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Atenção: este texto contém spoilers.
Nunca tive uma Barbie. Tínhamos uma Cindy e duas Tuchas, lembro-me das Nancys e dos Carecas. Talvez a Barbie tenha chegado em força ao nosso mercado quando eu já estava a deixar de brincar com bonecas, não sei. Não me lembro de alguma vez ter desejado ter uma Barbie.
Desde que vi o primeiro trailer de Barbie - o filme que fiquei curiosa. Seguramente isto não seria um filme para crianças. Haveria humor e feminismo. E para que conste: sou bastante fã da Greta Gerwig e do seu companheiro Noam Baumbach, juntos ou em separado. Fui ver o filme no fim de semana, depois de uma semana de muito trabalho, antes de uma semana de ainda mais trabalho com a Jornada Mundial da Juventude. Não tinha lido nada. Levei algumas expectativas mas não me vesti de cor-de-rosa - comportamento que não entendo e que, lamento, acho até ridículo. A sala estava cheia, como aliás tem estado nas muitas sessões do filme em muitos cinemas. O filme começa bem. É muito engraçado imaginar como seria a vida da Barbie se existisse um mundo à semelhança da boneca e dos seus muitos acessórios. Depois, a mudança para o mundo real é talvez a parte mais interessante do filme, pela crítica à nossa sociedade e ao patriarcado. A Barbie percebe que, afinal, o mundo não é dominado pelas mulheres, o Ken descobre que pode ser mais do que um adereço da Barbie. Ri-me, confesso. Há piadas muito boas e inteligentes, referências interessantes. E depois, pronto, o filme perde-se. Começa a perder-se exatamente no momento em que a Barbie foge das garras da Mattel e a partir daí é um descalabro sem fim, torna-se aborrecido e tem falhas de verosimilhança. Os senhores da Mattel são uns palhaços sem qualquer justificação, o comportamento dos homens é uma cambada de estereótipos, a solução das mulheres é uma artimanha de treta. A sensação que dá é que o argumento entrou num beco sem saída e foi preciso encontrar ali qualquer coisa mesmo que não fizesse grande sentido. Arranjaram maneira de incluir às três pancadas os bonecos e bonecas que fogem da norma, mas a mensagem final não é de igualdade entre géneros. E isso custou-me um bocadinho. O feminismo, tanto quanto sei, não é defender a superioridade das mulheres sobre os homens. O final (tirando a parte lamechas, dispensável) acaba por se redimir um pouco: a Barbie-esteréotipo-de-mulher acaba por perceber que pior do que ser de carne e osso, envelhecer e morrer, será viver uma vida completamente estéril, sem qualquer emoção verdadeira. Apesar disso, saí com um travo a desilusão, com a sensação de que se perdeu uma bela oportunidade de fazer um filme mesmo revolucionário.