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Comecei esta série, "A felicidade nas coisas pequenas", a 3 de janeiro de 2013. A minha vida nessa altura estava um pequeno caos, depois de eu ter descoberto que o amor da minha vida afinal já não era o amor da minha vida e de me ter separado e de estar em vias de me divorciar. Mas nem tudo era mau. Há sempre pequenas coisas que nos deixam felizes. Às vezes coisas inesperadas. Coisas de nada. Quando estamos muito em baixo as pequenas coisas fazem a diferença e podemos ficar felizes com coisas tão simples como comer amêndoas de chocolate ou ver um arco-iris ou ouvir uma música de que gostamos ou receber uma mensagem de um amigo. Encontrar a felicidade nas coisas pequenas é uma das minhas estratégias para ultrapassar os momentos mais complicados.
Ora, é precisamente disso que fala o espectáculo Todas as coisas maravilhosas, de Ivo Canelas. Trata-se de um monólogo sobre a doença mental, a depressão e o suicídio e, sim, tem partes muito duras mas também é (surpreendam-se) bastante divertido. O texto original é do britânico Duncan Macmillan mas a versão portuguesa é muito boa e o Ivo Canelas é fantástico nesta dança entre os momentos mais emotivos e as explosões de energia (e ainda a responder aos espectadores-actores que nem sempre reagem como seria expectável).
Resumindo: quando o protagonista tinha sete anos, a mãe tentou suicidar-se e para a animar ele decidiu começar a fazer uma lista de todas as coisas maravilhosas que existem no mundo, aquelas coisas por que vale a pena viver. Coisas como:
1. gelado
2. guerras de água
25. usar uma capa
A lista foi sendo atualizada, ao longo dos anos, sempre que a mãe sofria mais um episódio depressivo:
319. rir com tanta força que até se espirra pelo nariz
516. ganhar alguma coisa
577. bolachinhas no leite
994. cabeleireiros que ouvem mesmo aquilo que queremos
E foi-se complicando, tal como se complica a cabeça das pessoas crescidas:
1010. ler algo que descreve exactamente o que estás a sentir mas que não tinhas palavras para descrever
253 263. a sensação de calma que se segue à constatação de se estar metido em sarilhos mas que já não há nada a fazer em relação a isso
999 997. o alfabeto
(o resto da história têm de ir ver para saber como é)
A lista é infinita e é diferente para cada pessoa.
As minhas coisas maravilhosas, estou sempre a dizê-lo, são os abraços das pessoas de quem gosto, o sorriso dos meus filhos, os amigos, dançar, cozinhar, ler um bom livro, apanhar sol. E também: ir ao teatro com uma amiga numa sexta-feira à noite, pôr a conversa em dia, beber um copo de vinho e ainda poder rir e quase chorar com este espectáculo maravilhoso.
"Aproveitem, isto passa a correr."
Blister in the sun, Violent Femmes
PS - e mais uma coisa maravilhosa sobre este espetáculo AQUI.