Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Dizem que a idade, além das rugas e dos cabelos brancos, traz-nos também sabedoria. Não sei se será bem assim. Querem conselhos? Bebam água, façam exercício, sejam boas pessoas. Querem mais conselhos? Vejam o vídeo fantástico do Baz Luhrmann, Everybody’s free (to wear sunscreen). Está lá tudo o que importa. Eu não tenho lições para dar a ninguém. Mas aprendi as minhas próprias lições. Isto é o que eu tento não esquecer:
1. A vida vai-se num sopro. Ainda ontem, a ler as notícias, pensei nisso. Não devemos perder tempo com o que não é importante. Temos que aprender a ignorar. Ignorar as pessoas que não nos interessam. Ignorar as pressões, as opiniões e as expectativas dos outros. Dizer não quando nos apetece dizer não. Sermos nós mesmos. Sem mentiras. Sem vergonha. Sem medo.
2. O trabalho até pode ser bom, mas é só trabalho. O trabalho permite-nos ganhar dinheiro para pagar as contas e para comprarmos coisas que nos podem fazer mais felizes, mas o trabalho não nos define. E, certamente, não define aquilo que valemos. O melhor mesmo seria não ter que trabalhar.
3. As coisas nem sempre correm como desejaríamos. Nem sempre é culpa nossa. Nem sempre está nas nossas mãos. Temos de fazer o nosso melhor, lutar o que houver para lutar e aceitar o que houver para aceitar (esqueço-me muitas vezes disto, ainda é um processo).
4. As pessoas são o mais importante. As nossas pessoas. Não nos podemos esquecer de dizer-lhes o quanto gostamos delas. Melhor ainda: mostrá-lo. As pessoas que escolhemos e que nos escolhem são verdadeiramente a única coisa que importa nisto tudo.
5. É essencial encontrar a felicidade nas coisas pequenas. Mesmo quando tantas coisas correm mal, há sempre algo. Um sorriso. Uma música. Uma mensagem. Um livro. Uma palavra. Um abraço. Um cheiro. Uma memória. Há tantas coisas boas, só temos que estar atentos.
Por exemplo: esta playlist (feita há já uns tempos) para celebrar todas as mulheres, de 50 anos e não só.
Para não me stressar, meti férias na semana dos 50. Dediquei estes dias a fazer coisas que me dão algum prazer. Por exemplo, no sábado, passei um dia inteiro à mesa, com amigos e amigos de amigos, a conversar, entre comidas e copos de vinho, sem dar conta do frio e da chuva lá fora. No domingo, do nada, o telefonema de outra amiga com convites inesperados para o concerto do Nick Cave, tirou-me do sofá para uma noite maravilhosa. Desta vez, senti-o menos melancólico, menos triste, pelo contrário, saímos de lá em paz, felizes por termos podido estar ali, por termos partilhado aquelas quase três horas de música, por vermos o prazer que todos tinham em cima do palco, o prazer de todos os que encheram a arena. O resto da semana está a correr tranquilamente. A organizar os álbuns de fotografias, a ir a aulas de pilates, a ler a Virginie Despentes, a cozinhar sem pressa, a jantar com os rapazes, a ver filmes de pijama, a aproveitar o silêncio, a trabalhar nas minhas coisas, nas coisas que gosto, para me lembrar que trabalhar também pode ser bom. Não vi notícias. Tatuei a liberdade. Comprei bilhetes para concertos em 2025. Inscrevi-me num voluntariado. Podia viver assim e ser feliz, só a deixar-me levar.
Tenho andado a organizar álbuns de fotografias. Nos últimos dez anos desleixei-me muito, mas preciso dos meus álbuns. Organizar os álbuns ajuda-me a organizar a memória e isso ajuda-me a organizar a vida. Para outras pessoas não será tão importante. Mas para mim sim. Os álbuns e depois este meu diário em forma de blog e depois ainda a conta de instagram, faz tudo parte desta necessidade que tenho de fixar as memórias, de guardar as coisas boas (e as más, que na maior parte das vezes apenas se subentendem nas entrelinhas, mas eu sei onde estão e quais são), de encontrar (ou criar) uma narrativa. E, depois, folheamos os álbuns e descobrimo-nos felizes, mesmo em alturas em que parecia que tudo corria mal, ali estamos nós a sorrir, tantas coisas que fizemos, tantas coisas que vivemos, tantas pessoas que abraçámos. E até parece que faz tudo sentido. os meus pais
o Dinho e a vovó Ana
a avó Helena e o avô António
eu e a minha irmã no jardim
a avó Helena, a mãe e a avó Celeste
eu e a minha irmã na praça
a Ia
o avô Caetano
a família a crescer
e a crescer
(não garanto que esta seja a ordem cronológica das fotos, mas há de ser mais ou menos)
Vou fazer 50 anos. Nunca me apetece festejar e este ano não é excepção, por mim fingíamos que este dia nem se quer existia e dispensavam-se os telefonemas e as mensagens e tudo, mas, pronto, se calhar, desta vez, vai ter que ser, não é?, afinal, são 50, caramba, vamos mesmo ter que inventar alguma coisa.
