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Decisão de Partir

Então, foi assim: choveu durante não sei quantos dias e eu estava já a passar-me de não conseguir sair de casa e, então, no domingo, ou no sábado, já não sei, depois do almoço, avisei a minha malta: vou sair. Mas o tempo continuava manhoso, não dava para confiar. Olhei para o relógio, fiz as contas e decidi ir ver o Ela Disse, da Maria Schrader, sobre o caso Weinstein, mas, depois, entrei no metro e, pimbas, senhores passageiros, devido a um incidente na linha azul a circulação encontra-se interrompida, pedimos desculpa pelo incómodo causado. Felizmente, tinha um livro para ler. Ficámos parados durante 40 minutos. Quando cheguei ao cinema, já não dava para ver o Ela Disse (acabei por não chegar a vê-lo de todo), cusquei o telemóvel enquanto estava na fila da bilheteira e optei por Decisão de Partir, do Park Chan-wook, que é um dos mais conhecidos realizadores sul-coreanos, apesar de não ter as melhores recordações do Oldboy, que é um dos seus filmes mais aclamados mas que não faz, de todo, o meu género. Arrisquei. Nada a ver. Este Decisão de Partir é uma história de amor. A atracção entre um detective da polícia e a suspeita de um homicídio que ele está a investigar. Contado de forma vagarosa. Muito bonito. Muito triste. Li algures, depois, que era um thriller. Não diria tanto. Há um mistério para resolver, mas não sei se isso é o mais importante. Gostei muito. É um filme com muitos silêncios, como se as personagens deixassem sempre algo por dizer. Gosto cada vez mais disso.

Os Fabelmans

Um Spielberg é um Spielberg, há coisas com que contamos logo à partida, como aqueles momentos a puxar à lágrima (pelo menos à minha, que é fácil, fácil) e uma qualquer lição no final (geralmente, é uma lição de moral, aqui é uma lição de cinema). Os Fabelmans é uma autobiografia ficcionada do realizador, que nos mostra o início do seu fascínio pelo cinema, as aventuras dos primeiros filmes, feitos na juventude, com a família e os amigos, até à certeza de que queria que aquela paixão se tornasse mais do que um hobby. É, no fundo, também uma história de amor: do amor de Steven Spielberg pelo cinema - e já sabemos que esta é uma história que acaba bem. Pelo meio, há a história da família, com o divórcio dos pais e toda a dor que isso implica, e há o terror do liceu, com cenas de bullying e amores adolescentes. E até há David Lynch. Pronto, não conto mais. Se quiserem saber mais, leiam este texto, escrito por quem sabe. Ou então vão ver, são quase duas horas e meia mas dá para rir e para chorar e é tão fofinho que nem se dá por isso.

Entretanto, também vi:

Pinocchio de Guillermo del Toro (Netflix) - Muito, muito bem feito. Fez-me lembrar as fábulas tragicómicas do Tim Burton. Não é de todo a minha praia mas não custa a ver. 

A Oeste Nada de Novo, de Edward Berger (Netflix) - A história original é de Erich Maria Remarque e já tinha dado origem a um filme americano em 1930. Esta nova versão, alemã, eleva a recriação dos horrores da Primeira Guerra Mundial a um novo patamar (viram o 1917? agora imaginem 265 minutos praticamente só com cenas nas trincheiras e na frente de batalha). Muito violento, explícito, sangrento. Difícil de ver, em determinados momentos. Exactamente como tem de ser, porque nos dias que correm não há como adocicar as guerras. É impossível chegar ao fim sem sentir um grande nojo dos políticos que decidem coisas nos seus gabinetes dourados (sim, estou também a pensar em Putin, mas não só) enquanto milhares de inocentes morrem por coisa nenhuma. 

Glass Onion: A Knives Out Mystery, de  Rian Johnson (Netflix) - Sinceramente? Um aborrecimento. Tanta estrela junta (Edward Norton, Janelle Monáe, Kate Hudson, Daniel Craig - e até Hugh Grant, por breves instantes - são os nomes mais sonantes, e ainda um tal Dave Bautista que eu desconhecia mas que aparentemente também é uma estrela) mas a mim pareceu-me tudo demasiado falso e forçado. Entretanto, já li análises profundíssimas explicando como o filme é uma crítica aos milionários com pés de barro ao estilo Elon Musk e de como tudo aquilo é uma enorme sátira à nossa sociedade de aparências e criptocoisas. Pode até ser. Mas, para mim, não deixa de ser um aborrecimento.

 

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Na foto, Gabriel LaBelle em Os Fabelmans

publicado às 21:59



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