nomeado para o Óscar de Melhor Filme Internacional no ano passado. Se em 20.000 espécies de abelhas as personagens alternavam entre o espanhol e o "euskera", aqui alternam entre o inglês e o gaélico. Anos 80. Novamente uma criança no centro da história, uma menina de nove anos de uma família pobre e disfuncional que vai passar os meses do verão com uma prima da mãe e acaba por descobrir que as famílias podem ser um lugar de amor e de compreensão. Tão belo, tão comovente.
Raparigas, de Pilar Palomero. Filme espanhol que acompanha uma adolescente, Celia, e as suas amigas que frequentam um colégio católico, gerido por freiras, nos anos 90. O conservadorismo de toda a sociedade não consegue controlar a enorme sede de viver destas raparigas que hão de arranjar maneira de pintar os lábios, ir à discoteca e estar com rapazes. Um bom retrato da adolescência.