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O que faz uma pessoa que não pode sair de casa e, estando em casa, nem sequer pode dedicar-se às limpezas? Faz binge-watching, ou seja, vê séries até cair para o lado de exaustão. No meu caso, foram estas três:
The Bear (3ª temporada)
Demorei a entrar na loucura da primeira temporada, parecia que estavam sempre todos aos gritos e o stress era imenso, mas quando entrei adorei. A segunda temporada foi ainda melhor, embora nos sentíssemos a mergulhar cada vez mais fundo na melancolia de Carmy Berzatto. Não sei se estava preparada para os níveis de ansiedade causados por esta terceira temporada. Existe o excelente episódio dedicado a Tina e há um episódio só para o parto (com a cada vez melhor Jamie Lee Curtis), passamos ao de leve pelos dramas de Sidney, de Richie e de Marcus, mas, na verdade, em grande parte do tempo estamos na cabeça de Carmy, na confusa, deprimida e obsessiva cabeça de Carmy. A cozinha é o seu quarto e a comida é o seu oxigénio. Tudo o que se passa ali, entre facas e panelas e condimentos e molhos com nomes esquisitos, é uma consequência (e uma metáfora) do que se passa na sua cabeça. Está tudo ligado e é lindo de uma maneira triste. A cada episódio sentimos o peito mais apertado porque não sabemos se ele vai ser capaz de continuar com o restaurante ou sequer de continuar com a sua vida. A série é muito bem feita. Tudo. O argumento é excelente (o atrevimento de começar a temporada com um episódio quase sem diálogos e, no entanto, faz tanto sentido), os actores são óptimos, a música continua a ser escolhida a dedo. A única crítica a apontar: sabemos que a quarta temporada já foi gravada e parece-me que isso se nota, esta é uma temporada onde o tempo corre muito devagar e onde muito pouco acontece de facto, é como uma pausa, como se estivessem todos a pensar o que irão fazer na temporada seguinte. Não é necessariamente mau. É só muito aflitivo para quem se envolve emocionalmente com as personagens como eu.
Lady in the Lake
Se ignorarmos o horrível genérico (sim, eu vejo o genérico, nem que seja uma vez), o resto é bastante bom. Estamos em Baltimore nos anos de 1960 e temos duas personagens centrais, duas mulheres muitos distintas: Maddie Schwartz (Natalie Portman), judia, privilegiada, casada e com um filho adolescente, dona-de-casa dedicada a eventos de caridade, com "tudo" para ser feliz mas, na verdade, muito infeliz; e Cleo Johnson (Moses Ingram), negra, pobre, com um casamento problemático e dois filhos, trabalha como manequim em lojas de roupa para senhoras ricas e como guarda-livros para um dos big bosses da comunidade negra (e do crime local). As vidas das duas mulheres acabam por se cruzar devido ao homicídio de uma menina. Esta poderia ser uma série sobre um crime, ou até sobre racismo, e também é, mas mais do que tudo é uma série sobre duas mulheres que estão fartas de estarem presas numa vida de que não gostam, que estão fartas de viverem submissas, num mundo masculino e cheio de regras, querem mudar, querem evoluir, querem controlar a sua história. Só que o caminho para lá chegarem não é igual. Gostei muito desta série embora por vezes ficasse um bocadinho farta do egoísmo e egocentrismo de Maddie (também é engraçado ver como são retratados os jornalistas e o desmazelo do trabalho jornalístico, mas pronto, adiante). Se calhar tirávamos aquelas partes dos pesadelos de Maddie e não se perdia nada, não?
The Good Mothers
Um mergulho na 'Ndrangheta, a mafia da região de Calabria, pelos olhos das mulheres: as filhas, as mães, as irmãs e as mulheres dos mafiosos têm um papel secundário na organização criminosa mas são essenciais para manter a cola desta grande "família". Neste mundo absolutamente machista, as mulheres querem-se submissas, donas-de-casa e cuidadoras dos filhos, de lábios pintados para os maridos mas de olhos fechados para os mundo, prontas a levarem uma estalada (ou mais do que isso) sempre que ousarem responder ou desobedecer. "É assim, tens que aceitar", ensinam as mães às filhas. A lealdade - à família e ao chefe da família - é o valor mais importante aqui, mais importante do que o amor, a liberdade, a honestidade, a auto-estima. Mas e se algumas mulheres não quiserem continuar a viver assim? Destaque para as interpretações de Valentina Bellè e Gaia Girace (que conhecemos d'A Amiga Genial). Aconselho muito.