Estou a fazer pilates clínico com uma instrutora muito querida que bate palminhas e diz "muito bem" sempre que eu consigo apertar as nádegas, os glúteos e os abdominais ao mesmo tempo e fazer todas as repetições. O estúdio parece uma sala de tortura cheia de máquinas esquisitas e, para já, só lá vi pessoas mais velhas do que eu. Não adoro, mas estou a esforçar-me. Porque é importante para a recuperação. Ando toda dorida o que só pode significar que estou a mexer músculos que estavam há muito adormecidos. Mas a parte melhor é quando, no fim da aula, ela me pendura pelos pés e me deixa a relaxar. Sou muito boa a relaxar. É bom que isto sirva para alguma coisa, uma vez que é caríssimo. Tenho orçamento para dois meses (três, na loucura), antes de voltar ao pilates dos pobres no ginásio.
O trabalho também tem sido uma tortura. Há dias em que me apetece desistir de tudo (depois lembro-me que tenho contas para pagar). A única coisa boa dos últimos tempos foi ler o livro da Sally Rooney e escrever sobre ele. Nunca tinha lido nada dela e gostei mais do que estava à espera.
Antes de me abalançar na última temporada da série A Amiga Genial, decidi rever as três temporadas anteriores. Voltei a gostar como da primeira vez. E gostei ainda mais de "passear" por Nápoles, agora que já conheço a cidade.
Foi há quase um ano que fui a Nápoles. Tem sido um ano bom. Muito bom, mesmo. Apesar de tudo. Um dia vou escrever sobre isto. Gostaria de um dia escrever sobre isto no presente, e não no passado como normalmente acontece. Dizer "gostaria de um dia escrever sobre isto no presente" é já dizer tanto.
Na outra noite fui ver o Samuel Úria. Foi uma noite tão feliz. Já não me lembrava como gosto dele e daquelas canções.
Hoje comi uma romã e, como sempre, lembrei-me da minha avó. Outubro é também o mês dela. É o nosso mês. Das que cá estão e das que já não estão.
(Peço desculpa se não perceberam este post. Às vezes sou um bocadinho egoísta e escrevo só para mim. Outubro ainda vai a meio. Tenho tanta coisa para fazer até aos 50, a agenda cheia, nem vou ter tempo de me angustiar. Digo eu.)
Foi um verão atípico, mas, ainda assim, foi bem bom. Houve praia no Algarve de sempre. Os miminhos deles. Os amigos. Voltámos ao Bons Sons, e foi outra vez um conforto para a alma. Voltámos à Zambujeira. Os amigos, já disse? Houve almoços e jantares e conversas prolongadas, gargalhadas e confissões. A habitual reunião de família no Alentejo (é cada vez mais difícil juntar os putos todos). A primeira coisa que fiz quando a médica me deu alta foi ir ao cinema ver o Verdade ou Consequência e ouvir o Luís Miguel Cintra, que vale sempre a pena. Já em setembro deu para ir ver o Rodrigo Amarante ao B.Leza. Para ir ao teatro ver o belíssimo Blackface do Marco Mendonça (levei o Pedro, foi alegria a dobrar), ouvir umas histórias do "retorno" (A Outra Casa na Praia, pelo Teatro Meia Volta) e as histórias que poucas vezes são contadas do Brasil (Depois do Silêncio, de Christiane Jatahy). Para espreitar a nova pala do CAM.
No último fim-de-semana, para fechar o verão, rumámos ao outro canto do Algarve: eu, a Filipa, a Patrícia, a Lina, a Ana Bela, a Maia. Elas que me perdoem, que eu sei que nem todas gostam de estar assim expostas na internet, mas é que quero mesmo dizer o seu nome e dizer que gosto muito destas miúdas e gosto de como funcionamos todas juntas, tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas, ainda que às vezes as conversas se sobreponham e pareça que 48 horas não chegam para tudo o que queremos partilhar, e que, quando a noite avança, eu adormeça e perca as partes mais divertidas.
Gosto muito do verão, destes três meses em que fazemos de conta que não temos problemas e em que optamos por só ter coisas boas, dias compridos, calor na pele, pés descalços, os amigos, já disse, não já?, os filhos felizes, horários flexíveis, tardes a ler, passadeiras que nos levam à praia, as farófias da Noélia, a cor do céu antes de o sol se pôr, a liberdade. Preciso muito disto tudo para recarregar as baterias e poder, agora, enfrentar este outubro cinzento.
Venha de lá, então, a vidinha. A gente aguenta.