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No 25 de Abril de 1974 eu já andava por aí, na barriga da minha mãe. Nasci em liberdade e tenho muita noção do quão privilegiada sou por isso. Cresci a ouvir as histórias dos meus pais e dos meus avós, a saber da fome e do medo, da guerra e da opressão, da pobreza e da falta de perspectivas de futuro. Cresci sabendo que comigo seria diferente. Que na minha escola todas as crianças tinham sapatos nos pés. Que votar no dias eleições é um direito, um dever e uma enorme alegria. Que podia discordar. Sou filha da escola pública e do serviço nacional de saúde, da Comunidade Económica Europeia e dos sonhos que se poderiam realizar: "Não somos ricos nem temos cunhas, mas se estudares e trabalhares podes ser o que tu quiseres", disse-me o meu pai. Eu estudei e trabalhei e aqui estou. Sou o que quero (e se não sou mais é porque não soube sê-lo).
Há dias em que isto faz tudo sentido.
Nos últimos dias andei a recolher testemunhos de pessoas muito fixes sobre o significado pessoal desta data.
Ontem estive no Palácio de Queluz a ver o Chico Buarque a receber o Prémio Camões e tive que me controlar para não deixar cair uma lagriminha.
Hoje, irei descer a avenida, encontrar amigos e dar abraços.
Gosto muito do dia 25 de Abril. Estou geralmente feliz. Emociono-me de todas as vezes que ouço o "Grândola". Sorrio sempre ao ver as imagens dos militares nas ruas, da multidão em êxtase, dos cravos. Sinto uma enorme gratidão e ao mesmo tempo o receio de que tudo isto seja demasiado frágil, às vezes tenho a sensação de que não estamos a cuidar tão bem quanto deveríamos da nossa democracia. Pergunto-me se faço o suficiente.
Esse questionamento também é uma das heranças do 25 de Abril.
Populares saudam os militares no dia 25 de Abril