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18
Abr25

Despertador

Eu sou das manhãs. Seja a que horas for, mesmo que seja cedo ou muito cedo, acordo com energia e boa disposição. Não preciso daquele tempinho para despertar o corpo, nem necessito de café para ter conversas articuladas. E muitas vezes acordo até antes do despertador. Fresca e pronta para o que vier. De manhã estou no meu melhor. É a melhor altura para trabalhar, para fazer exercício, para pensar, para tomar decisões. 

Fui das manhãs até mesmo quando as noites se tornaram mais desafiantes, naquela altura, quando eles eram bebés, em que havia noites realmente complicadas. Passei muitas horas a dar colo, a dar mama, a cantar canções, a mudar fraldas. Houve noites em que mal dormi e julguei que não ia aguentar. Mas depois, via a luz da manhã começar a entrar pelas frestas da janela, respirava fundo e fazia uma espécie de um restart mental. Bom dia! E de repente o cansaço desaparecia e ia buscar energia sabe-se lá onde. Habituei-me, então, a passar as noites num estado constante de vigília. Ao minímo barulho, ao mais sussurrado "mãe" vindo do quarto ao lado, abria os olhos e ficava operacional. Nesse período tornei-me perita na arte de acordar e voltar a adormecer. Acordar para trocar lençois molhados de xixi ou para avaliar uma febre ou acalmar um filho depois de um pesadelo ou aquecer um copo de leite ou dar espaço para mais um na minha cama. E quando eles começaram a crescer bastava-me ouvir o barulho da porta ou o António a assomar ao meu quarto, "mãe, já cheguei". Nesse estado semi-acordado, tive conversas sérias e até dei raspanetes, mas também dei miminhos, fiz camas para amigos que apareceram sem avisar, tratei bebedeiras e outras maleitas. E no minuto seguinte voltava a dormir como se nada fosse.

Entretanto, já não tenho essa capacidade tão apurada. Mas mesmo agora, em que as noites são desafiantes por outros motivos, em que acordo para ir à casa-de-banho ou por coisa nenhuma, uma vez ou várias vezes, em que volta e meia passo horas a fio em claro a pensar na vida, continuo a ser das manhãs e, embora com mais dificuldade, sou capaz de sorrir ao dia que começa e de levantar-me da cama sem ronha ao primeiro toque do despertador. 

Tudo, menos fazerem-me ficar acordada até muito tarde. Se me querem feliz, não me convidem para tomar um copo, convidem-me antes para um bom pequeno-almoço.

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publicado às 16:58



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