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06
Jul17

Dez anos

Há dez anos, os blogs não eram como agora. Pelo menos que me lembre. Ainda não havia gente que vivia disto, nem posts patrocinados nem agências de comunicação a mandar mails que começam com "cara blogger", os bloggers não era convidados para eventos nem recebiam sapatos pelo correio nem tinham férias pagas. Há dez anos, os blogs eram espaços para escrever e para debater ideias, havia ainda muitos blogs colectivos e havia realmente discussões políticas que passavam por aqui. Os que sonhavam ser escritores publicavam em blogs os seus primeiros contos, os que sonhavam ser opinadores estreavam-se nas crónicas, os que sonhavam ser políticos tiravam o maior partido deste fórum público. Havia alguns blogs mais pessoais, que falavam do quotidiano.

Este começou assim. Em julho. O primeiro texto foi publicado no dia 18 mas andou a ser escrito durante semanas se bem me lembro, não era uma coisa qualquer. O que é que eu esperava disto? Não muito, quer-me parecer. Tal como agora. 2007 foi um desses anos em que sentimos a vida a mudar. Apeteceu-me ter um blog para escrever sem regras, sem editores, sem agenda - sempre soube que não tenho grande veia literária, deus me livre de escrever ficção, mas talvez me descobrisse uma cronista de mão cheia. Não aconteceu. Rapidamente o blog se tornou um diário, um espaço de desabafos, de apontamentos sem a mínima importância, outros que só são importantes para mim. O meu sítio.

No início só disse a meia dúzia de amigos para virem ler isto. Depois uns foram dizendo a outros, começaram a aparecer por aqui amigos mais distantes, a família, os conhecidos e até os desconhecidos, de vez em quando há um texto que é mais partilhado e vem muita gente cá espreitar. Nesses dias fico um bocadinho aflita, é como se de repente uma cambada de estranhos me entrasse pelo porta dentro e eu a pensar que não limpei bem a casa e o que é que eles vão ficar a achar de mim. Hoje já não tenho problemas em que saibam que a Gata sou eu mas achei que seria mais divertido continuar a não assinar. Quem ler com atenção facilmente percebe. Quem sabe sabe, quem não sabe paciência. E também não é como se tivesse assim muitos leitores.

Houve alturas em que, vendo outros blogs a ganharem notoriedade, pensei que poderia esforçar-me para também ser uma blogger como deve ser, mas logo percebi que não tenho feitio para tal. Que não me iria dar prazer e, sinceramente, para fazer coisas de que não gosto já tenho o resto da vida. Só escrevo quando me apetece e sobre o que me apetece. Quando isto for um esforço, será algo completamente diferente.

E por aqui estou há dez anos. Confortavelmente. No meu cantinho. Mesmo que ninguém leia, mesmo que ninguém goste, este sítio tornou-se uma parte da minha vida. Não só porque gosto realmente de escrever aqui - pode não parecer, mas perco mesmo muito tempo a pensar no que vou escrever e na maneira como quero escrever, a escolher as fotos, os links, as frases, posso passar horas nisto até acertar no post tal como o quero publicar (e passo horas a fazer posts que depois acabam por não ser publicados) - mas também porque também gosto muito de vir aqui ler os posts mais antigos. Eu sei que isto é capaz de ser um pouco narcísico, mas este blog é como os meus álbuns de fotografias, uma maneira de eu fixar momentos, pensamentos, sensações, de não me esquecer de algumas coisas e de me organizar por dentro. Escrevo sobre a minha vida, os meus filhos, os livros que leio, os filmes que vejo, aquilo que me preocupa, as coisas boas da vida, algumas coisas menos boas. Escrever para os outros é muito diferente de escrever num caderno, ajuda-me a elaborar melhor as minhas ideias, obriga-me a fundamentar opiniões, a focar-me naquilo que interessa. Também por isso é tão importante escolher bem o que publico. Olhando para trás, há textos que eu hoje escreveria de maneira diferente mas são poucos aqueles que me arrependo de ter escrito ou que sinto como desnecessários. Dentro da futilidade que é ter um diário público, tento encontrar aqui o equilíbrio (o meu equilíbrio) entre o que guardo e o que mostro.

Assim vamos. Enquanto valer a pena.

publicado às 09:34


17 comentários

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vanita 06.07.2017

E eu gosto tanto de te ler. Continua que vais bem :)
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The Daily Miacis 06.07.2017

Engraçado que eu penso muito nessa questão de blogs atuais vs os antigos e vida de blogger. Gostava de viver disso, mas não tenho paciencia nem feitio para tal. Até porque eu não ia conseguir estar a falar de um produto que não me dissesse nada.
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Ana Bravo 06.07.2017

gosto tanto de te vir aqui espreitar :)
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Isabel 06.07.2017

Muitos parabéns pelos 10 anos (:
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P.A 06.07.2017

Belo post! Só podia ser escrito por alguém que de facto tem um historial deste tipo na comunidade, que nos faz reflectir no que é, hoje em dia, um blog no seu verdadeiro sentido e significado
Pelo menos este teu aniversário serviu para eu passar a seguir mais um blog =)
Vamos a mais 10?
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Maria 06.07.2017

Ainda não cheguei aos dez anos, mas ainda fui a tempo de os blogs não serem o que são hoje há oito anos. Ou pelo menos o intuito a que leva alguém hoje em dia a fazer um blog.
Eu já escrevia diários, e no meu caso foi um "trazer" para o virtual um pouco daquilo que fazia.
Agora com o concurso do "Blog do ano" é que se nota o "vendido" que isto está. Chega até para os famosos...
Parabéns. Como costumo dizer, és da velha guarda.
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macacagravaporcima 06.07.2017

"Dentro da futilidade que é ter um diário público, tento encontrar aqui o equilíbrio (o meu equilíbrio) entre o que guardo e o que mostro.

Assim vamos. Enquanto valer a pena"

Same here!

Parabéns pelos 10 anos
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Aninhas 06.07.2017

É bom escrever nem k seja num caderno! Alivia o setress do dia a dia, e alivia-nos a cabeça e o espírito! Continue k só lhe faz bem! Bjnho.
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Maribel Maia 06.07.2017

Parabéns! Que venham mais dez!
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Bruxa Mimi 06.07.2017

Não sou uma leitora assídua deste blogue, mas já cá vim algumas vezes. Resolvi comentar porque me identifiquei com várias partes do que foi escrito, em especial a parte "narcísica" de gostar de ler textos antigos. O meu blogue só tem quatro anos e eu já me perdi nas horas a reler posts de que já não me lembrava, por exemplo, a deliciar-me com a gracinha de um filho (que teria sido esquecida se não tivesse sido registada). Tenho certeza que nunca terei no blogue um(a) leitor(a) mais fiel do que eu!

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