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"How do you keep the music playing?
How do you make it last?
How do you keep the song from fading
too fast?
How do you lose yourself to someone
and never lose your way?
How do you not run out of new things
to say?
And since you know we're always changing
How can it be the same?
And tell me how year after year
You're sure your heart won't fall apart
Each time you hear his name?
I know the way I feel for you is now or never
The more I love, the more that I'm afraid
That in your eyes I may not see forever, forever
If we can be the best of lovers
Yet be the best of friends
If we can try with every day to make it better as it grows
With any luck then I suppose
The music never ends
I know (how do you keep the music playing)
the way I feel for you is now or never (how do you make it last)
The more I love the more that I'm afraid
(how do you keep the song from fading)
That in your eyes I may not see forever
(Keep the song from fading)
Forever
If we can be the best of lovers
yet be the best of friends
If we can try with every day to make it better as it goes
With any luck then I suppose
The music never ends"
How do you keep the music playing, Frank Sinatra
(ando numa daquelas fases blhéc, não me apetece falar com ninguém, não tenho tido muito para dizer nem tenho feito nada de jeito, a não ser trabalhar e resolver assuntos da vidinha, às vezes parece que é assim, a vida atropela-nos e ficamos meio assoberbados. como sempre, é uma fase e vai passar. espero que a próxima fase meta fatos-de-banho e dias de férias, sem preocupações nem dores de cabeça. devia jogar no euromilhões. devia comer mais fruta. devia relaxar. apanhar sol. fazer ginástica. ouvir mais música. definitivamente. "If we can try with every day to make it better as it grows, With any luck then I suppose, The music never ends". que venha junho.)
Vou tentar escrever sobre o filme Ainda Temos o Amanhã sem estragar a experiência a quem ainda não viu. Este é o primeiro filme realizado pela italiana Paola Cortellesi, que é também a atriz principal, interpretando o papel de Delia, mulher nos seus 40 e muitos, mãe de uma rapariga jovem e de dois rapazes crianças, casada com um homem que a maltrata, numa sociedade muito machista, na Itália do pós-guerra, com a guerra ainda muito presente na vida das pessoas que enfrentam sérias dificuldades financeiras. Delia tem vários trabalhos, toma conta da casa e dos filhos, do marido e do sogro acamado, faz das tripas coração para conseguir pôr comida na mesa e, ao final do dia, é muito pouco acarinhada pela sua família. Delia sonha com mais.
Num tom cómico, apesar do tema sério, Ainda Temos o Amanhã é um filme sobre o empoderamento feminino e sobre todas nós, sobretudo sobre as mulheres que se deixam levar pelos arroubos românticos da juventude e acreditam que com elas será diferente, sobre as mulheres que trabalham incansavelmente sem se queixarem, sobre as mulheres que se apagam e abdicam da sua felicidade porque pensam que isso é o melhor para os seus filhos. É comovente ver a maneira como a mãe protege a filha, fazendo tudo para evitar que tenha uma vida igual à sua (as mães, as mães estão sempre lá, a amparar todas as quedas). E ainda que não seja uma obra-prima e me levante algumas questões (tenho algumas reservas, por exemplo, sobre a estetização das cenas de violência doméstica), gostei muito deste filme e, por vários motivos, tenho pensado muitas vezes nele nestes últimos dias. Fica a sugestão.
A propósito:
A Malnascida, um livro também de uma autora italiana, Beatrice Salvioni, sobre a condição feminina, ainda que centrada nas personagens de duas raparigas pré-adolescentes. A ação passa-se nos anos 30, mas o machismo que está lá ainda não se desvaneceu completamente nos nossos dias. Tem ali qualquer coisa de Ferrante. É daqueles livros que se lê num sorvo.
Os Anos Super-8 é um filme da escritora Annie Ernaux a partir dos filmes caseiros feitos pelo seu marido. Ernaux vai comentando o que ali se vê, contando as histórias por trás das imagens. Numa cena estão todos sorridentes, noutra de costas voltadas. De um natal para outro a alegria familiar dá lugar a um casamento destruído. Está disponível no Filmin.
"The only way I know to have a better sex life, or to resume your sex life, is to discuss it", diz o terapeuta Jeffrey Chernin. Já o sabíamos, mas nunca é demais lembrar: é preciso falar sobre as coisas, todas as coisas. Este artigo no NYTimes tem bons conselhos sobre relações (sobretudo sobre relações em crise). Como diz outra das especialistas citadas nesse texto: “Sex is about so much more than just what we do when our pants are off".
Sobre a expressão "não páras no armeiro", usada pela minha mãe, o meu pai enviou-me uma explicação possível com os conhecimentos adquiridos na tropa: "O armeiro era o local apropriado para acomodar as armas durante o descanso dos militares (de noite). As armas saíam do armeiro, pela mão dos militares, quando retomavam a actividade. Portanto, sair do armeiro é ir à luta, parar no armeiro é, simbolicamente, sossego e paz".
Faz todo o sentido.
