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Quando Cesária Évora recebeu o seu primeiro grande cachet, da gravação do concerto no Olympia de Paris, dirigiu-se ao banco e quis levantar o dinheiro todo. "O dinheiro é meu ou não é meu?", indignou-se perante a recusa inicial do funcionário em dar-lhe tamanha quantia. O dinheiro deveria ser para construir uma casa nova para a cantora, uma vez que aquela onde vivia no Mindelo com a mãe e os filhos estava literalmente a cair aos pedaços. Cesária saiu do banco com um saco de plástico cheio de notas (e deixou lá os familiares a recolherem os restantes sacos), sentou-se no café e começou a pagar rodadas e a dar dinheiro a quem precisava. A casa não foi construída. Viria a cair enquanto a cantora atuava pelos quatro cantos do mundo. Foram precisos muitos mais concertos para que Cesária viesse a ter a sua sonhada casa, onde gostava de estar, descalça e rodeada de amigos e até desconhecidos, logo convidados para se sentarem à mesa e comerem cachupa.
Cesária Évora tinha já 50 anos quando se tornou uma estrela internacional. O documentário de Ana Sofia Fonseca conta-nos um bocadinho da história desta mulher que era livre antes de a liberdade ser uma condição das mulheres, sobretudo das mulheres negras, pobres e nascidas em Cabo Verde. Mostra-nos a sua voz mas também o seu grande coração, a sua teimosia mas também o seu humor, o seu sorriso inconfundível mas também a sua tristeza (e a depressão). Fruto de um minucioso trabalho de pesquisa, o filme tem imagens e sons inéditos e testemunhos de quem a conheceu melhor, tudo isto embalado em mornas e coladeras naquela voz que transpirava Cabo Verde com laivos de whisky e melancolia e cigarros e generosidade.
É capaz de não haver muitas sessões, por isso corram para ver "Cesária Évora".