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25
Abr25

Liberdade

Não sei bem quando é que tive consciência do privilégio que é viver em liberdade, como nós vivemos, mas sei que aconteceu muito cedo e que há de ter sido seguramente a partir de conversas com o meu pai, a partir de filmes e séries sobre a escravatura e as ditaduras e as guerras, por causa das aulas de história e dos acontecimentos à minha volta, com a ajuda das músicas que fui ouvindo, dos livros que fui lendo, dos artigos em jornais, das notícias na televisão. Vi o Muro de Berlim a cair em directo e lembro-me de ficar impressionada com a alegria esfuziante daquelas pessoas do Leste. Vi a Praça de Tiananmen. O Mandela a ser libertado e o apartheid a desmoronar-se. Isto tudo aconteceu quando eu estava no liceu. Eu já sabia, mas acho que viver aquelas coisas naquela idade, ao mesmo tempo que me descobria e construía, me tornou ainda mais consciente do que é ser livre. 

Não sei bem quando é que tive consciência de que não era totalmente livre, mas sei que aconteceu muito mais tarde. Não estou a falar da liberdade para fazer tudo o que me dá na real gana sem pensar nas consequências, não é isso. Estou a falar da liberdade como espaço pessoal, íntimo. A liberdade para pensar com o mínimo de amarras. Para ser eu. Sem medo. Sei que não é possível fazê-lo completamente mas é possível caminhar nesse sentido e, de há uns tempos para cá, essa é a minha batalha. Estou ainda muito longe. Estou cada vez mais próxima.

A liberdade é uma luta constante, diz a Angela Davis. É frágil e precisa ser cuidada todos os dias. Seja com actos heróicos, com palavras ou até "só" com a nossa consciência. 

É por isso que, não desmerecendo o Zeca, o Sérgio, a Garota e todas as outras músicas que canto emocionada, acabo sempre por voltar aqui:

Nina Simone, I wish I knew how it feels to be free

*

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A foto não é de hoje, mas o sentimento é o de sempre.

*

A liberdade também está a passar por aqui:

publicado às 11:51



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