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I
No sábado passado, o Expresso publicou um longo artigo da Cristina Margato sobre a infidelidade a propósito de um livro da psicoterapeuta Esther Perel. O tema é fascinante e não é a primeira vez que penso nele. Se perguntarem aos vossos amigos o que é para eles a infidelidade, que tipo de fidelidade esperam de um companheiro, que tipo de infidelidade estariam dispostos a perdoar, verão como cada um dará uma resposta diferente. Tenho falado disto com algumas pessoas - até porque conheço pessoas que já traíram, outras que já foram traídas, conheço casais que estão juntos e felizes na sua monogamia há muitos anos e outros que têm "relações abertas" e também estão contentes, tenho amigos que se divorciaram por causa de traições e outros cujas relações superaram infidelidades. Este é um assunto em que não há respostas certas ou erradas, cabe a cada pessoa (ou a cada casal) encontrar a solução que mais o (s) satisfaz. Seja como for, é um tema sobre o qual gosto de pensar. Até porque pensar estas questões é também pensar como é que uma relação pode durar para além do desejo inicial e do que é que se alimentam as relações longas.
Se quiserem um resumo do pensamento de Perel sobre o assunto podem ver este vídeo:
Do artigo, retirei este excerto, porque faz todo o sentido para mim neste momento:
Algumas pessoas minimizam o envolvimento sexual ou emocional. "Traí, mas foi só sexo", ou "Sim, saímos, mas nunca fomos para a cama". Normalmente os especialistas concordam que, para a maioria dos seres humanos, é difícil separar as relações sexuais das emocionais. Perel garante: "Os casos extraconjugais são menos sobre sexo e mais sobre desejo: o desejo de se sentir desejado, de se sentir especial, de ser visto e de estar em sintonia, de chamar a atenção. Tudo isto carrega uma excitação erótica que nos faz sentir vivos, renovados, revitalizados. É mais energia do que acção, mais encanto do que coito."
II
Também sublinhei uma frase do antropólogo José Gabriel Pereira Bastos, que defende que há dois tipos de pessoas:
As que se focam, e que querem reconstituir o casal parental; e as que nunca se focam, e estas não saíram da idade do jogo. Ou seja, da adolescência. Não querem o compromisso. As que se focam, quando ficam sozinhas, sentem-se mal. Querem um companheiro ou uma companheira. Já as pessoas que permanecem inconscientemente na idade do jogo ficam mal quando arranjam alguém. Começam a ter saudades do tempo em que tinham cinco amigas ou amigos, e em que para ter sexo bastava telefonar. Se não fosse com uma pessoa era com outra.
Nunca o colocaria com estes termos, como é óbvio, mas eu também já tinha percebido mais ou menos isto - porque o sinto na pele. Há pessoas que vivem bem sozinhas. Eu nem por isso. Gosto de ter os meus momentos a sós, claro. Não digo que não aprecie um dia de completo silêncio. E sobrevivo aos dias de folga e aos dias sem filhos porque tenho as minhas estratégias e amigos que me dão colo, e quando tudo o resto falha enfio-me numa sala escura de cinema ou de teatro e espero que o tempo passe. Mas o que mais custa, verdade seja dita, é a solidão que se sente quando não estamos sozinhos. Ou seja. Mesmo quando tenho os putos (o que é quase sempre), eles fazem-me companhia mas não é com eles que converso sobre os meus dramas e os meus sonhos. Não é com eles que desabafo sobre os problemas no trabalho. Não é com eles que me posso sentar a beber um copo e a deitar conversa fora. E mesmo que eles me ajudem no dia-a-dia, não posso contar com eles para me apoiarem nos momentos realmente difíceis. E mesmo que faça com eles os planos para as férias e decida com eles o que vai ser o jantar, não é a mesma coisa do que fazer planos com um companheiro. E mesmo que eles sejam uns queridos e me dêem muitos beijinhos, não é o mesmo de ser abraçada por alguém que me deseja. Portanto, ainda que eu não esteja efectivamente muito tempo sozinha, a verdade é que me sinto muitas vezes só. Não é o fim do mundo, pois não, mas é algo que mexe comigo. E quando a vida nos corre mal de outras maneiras essa falta sente-se mais.
Eu sou mais feliz quando tenho um amor. E gosto de todas as pequenas coisas e cumplicidades e rotinas e lamechices de ter um parceiro. Dos beijinhos antes de adormecer e de lavarmos a louça juntos, de não conseguirmos decidir onde é que vamos jantar e de ficarmos os dois a ler livros numa esplanada sem sequer falarmos um com o outro. Gosto de me imaginar velhinha e ter alguém a quem dar a mão, mesmo que a tremer.
III
Amar e ser amada. Acho que era isso que eu queria. Há quem lhe chame romantismo. Ou apenas estupidez. Mas mesmo que nunca o tenhamos, podemos desejá-lo, não é?
Nicest Thing, de Kate Nash