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Vou tentar escrever sobre o filme Ainda Temos o Amanhã sem estragar a experiência a quem ainda não viu. Este é o primeiro filme realizado pela italiana Paola Cortellesi, que é também a atriz principal, interpretando o papel de Delia, mulher nos seus 40 e muitos, mãe de uma rapariga jovem e de dois rapazes crianças, casada com um homem que a maltrata, numa sociedade muito machista, na Itália do pós-guerra, com a guerra ainda muito presente na vida das pessoas que enfrentam sérias dificuldades financeiras. Delia tem vários trabalhos, toma conta da casa e dos filhos, do marido e do sogro acamado, faz das tripas coração para conseguir pôr comida na mesa e, ao final do dia, é muito pouco acarinhada pela sua família. Delia sonha com mais.

Num tom cómico, apesar do tema sério, Ainda Temos o Amanhã é um filme sobre o empoderamento feminino e sobre todas nós, sobretudo sobre as mulheres que se deixam levar pelos arroubos românticos da juventude e acreditam que com elas será diferente, sobre as mulheres que trabalham incansavelmente sem se queixarem, sobre as mulheres que se apagam e abdicam da sua felicidade porque pensam que isso é o melhor para os seus filhos. É comovente ver a maneira como a mãe protege a filha, fazendo tudo para evitar que tenha uma vida igual à sua (as mães, as mães estão sempre lá, a amparar todas as quedas). E ainda que não seja uma obra-prima e me levante algumas questões (tenho algumas reservas, por exemplo, sobre a estetização das cenas de violência doméstica), gostei muito deste filme e, por vários motivos, tenho pensado muitas vezes nele nestes últimos dias. Fica a sugestão.

A propósito:

A Malnascida, um livro também de uma autora italiana, Beatrice Salvioni, sobre a condição feminina, ainda que centrada nas personagens de duas raparigas pré-adolescentes. A ação passa-se nos anos 30, mas o machismo que está lá ainda não se desvaneceu completamente nos nossos dias. Tem ali qualquer coisa de Ferrante. É daqueles livros que se lê num sorvo.

Os Anos Super-8 é um filme da escritora Annie Ernaux a partir dos filmes caseiros feitos pelo seu marido. Ernaux vai comentando o que ali se vê, contando as histórias por trás das imagens. Numa cena estão todos sorridentes, noutra de costas voltadas. De um natal para outro a alegria familiar dá lugar a um casamento destruído. Está disponível no Filmin.

"The only way I know to have a better sex life, or to resume your sex life, is to discuss it", diz o terapeuta Jeffrey Chernin. Já o sabíamos, mas nunca é demais lembrar: é preciso falar sobre as coisas, todas as coisas. Este artigo no NYTimes tem bons conselhos sobre relações (sobretudo sobre relações em crise). Como diz outra das especialistas citadas nesse texto: “Sex is about so much more than just what we do when our pants are off".

publicado às 12:20



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