Margarida teve um AVC no ano passado. Ninguém lhe perguntou mas ela decide falar disso a meio da entrevista na última edição da revista Ler. E como o entrevistador parece ignorar o assunto, Margarida volta a puxar o tema umas perguntas mais à frente para que fique claro como a doença alterou a sua maneira de pensar e de escrever, afinal, nem todos se podem gabar de ter uma experiência de quase-morte, há que capitalizar bem o acontecimento, ainda por cima se se é uma escritora com pretensões a ser considerada séria e profunda. Por isso, Margarida diz outras coisas profundas nesta entrevista. Diz que para si escrever é fácil, as palavras saem-lhe quase sem pensar. Mas que também é difícil, um processo que exige muita concentração e um período de reclusão. Diz que escreve por necessidade, se não escrevesse enlouquecia, mas também admite que é ambiciosa e que se impôs o objectivo de vender um milhão de livros. Ah, não, isso foi antes do AVC, a nova Margarida já não liga a números. Mas se este novo livro vender pouco ficará preocupada, claro. Diz ainda que escreve sobre aquilo que conhece, como todos (?) os escritores, de tal forma que é possível identificar as várias personagens do seu último livro como as várias pessoas da sua família. Uma coisa profunda, como se vê. Mas o melhor de tudo nesta entrevista é mesmo o momento em que Margarida se enerva por Carlos Vaz Marques insistir em fazer perguntas sobre as couves e alforrecas, ou seja, sobre a acusação de auto-plágio. Diz então Margarida que não lhe apetece fazer uma entrevista assim, que não está para isso, "desculpe lá", e vai daí desliga o gravador. Volta a ligá-lo para dizer ao entrevistador que acha que ele está a conduzir "isto" muito mal e que não percebe porque é que ele só lhe fez uma pergunta sobre o livro novo. Margarida teve azar. Fosse esta uma entrevista de meia página num jornal diário e o jornalista nunca conseguiria publicar estes pormenores porque, lá está, no pouco espaço disponível teria que falar das coisas importantes como os livros e a carreira da escritora. Margarida deve ter achado que ninguém se atreveria a publicar a sua insolência. Mas esta não é uma entrevista qualquer numa publicação qualquer. Teve azar. Sorte a nossa.
Margarida Rebelo Pinto passou anos a queixar-se que os críticos literários e a imprensa especializada a ignoravam. Queria ser tratada em pé de igualdade com os outros escritores. Ora aí está. Este mês, com esta deliciosa entrevista, foi capa da Ler e o seu livro, Português Suave, teve críticas arrasadoras nos suplementos culturais do Público e do Expresso. Deve estar satisfeita, portanto.
2 comentários
Apetecia-me escrever tanta coisa sobre este post! Vou poupá-la. Apenas li um livro de MRP e, sinceramente, não gostei do género. Como pessoa, nada me diz. Acho-a de uma futilidade atroz ( eu também sou fútil no que escrevo no blog, mas não escrevo romances, só reportagens e artigos de jornais)e muito convencida.
Ainda não comprei a LER deste mês,de qualquer modo, devo confessar que me aguçou o apetite.
Li há duas semanas uma entrevista dela no DN- de duas ou três páginas- e a única coisa que retive foi a maldicência ( nomeadamente em relaçãoa MST).
Ouvi-a a falar dos homens no 30 minutos da RTP 1 e fiquei sem perceber se tem um problema mal resolvido,ou necessita de se afirmar.É muito defeito para uma mulher só. Bem, é melhor ficar por aqui...
Anónimo 24.11.2009
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