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Sabem aquele desespero das mães durante o confinamento de covid-19? Está todo contado em Dia, o novo livro do Michael Cunningham. Não é o meu género habitual de escrita, porque tem muitos diálogos, mas, surpreendentemente, cativou-me desde o momento em que me cruzei com aquela mãe sentada na escada do prédio, a tentar fugir da sua vida nem que fosse por um bocadinho. A mãe, o adolescente colado aos videojogos, o medo da morte, aquela crença parva de que íamos sair daquilo melhores pessoas, a certeza de que se não formos nós a fazer pela nossa vida provavelmente poderemos não ter uma segunda oportunidade. Falei com o autor e foi uma bela conversa.
A Sara Inês Gigante faz aqueles espectáculos auto-ficcionais e ao mesmo tempo a gozar consigo própria, com o seu corpo, com os seus sonhos, com o seu talento. Já era assim com a Massa Mãe e voltou a ser assim com Popular, um espectáculo que problematiza o que é isso de ser pop, o que é isso de ser elite ou para as massas, o que é isso de ser artista e de ser público. Ainda têm dois dias para ir vê-la e comer pipocas ao Teatro Meridional.
Acabei de ver Under the Bridge, uma série que reconta a história verdadeira do homicídio de Reena Virk, uma rapariga de 14 anos que foi morta pelo grupo de "amigos" numa terra perdida do Canadá. Tem Lily Gladstone, Riley Keough e mais uns miúdos desconhecidos mas talentosos. Devorei-a em dois dias, sacrificando horas de sono preciosas. Achei muito bem feita. Levanta questões muito sérias sobre a juventude, a "peer pression" e os ideais de beleza, a violência que surge sabe-se lá de onde, a importância da família e das redes de apoio, a dificuldade de educar (de entender, até de comunicar com) adolescentes, a culpa, o arrependimento, a justiça.
Não gosto de bailaricos nem de arraiais nem de música pimba. Mas gosto de junho. Dos dias grandes. De estar com amigos. Do alívio que são as férias da escola. Por entre contas para pagar, dias de trabalho deprimentes e comprimidos de ferro que me deixam enjoada, entregar finalmente o IRS, fazer exames de saúde vários e dias em que só me apetece ficar no meu canto e não me digam nada, coisas boas aconteceram em junho. É importante guardar as memórias boas e celebrá-las. Os momentos de felicidade - ainda que curtos - são sempre o que fazem isto tudo valer a pena.
Há sorrisos que dizem mais do que muitas palavras. Sou feliz a trabalhar (mas só às vezes).
Há um novo episódio do podcast da Arte em Rede para ouvirem AQUI. Ainda não ultrapassei a estranheza de ouvir a minha voz, mas já estou mais apaziguada com isto de fazer jornalismo na primeira pessoa.
A fotografia é do Pedro Jafuno.
Não me lembro bem quando é que comecei a gostar de ténis. Talvez tenha sido com o Agassi e o Sampras, a Steffi Graff e a Navratilova. E depois com a Jennifer Capriati, a Monica Selles, a Martina Hingis, a Kim Clijsters, a Justin Henin, a Serena e a Venus Williams, a Sharapova, a Kuznetzova, a Amelie Mauresmo, o Lleyton Hewitt, o Marat Safin, o Carlos Moya, o Guga, o Nalbandian, o Grosjean, o Andy Roddick, o Juan Carlos Ferrer. O Nadal e o Federer, pois claro. Outros. Mesmo que nos últimos tempos já não tenha tanto tempo nem consiga ficar acordada até tarde a ver jogos, mesmo que já não acompanhe como antes e não saiba os nomes, que prazer quando os astros se alinham e me permitem passar horas e horas a ver os jogos de Paris, da Austrália, de Wimbledon ou dos Estados Unidos.
No domingo passado, em Roland Garros, na final de pares femininos, a Coco Gauff e a Siniakova ganharam frente às italianas Errini e Paolini. Foi um belo jogo. E depois, na extraordinária final masculina, o Carlos Alcaraz teve que jogar durante 4 horas e 19 minutos para bater o Alexander Zverev. Nem toda a gente entende esta minha paixão pelo ténis. Por isso, é ainda mais especial encontrar alguém com quem posso partilhar tantas horas, com verdadeiro entusiasmo e sem sinal de enfado (não é tudo, mas diria que temos aqui um princípio de entendimento).
Sim, vem aí o Euro de futebol e vai ser fixe, pois vai, mas, a não ser que Portugal traga a taça, não estou a ver como algo poderá bater este dia incrível.
* A frase é atribuída a Napoleão, mas foi apropriada por Roland Garros, aviador francês e herói de guerra (1888-1918). Está agora no court Philippe Chatrier, para inspirar jogadores e não só.