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18
Dez16

Cornucópia (2)

Afinal, tinha ainda mais coisas para dizer sobre a Cornucópia. Estive lá ontem, na despedida, e foi bonito e emocionante. Admiro muito a serenidade e a lucidez de Luís Miguel Cintra e de Cristina Reis. É óbvio que pensaram muito nesta decisão antes de a tomarem. Não é à toa que uma companhia com 43 anos de trabalho decide que não se vai recandidatar aos apoios do Estado e, assim, declara que termina a sua actividade.

Se isto fosse, de facto, uma jogada, como alguns acusam, não o teriam feito assim - o fim foi propositadamente "escondido" num mail enviado à comunicação social há duas semanas, onde se anunciava a récita de ontem. Mesmo quando o assunto começou a ser falado, esta semana, Cintra recusou-se a responder às perguntas dos jornalistas. Só falou na sexta-feira. A despedida era sábado. O prazo para a recandidatura aos subsídios termina na próxima sexta-feira, dia 28. Se fosse uma jogada, seria muito arriscada, não acham? Eles, melhor do que ninguém, sabem que os estatutos de excepção não se cozinham em meia dúzia de dias na semana do natal. 

O que eu senti foi que tanto o Luís Miguel como a Cristina estavam tranquilos com a decisão que tomaram. Tristes mas conscientes de que terminar assim é a melhor maneira de terminar - sem fazer concessões no seu trabalho e sem se endividarem. Estão cansados, disseram-no tantas vezes ontem. O Luís Miguel está bastante debilitado. Não querem continuar nestes moldes e estão no seu direito. 

Estariam dispostos a continuar noutros moldes? Claro que se entra por ali um furacão Marcelo a propor estatutos de excepção e a perguntar "se lhes dessem mais dinheiro vocês continuariam?", até eles ficaram um pouco entusiasmados com a ideia. Quem não ficaria? As televisões a filmar e o professor a querer uma resposta concreta para poder sair dali rapidamente e com a imagem de salvador. Mas é óbvio que os problemas estruturais do teatro português não se resolvem com uma intervenção "espectacular" do Presidente da República (se fosse assim tão simples, alguém já o teria feito). E o que ficou claro, não só naquele momento como depois, em tudo o que foi dito ao longo da tarde (e noite), é que não há tempo e muito provavelmente também não há paciência nem disposição para muito mais negociações. Posso estar enganada, claro, vamos ter que esperar pelos próximos acontecimentos.

Quanto ao resto, os que lá estiveram sabem que assistiram a um momento especial. Mais um naquela casa. 

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(fui roubar esta foto ao instagram da Maria João Costa porque, para mim, é mesmo a melhor)

publicado às 11:59



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