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"A realidade só se mostra quando paramos, quando nos detemos antes de continuarmos", escreve Susana Moreira Marques. Está a falar como jornalista, como observadora, como pessoa que procura histórias e que quer entender o mundo à sua volta. É preciso tempo. Isto aplica-se ao jornalismo mas também à vida. É preciso tempo. Li o Lenços Pretos, Chapéus de Palha e Brincos de Ouro estendida numa espreguiçadeira, à sombra, à beira da piscina num hotel em Évora. Estava imenso calor. Os putos alternavam entre mergulhos para refrescar e ficar no quarto, ao abrigo do ar condicionado, com a cabeça enfiada nos telemóveis. Nas férias não há hora para deitar nem para acordar nem para almoçar. Deixamo-nos ir, simplesmente. Às vezes, entediamo-nos. Estivemos quase sempre calados. Conversávamos sobretudo durante as refeições, eu ri-me das parvoíces infantis deles, eles riram das minhas parvoíces de velha. Jogámos snooker. Tivemos conversas sérias. Achei-os crescidos. Durante uns dias, ali e depois mais a sul, existimos quase fora do mundo. Suspendemos a vida. Como se não houvesse problemas para resolver, como se na semana anterior eu não me tivesse zangado muito por causa de coisas graves, como se três semanas antes eu não estivesse preocupadíssima por causa de outras coisas graves, como se não houvesse decisões importantes a tomar, como se estivesse tudo bem. É esse o fabuloso super-poder das férias. Temos tempo. Para fugir daquilo que somos todos os dias.
E depois continuamos.
O livro é uma reflexão muito importante e bonita sobre o que é isto de ser mulher, a partir da viagem de Maria Lamas, no final dos anos 40, e da sua obra Mulheres do Meu País. Lembrou-me as minhas avós. Fez-me pensar na sorte que temos hoje e no quanto ainda nos falta andar. E fez-me pensar no tempo e na importância de abrandar.