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28
Fev22

A minha mãe

A minha mãe. Também conhecida cá em casa como avó Mariana. E por quase toda a gente como a professora Nita. A minha mãe queria que eu escrevesse sobre ela e eu nunca fui capaz. Acho que ainda não sou. Só me ocorrem banalidades. Herdei dela as gargalhadas sonoras e as coxas largas. Talvez também o pragmatismo com que encarava os problemas. A mais bonita história de amor é a dos meus pais. Quando eu nasci a minha mãe já só tinha um braço. No entanto, nunca foi uma pessoa deficiente. Trabalhou sempre e fez tudo o que lhe foi possível e até mesmo o que parecia impossível, como bordar a ponto-de-cruz miudinho toalhas de mesa de jantar e fraldas e babetes para os bebés. Ensinou-me a fazer bolos e, o que é mais importante, a gostar de fazer bolos. Dizia-me que eu devia tratar melhor de mim e comprar roupas bonitas e arranjar o cabelo. Gostava de ler os meus textos e sei que tinha um orgulho enorme em mim, mesmo sem haver grandes motivos para tal. Tinha os seus momentos depressivos, tomava comprimidos para dormir e para acordar e para levar melhor esta vida e, apesar das muitas complicações de saúde de que já sofria, só se foi realmente abaixo neste último ano porque soube, desde o primeiro momento, que não iria conseguir. 

A minha mãe morreu na manhã do dia 22 de fevereiro. 

Ainda estou (ainda estamos) a tentar assimilar como é isto de continuarmos cá sem ela. É uma tristeza diferente das outras tristezas. Umas vezes mais presente, outras vezes mais disfarçada, mas uma tristeza que tem estado sempre por aqui nestes dias. 

Ficam as memórias boas. E dessas, felizmente, temos muitas. 

DSC_5329.JPG

Esta é a última fotografia que tenho da minha mãe. Tirada no meu último aniversário. Quando ainda acreditávamos.

publicado às 09:23


8 comentários

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imsilva 28.02.2022

Não poderia ter lido post mais carinhoso, mais bonito do que este. Ficam as memórias e os sentimentos que são para sempre.
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Pedro Correia 28.02.2022

Só agora estou a saber lendo o teu texto, Maria João. Sei bem o que é essa triste e insuperável experiência.
Um beijinho.
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Gata 28.02.2022

Obrigada, Pedro. Beijinhos
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Lamento muito a perda. Só depois de passarmos pela perda do Pai ou da Mãe é que conseguimos perceber... o luto é o tempo para aprendermos a viver com a saudade, a sentir a presença da nossa pessoa querida de forma diferente. Como sei que gosta de ler, deixo sugestões que me ajudaram: "O ano do pensamento mágico", "Notas sobre o luto" e "A ridícula ideia de não voltar a ver-te". Comprei este último livro na véspera de perder o meu pai, enquanto acompanhava os seus últimos dias, à sua cabeceira... chamou-me a atenção o título, que traduzia tão bem o que sentia... a ridícula ideia de não voltar a ver-te!!! Um abraço virtual, Manuela

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