Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ultimamente tenho recebido muitas indirectas (e algumas directas) sobre o facto de me estar a tornar uma velha. Não sei muito bem como é que isto aconteceu. Num dia era a mais nova na sala, a quem todos chamavam miúda, e no outro estava a perguntar de quem é que vocês estão a falar que eu não conheço esse humorista, nunca ouvi essa música e é claro que não estou no tiktok. Tenho levado isto com alguma leveza e até faço piadas porque, como velha que sou, aprendi há muito tempo que a auto-depreciação é a melhor forma de lidar com os nossos medos e fingir que está tudo bem.
A velhice ataca-nos em duas frentes: no corpo e no espírito. Sobre a velhice do corpo já tenho falado por aqui, mas o que é novo agora é mesmo este sentimento de que estou a ficar velha na cabeça. Ao princípio custou-me um bocadinho. Mas lentamente estou a ficar mais em paz com esta nova situação pois percebi que a verdade é que eu não mudei assim tanto. Continuo com muitas curiosidades sobre o mundo, continuo a querer saber o que se passa, a querer aprender coisas novas e estar a par das novidades - mas só das novidades que me interessam, o que era uma coisa que já me acontecia quando eu era nova. Só que quando eu era nova podiam dizer que era esquisita porque me interessava por coisas diferentes. Agora, como as coisas que me interessam são claramente muito distintas das que interessam aos jovens de 20 anos, sou velha. É o que é. Já estou aceitando.
Nunca é tarde para mudar, dizem-me. Vá lá, não sejas obsoleta, não te deixes ficar para trás. Pois tudo muito bem, mas não vou mudar só por mudar, se não sentir necessidade. Gosto de ler e tenho descoberto novos autores (e até já tenho um kobo que recebi no natal, só ainda não o usei porque tenho livros pendentes em papel), mas não irei ler os livros de young adult nem de fantasia, de que nunca gostei; tenho redes sociais mas não me apanharão a falar para a câmara do telefone e a fazer stories em vídeo; vou a concertos de gente que ainda estou a descobrir mas não vou ouvir coisas que me fazem dor de cabeça; adoro cinema mas não vou ver filmes de terror, que odeio, ainda que estejam na moda; também não vou deixar de escrever mensagens com todas as letras e pontuação e não preciso de telemóveis de última geração nem de relógios que me entregam mensagens, pelo contrário, preciso é de desligar cada vez mais e por isso comprei um relógio de ponteiros. Evoluo, mas noutro sentido. Pura e simplemente deixei de conseguir acompanhar os tempos e estou-me bem nas tintas para isso. Até porque os tempos não são assim tão bons.
Vem isto a propósito do Substack, de que muita gente me fala tanto bem. Eu já quase não uso Facebook, não tenho TikTok, só vou ver o que se passa no Twitter por motivos profissionais e às vezes até me esqueço que existe o Linkedin. A única rede social que me tem entusiasmado é o Instagram, porque gosto de álbuns de fotografias e da possibilidade de fixar momentos e memórias. Andei a cuscar no Substack e é verdade que encontrei algumas pessoas a escreverem muito bem e deu-me assim uma certa nostalgia do "tempo dos blogues". Mas 1) sinceramente, não acredito que o encantamento vá durar muito e não tarda aquilo já vai estar cheio de vídeos e de influencers e de coisas que não me interessam para nada (isso já está a acontecer); e 2) eu nunca deixei o meu blogue, mesmo quando todos os blogues à minha volta foram morrendo, eu mantive-me aqui, porque mais do que aparecer e estar onde os outros estão, eu precisava apenas de um sítio para escrever e para ir arrumando os meus pensamentos. Portanto, não vejo qualquer necessidade de mudar.
Para não dizerem que sou um atraso de vida, aceitei publicar os textos do nosso colectivo - que, a propósito, já tem nome e casa mas ainda não está operacional - no Substack. É a minha evolução. Continuo aqui mas, pontualmente, também por lá. Vamos ver como corre. Nunca digas nunca, não é?
Enquanto pintamos as paredes e aprontamos tudo para a grande inauguração, fazemos à moda antiga. Para encontrarem outros atrasos de vida basta seguir os links: