Depois de acabarmos o curso, de arranjarmos um emprego, de continuarmos com o namorado do tempo da faculdade ou de acabarmos tudo após anos de namoro percebendo que o amor da nossa vida afinal era outro, depois disto tudo, casámo-nos. Casámo-nos todos. Foi como uma epidemia. Entre 2000 e 2002, mais coisa menos coisa, repetimos o sim em quintas diferentes, ora com padres ora com despachadas conservadoras do registo civil, mas sempre com os mesmos rostos amigos à nossa volta, as mesmas poses, os mesmos vestidos, os mesmos sorrisos, o mesmo bacalhau espiritual, a mesma lampreia de ovos, as mesmas bebedeiras, aquela mesma sensação de que a vida só então estava a começar, uma ingenuidade que nos atacou a todos, a uns mais do que a outros é verdade, mas que nos atacou a todos - ali estávamos nós a achar que agora é que é, que a vida ia ser sempre assim, sempre em festas, sempre jovens, sem zangas nem rotinas, sempre apaixonados, com muito sexo, com os electrodomésticos acabados de estrear, com os lençóis do enxoval e a conta bancária composta pelos cheques-prenda dos tios e primos. Casámo-nos por amor. Porque acreditávamos mesmo que ia ser para sempre, na saúde e na doença, até que a morte nos separe.
Até que a morte.
Meia dúzia de anos volvidos, o surpreendente é ver como alguns de nós ainda estão juntos. Não necessariamente felizes mas juntos. Quase todos já passaram por traições, desilusões, tristezas, discussões, separações. Quase todos tiveram filhos e ficaram cansados, desesperados, rotinados, stressados. Quase todos já tiraram a aliança. E os que o não fizeram ponderaram a hipótese, em algum momento, mesmo que o não confessem, terão pensado se não seria melhor se.
E no entanto.
No sábado, ao ouvi-los dizer que sim, que era de sua livre vontade, pus-me a pensar nestas coisas e em como, apesar de tudo, apesar de nos queixarmos dos putos e dos pés, apesar das olheiras e dos trambolhões que fomos dando, continuamos (embora de maneiras diferentes) a acreditar no amor. Isso é realmente maravilhoso, não é?