- Estamos safos, disse o Soldado, e os seus olhos brilharam de alívio, Estamos vivos.
- Vivos? O Outro mal conseguiu esboçar um sorriso. Levantou-se e começou a apalpar o corpo em busca de feridas. Doiam-lhe os ossos, sentia os músculos tensos, a barriga apertada, uma náusea profunda. E agora? Reagir, pensou, tinha que reagir. Olhou em volta. A agitação começara mal o sol nascera. Era tempo de limpar as trincheiras. Contar mortos e feridos, enterrar os corpos, reunir os destroços. Preparar as armas para o próximo combate. As ordens vindas de cima diziam que é preciso estar a postos. Não se pode parar, diziam.
- A guerra acabou, disse o Soldado, safámo-nos. O Outro não lhe respondeu. Que ilusão. Se alguma lição se poderia tirar do dia de ontem é que nunca ninguém está safo. Na verdade, parecia-lhe que do outro lado da estrada os disparos já tinham recomeçado.
- Ouviste?
- Vamos, rastejemos para o abrigo, rasteja, Soldado, rasteja, é a única coisa que podemos fazer.
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