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"(...) Na verdade, e no limite, qualquer um de nós, tentando, pode ser poeta. Qualquer leitor pode escrever e, de certa forma, ao ler reescreve. A escrita é um dos trabalhos feitos à mão que menos meios requer. Ser-se pintor, escultor, músico, fotógrafo ou realizador de cinema requer seguramente muito mais utensílios. Para se ser poeta não é necessário muita coisa: um lápis, um papel, e uma especial capacidade de observação. O restante é linguagem e oficina. “Aprende acerca de pinheiros com pinheiros, e sobre bamboo com bamboo”, escreveu o mestre japonês Matsuo Bashō. Aprende sobre poemas, com poemas, acrescentaria eu.

Lápis, papel e olhar. É certo que simplifico. O problema começa exactamente nessa especial capacidade para observar. A maior parte de nós passa pelo mundo sem verdadeiramente reparar em nada. Sem destapar. Sem pensamento. Andamos adormecidos, como nenúfares. E os nenúfares são tão superficiais…

A poesia é um despertador extraordinário. Quantos de nós saberiam ver como o poeta norte-americano de origem sérvia Charles Simic que uma pedra não é mais do que “um espelho que funciona mal”? Ou que uma vassoura é “uma árvore no pomar dos desfavorecidos”? Ou como o sueco Tomas Tranströmer que lembrou que uma lagoa é “uma janela para o interior da Terra”? Algum de nós já tinha notado como o poeta norte-americano Billy Collins que a foz de um rio é “o sítio onde o rio perde o seu nome para o mar”?

É precisamente para este tipo de coisas que precisamos de poetas. (...)"

Excerto do discurso de João Luís Barreto Guimarães ao aceitar o prémio de Literatura DST

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publicado às 20:25


5 comentários

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"...A escrita é um dos trabalhos feitos à mão que menos meios requer."
A Poesia é, fundamentalmente, um dom, um condão, uma sina!
https://aquem-tejo.blogs.sapo.pt/alma-de-poeta-12235

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