Na sequência da conversa, e porque as memórias são como as cerejas, recebi algumas fotografias dos tempos da tropa. Ora vejam lá o giraço:
Quando releio o que por aqui publico lembro-me sempre da minha mãe: "não páras no armeiro"*, costumava dizer. De onde ela me via, a minha vida parecia uma enorme agitação, como se eu nunca parasse em casa e tivesse sempre mil programas. A verdade não é assim tão interessante. Sou mãe sozinha há [precisamente] doze anos, praticamente sem descanso. O meu dia-a-dia é feito de muitas rotinas, de muita louça suja, máquinas de roupa, almoços e jantares, marmitas e compras, ralhetes e preocupações, muitas noites solitárias. Por isso, não se deixem enganar pelas redes sociais, a vida real é outra coisa. Mas, sim, tenho a imensa sorte de ter um trabalho que, nos dias bons, me proporciona muitas alegrias. E, sim, à medida que o tempo passa e que os rapazes crescem, os fins-de-semana deixaram de ser ocupados com festas de aniversário, tabuadas e jogos de futebol, e passaram a ser cada vez mais meus, o que me permite fazer muitas coisas fixes, sobretudo, ir ao teatro e ao cinema, estar com amigos, passear. O que é bom, claro, mas também é um sintoma. Dentro em breve (em breve significa ainda uns anos) não será só ao fim-de-semana. O ninho irá ficar vazio, mesmo que eles fiquem por aqui, se é que me entendem. Se tudo correr bem, não faltará muito para que não haja mais marmitas nem ralhetes (as preocupações, estou em crer, não hão de passar nunca), com tudo o que isso tem de bom e de mau, o que não é novidade nenhuma, não faltam por aí estudos sobre o "síndroma", diz que não é fácil para nenhuns pais e mais difícil se torna quando não há um casal. Olhamos para o lado e, de repente, não está lá ninguém. Não é a primeira vez que falo deste assunto. A solidão é uma realidade. Está presente todos os dias. E sei que tem tendência para se adensar, se não a combater. Por isso, estou a preparar-me. Lentamente. O desafio é encontrar este equilíbrio entre o desfrutar o meu tempo sozinha mas não me deixar deprimir, entre o este fim-de-semana apetece-se ficar no sofá a ler e a ver filmes mas no próximo já tenho a agenda cheia. Tenho outra sorte, que é a de ter amigos muito especiais que vão cuidando de mim, às vezes sem o saberem, "mensajando-me", convidando-me, aturando-me, desafiando-me, não desistindo de mim mesmo quando eu lhes dou negas (e dou muitas). [Fui ver agora e este foi o primeiro post que publiquei depois da separação]. Acredito profundamente que somos mais felizes quando somos-com-outros, quando nos damos, quando recebemos, quando partilhamos - nem que seja partilhar o silêncio (é tão bom quando encontramos alguém com quem conseguimos partilhar o silêncio).
Este ano faço 50 anos. Há [exactamente] doze anos que me separei. Há pouco mais de três anos mudei de emprego. Ainda no outro dia fiz novos amigos. Continuo a fazer coisas pela primeira vez (e há tantas ainda por fazer). É incrível perceber a quantidade de vidas que já vivi neste meio século, como as coisas mudam e nós mudamos com elas, como nunca poderemos prever com exactidão o que vem a seguir. É assustador mas, ao mesmo tempo, essa a beleza da vida, não é?
* não faço ideia de onde vem esta expressão, se alguém puder explicar ficarei bastante agradecida
Abril já acabou e não se fez só de gritos revolucionários.
Deu para ir ver os desenhos fantásticos do João Abel Manta.
Deu para ver o Guião para um país possível, da Sara Barros Leitão. Para rir e para pensar e para nos emocionarmos um pouco. Os actores são óptimos. Gostei mesmo muito.
Também fui ver a Luta Armada, dos Hotel Europa, sobre os movimentos armados antes e depois do 25 de Abril. Foi bom, que até foi, mas nada do outro mundo, e o melhor de tudo nesse dia foi ficar deitada na relva, de pés descalços, a ouvir música e a conversar sobre tudo e sobre nada com a minha amiga.
Voltei a cantar com a Garota Não, na inauguração do museu de Peniche. Apanhámos chuva e vai-se a ver nem conseguimos visitar o museu, mas o que ali conversámos em frente de um pão com sardinhas e de um prato de amêijoas valeu por tudo. Além da Garota, claro, que vale sempre a pena.
Foi também um mês para "sair de pé" por duas vezes:
A propósito do espectáculo Na medida do impossível, do Tiago Rodrigues, fui moderar uma conversa na Culturgest com o João Santos, da Médicos Sem Fronteiras, e a fantástica Rita Costa, enfermeira que já esteve no Afeganistão e na Faixa de Gaza e nos falou de todo o amor que tem por este trabalho. Fico sempre nervosa quando tenho que falar em público, mas acho que até correu bem (e se algum dia tiverem oportunidade de ver a peça, aproveitem, que é mesmo muito boa).
E, por falar em nervos, estreei-me a gravar voz, neste caso para uma reportagem sonora (aka podcast) que fiz para a Arte em Rede. Não tenho palavras para agradecer a confiança que o Bruno tem em mim (e a paciência enorme para me explicar as coisas que eu não sei). Fazer algo pela primeira vez é sempre um desafio, pior ainda quando se tem a auto-estima de uma formiga, como eu. Mas uma pessoa não gastou uma fortuna na terapia para depois ficar a tremer de medo e recusar uma oportunidade destas. O resultado já pode ser ouvido AQUI e, apesar de ainda ser muito estranho ouvir a minha voz, na verdade até me diverti a fazer isto. Agora, é "só" fazer cada vez melhor.